A
performance do comércio externo em
Portugal no período de 1986-1992 é ambivalente, e justamente por esta razão
digna de interesse: se a abertura da economia Portuguesa em 1986 representou um
passo (em termos de relações comerciais) em direção aos seus parceiros
europeus, também é lícito dizer que selou seu distanciamente face ao resto do
mundo, criando dificuldades para ampliar o alcance de suas exportações. Se é
fato que se beneficiou do acesso irrestrito a produtos originários dos
parceiros da CEE, também é verdade que
não houve uma contrapartida da mesma
participação de produtos portugueses no mercado interno.[1]
Há
inegavelmente um salto de crescimento no número de exportações em relação ao
produto interno, principalmente atribuído à abertura da economia. Neste sentido,
destacaram-se as indústrias tradicionais de exportação (têxteis, calçados e
vestuário). Há, por outro lado, e pelo mesmo motivo, um crescimento ainda maior
no nível de importações. No que diz respeito às exportações, seu crescimento
deu-se apesar da valorização do escudo observada no período, sobretudo, diga-se,
em relação à peseta espanhola. Este último facto ajuda a explicar o aumento sem
precendentes das importações supracitado,
uma vez que a maior parte dos produtos era de origem espanhola.
Tendo
isso em mente, se constata que a competitividade-preço das exportações
portuguesas não foi o fator a pronunciar
a melhoria global observada nas exportações, de forma que os resultados
positivos no setor podem ser
provavelmente “imputados a fatores de outra ordem, notadamente à melhora das
condições de oferta advindas da modernização industrial, parcialmente
financiados por investimentos diretos estrangeiros.” [2]
No
âmbito de transições de parceiros já relatadas, há que se destacar a
intensificação das relações luso-hispânicas do que diz respeito ao comércio. Os
dois países, apesar de vizinhos, não possuíam relações comerciais intensas
antes da adesão devido à existência de barreiras tarifárias. A partir de 1986,
com a entrada concomitante dos dois membros, há o desaparecimento deste
obstáculo, e uma participação crescente do país vizinho tanto nas exportações
como importações, como demonstrado no gráfico abaixo. É possível observar também
uma participação decrescente dos Estados Unidos como parceiro comercial, em
detrimento ao mercado europeu.
Nos
gráficos a seguir[3]
é possível visualizar a evolução dos principais parceiros de comércio de
Portugal em período imediatamente anterior à adesão e sua posterior evolução.
Como consequência da abertura ao exterior e dos investimentos diretos
estrangeiros, observa-se nesse período uma transição da indústria tradicional –
e com menor especialização tecnológica – refletindo a tendência dos investidores
estrangeiros no que diz respeito aos produtos de exportação, sobretudo após
1995, com o funcionamento da Autoeuropa. Outro motivo para a transição
observada situa-se na diminuição de taxas de importação de países menos
desenvolvidos (sobretudo, países asiáticos) por parte dos mais desenvolvidos a
partir do “Acordo Sobre Têxteis e Vestuário”, em 1994.
Em
termos práticos, Portugal teve de fazer face aos seus concorrentes da CEE (mais
desenvolvidos tecnologicamente) e de indústrias asiáticas (com maior potencial
preço-competitividade) ao mesmo tempo em que sofria as consequências de ter se
centrado em uma economia que não exigia mão-de-obra especializada nem
modernizações a fim de assegurar sua competitividade nacional, para além de ter
consolidado uma certa dependência comercial dos seus parceiros comunitários.
É
indiscutível a intensificação das relações comerciais pós-adesão à CEE e as
vantagens decorrentes da mesma. Resta questionar se o preço pago fez jus aos
benefícios.
Marcelo
Amaro Guimarães
I. Evolução das exportações portuguesas entre
1985 - 1988.
(1985)
(1987)
(1988)
AMADOR, João ; CALDEIRA CABRAL, Manuel (2014)
“A Economia Portuguesa na União Europeia 1986-2010)”, p.189
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho
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