Após atravessarmos a
Primeira Revolução Industrial no século XVIII, a Segunda Revolução Industrial na
transição do século XIX para o século XX e, mais recentemente, na segunda
metade do século XX, a Terceira Revolução Industrial, da computação e da
internet, eis que surge, nos dias de hoj, a Quarta Revolução Industrial, também
conhecida como “Indústria 4.0”, que está a transformar economias, empregos, e
até a própria sociedade. Trata-se da revolução da digitalização massiva, da
“Internet of Things”, da aprendizagem automática (machine learning) e da robotização, como também da nanotecnologia e
dos novos materiais, e da biotecnologia. Ou seja, estamos nesta ocasião a atravessar
um período marcado pelas tecnologias que fundem os mundos digital, físico e
biológico. A quarta revolução industrial terá um impacto monumental na economia
global, sendo que todas as grandes variáveis macroeconómicas, como o PIB,
investimento, consumo, emprego, comércio, inflação, etc., serão afetadas.
Assim como as revoluções
que a precederam, a Quarta Revolução Industrial tem o potencial de aumentar os
níveis de rendimentos globais e melhorar a qualidade de vida das populações em
todo o mundo. Até hoje, aqueles que mais ganharam foram os consumidores capazes
de pagar e aceder ao mundo digital. A tecnologia tornou possível a criação de
novos produtos e serviços que aumentam a eficiência e a satisfação das nossas
vidas pessoais. Tarefas como chamar um táxi, marcar um voo, comprar um produto,
fazer um pagamento, ouvir música ou ver um filme, hoje em dia, podem ser feitas
remotamente.
No futuro, a inovação
tecnológica irá também levar a um “milagre” do lado da oferta, com ganhos de
longo prazo na eficiência e na produtividade. Os custos de transporte e
comunicação irão cair, as cadeias de oferta globais e de logística tornar-se-ão
mais eficientes, e os custos do comércio irão diminuir, fazendo com que surja a
abertura de novos mercados, levando ao crescimento económico.
Simultaneamente, esta
revolução pode também gerar maior desigualdade, particularmente dado o seu
potencial para extinguir certos mercados de trabalho. À medida que a automação
substitui a mão-de-obra ao longo da economia global, a substituição dos
trabalhadores pelas máquinas pode exacerbar a lacuna entre os retornos do
capital e os retornos do trabalho.
Neste momento, não é
possível prever qual é o cenário que tem maior probabilidade de emergir. No
entanto, estou convencida que, no futuro, o talento, mais do que o capital, irá
representar o fator crítico da produção. Isto irá dar origem a um mercado de trabalho
cada vez mais diferenciado em “low-skill/low-pay” e “high-skill/high-pay”, o
que irá levar a um aumento das tensões sociais.
Este crescimento da
automação está associado à contínua pressão da concorrência no contexto da
globalização. As empresas estão a ser fortemente pressionadas para atingirem
níveis mais elevados de produtividade e reduzirem os custos. A concorrência
impulsiona as empresas e o setor de investigação e desenvolvimento (I&D) a
procurar novas tecnologias de produção com vista a criar oportunidades para que
as empresas aumentem a sua produtividade e competitividade.
As mudanças tecnológicas
deram origem a ganhos de produtividade enormes que, até à data, têm agravado a
desigualdade a nível do rendimento. Dado que o risco económico e político do
aumento da desigualdade é desde já evidente, a forma de abordar o desafio a
nível da distribuição dos ganhos de produtividade constituirá um elemento
importante para moldar o futuro do trabalho e da sociedade.
Nem a tecnologia, nem a separação
que está associada a ela, vêm como uma força exógena sobre a qual os humanos
não têm controlo. Todos nós somos responsáveis por guiar a evolução da
tecnologia, nas decisões que tomamos no dia-a-dia como cidadãos, consumidores e
investidores. Portanto, devemos aproveitar a oportunidade e o poder que temos
para dar forma à Quarta Revolução Industrial e direcioná-la para um futuro que
reflita os nossos valores e objetivos comuns. É necessário moldar um futuro que
funcione para todos nós, colocando as pessoas em primeiro lugar e capacitando-as.
No cenário mais pessimista e desumano, a Indústria 4.0 pode efetivamente
“robotizar” a humanidade. Todavia, pode ser um complemento às melhores partes
da natureza humana – criatividade, empatia, organização – levando a humanidade
a uma nova consciencialização.
Inês
Azevedo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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