terça-feira, 13 de novembro de 2018

COMÉRCIO EXTERNO EM PORTUGAL - Mudanças causadas pela Adesão à CEE ; Indústrias, Parceiros Comerciais e Isolamento

A performance do comércio externo em Portugal no período de 1986-1992 é ambivalente, e justamente por esta razão digna de interesse: se a abertura da economia Portuguesa em 1986 representou um passo (em termos de relações comerciais) em direção aos seus parceiros europeus, também é lícito dizer que selou seu distanciamente face ao resto do mundo, criando dificuldades para ampliar o alcance de suas exportações. Se é fato que se beneficiou do acesso irrestrito a produtos originários dos parceiros da CEE,  também é verdade que não houve uma contrapartida  da mesma participação de produtos portugueses no mercado interno.[1]
Há inegavelmente um salto de crescimento no número de exportações em relação ao produto interno, principalmente atribuído à abertura da economia. Neste sentido, destacaram-se as indústrias tradicionais de exportação (têxteis, calçados e vestuário). Há, por outro lado, e pelo mesmo motivo, um crescimento ainda maior no nível de importações. No que diz respeito às exportações, seu crescimento deu-se apesar da valorização do escudo observada no período, sobretudo, diga-se, em relação à peseta espanhola. Este último facto ajuda a explicar o aumento sem precendentes das importações  supracitado, uma vez que a maior parte dos produtos era de origem espanhola.
Tendo isso em mente, se constata que a competitividade-preço das exportações portuguesas não foi o fator a pronunciar  a melhoria global observada nas exportações, de forma que os resultados positivos no setor  podem ser provavelmente “imputados a fatores de outra ordem, notadamente à melhora das condições de oferta advindas da modernização industrial, parcialmente financiados por investimentos diretos estrangeiros.” [2]
No âmbito de transições de parceiros já relatadas, há que se destacar a intensificação das relações luso-hispânicas do que diz respeito ao comércio. Os dois países, apesar de vizinhos, não possuíam relações comerciais intensas antes da adesão devido à existência de barreiras tarifárias. A partir de 1986, com a entrada concomitante dos dois membros, há o desaparecimento deste obstáculo, e uma participação crescente do país vizinho tanto nas exportações como importações, como demonstrado no gráfico abaixo. É possível observar também uma participação decrescente dos Estados Unidos como parceiro comercial, em detrimento ao mercado europeu.
Nos gráficos a seguir[3] é possível visualizar a evolução dos principais parceiros de comércio de Portugal em período imediatamente anterior à adesão e sua posterior evolução. Como consequência da abertura ao exterior e dos investimentos diretos estrangeiros, observa-se nesse período uma transição da indústria tradicional – e com menor especialização tecnológica – refletindo a tendência dos investidores estrangeiros no que diz respeito aos produtos de exportação, sobretudo após 1995, com o funcionamento da Autoeuropa. Outro motivo para a transição observada situa-se na diminuição de taxas de importação de países menos desenvolvidos (sobretudo, países asiáticos) por parte dos mais desenvolvidos a partir do “Acordo Sobre Têxteis e Vestuário”, em 1994.
Em termos práticos, Portugal teve de fazer face aos seus concorrentes da CEE (mais desenvolvidos tecnologicamente) e de indústrias asiáticas (com maior potencial preço-competitividade) ao mesmo tempo em que sofria as consequências de ter se centrado em uma economia que não exigia mão-de-obra especializada nem modernizações a fim de assegurar sua competitividade nacional, para além de ter consolidado uma certa dependência comercial dos seus parceiros comunitários.
É indiscutível a intensificação das relações comerciais pós-adesão à CEE e as vantagens decorrentes da mesma. Resta questionar se o preço pago fez jus aos benefícios.

Marcelo Amaro Guimarães

I.  Evolução das exportações portuguesas entre 1985 - 1988.

(1985)




(1987)


(1988)





[1]
                AMADOR, João ; CALDEIRA CABRAL, Manuel (2014) “A Economia Portuguesa na União Europeia 1986-2010)”, p.189

[2]
               Études économiques de l'OCDE : Portugal 1989

[3]
               Dados retirados do “Center of International Data” ; “World Import and Export Data”.


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho

Sem comentários: