Vivemos atualmente num
século onde a dependência das tecnologias é enormíssima, apresentando-se mesmo
sobre a forma de um novo paradigma social. Como exemplo, em Janeiro de 2015, o Boston Consulting Group, levou a cabo um
inquérito a residentes da Alemanha, Brasil Coreia do Sul, China e EUA, com a
seguinte questão: “De qual das seguintes coisas abdicaria durante um ano em vez
de desistir do uso do telemóvel?”. 64 % abdicariam de jantar fora, 50% de ir de
férias, 45% de estar pessoalmente com amigos e 38% abdicaria de ter relações
sexuais.
É facilmente observável a
conetividade dos mais jovens com o uso de tablets,
smartphones, computadores, etc. Enquanto
a Lei de Moore se perpetuar, a dissipação, adoção e implementação destes novos
avanços será exponencial. O problema corrente encontra-se na capacidade de
adaptação. Eric Teller, diretor da Google X, defende que a capacidade de
adaptação do ser humano, não é capaz de acompanhar os presentes fluxos
tecnológicos. Estima-se que, em média, um médico de cuidados primários
necessita de 630 horas de leitura por mês para acompanhar avanços literários na
sua área de especialização (Friedman, 2016).
Face ao problema, a
solução sucinta é uma – Inteligência Artificial (IA). Esta é uma “máquina de
aprendizagem”, que recorre a algoritmos que num cenário de tentativa-erro
descodifica padrões e interioriza-os para estes serem aplicados em previsões e
decisões futuras. Contudo, se o objetivo primário das IAs é eliminar
ineficiências, a sua aplicação também será visada ao mercado de trabalho. De
forma a representar estes efeitos, recorro a um modelo do enviesamento dos
avanços tecnológico no mercado de trabalho de Giovanni:
HH encontra-se à direita de LL, visto exigir
bens intensivos em tecnologia. Dado o avanço exponencial tecnológico (Moore
1965), existirá um influxo de investimento no capital destinado à proliferação
destas tecnologias. A absorção de capital resultará de uma transferência de
fundos disponíveis de setores menos especializados para setores mais
especializados. De forma a operar este novo capital existente, existirá uma
procura em mão-de-obra qualificada, aumentando progressivamente do “gap”
salarial entre o setor qualificado e não qualificado.
Até ao momento, na
generalidade dos setores, sempre foi necessário a intervenção de capital humano,
conjuntamente com o capital investido, para a produção do bem final, por
exemplo, operários em fábricas pós primeira e segunda revolução industrial
sempre foram necessários para manusear a maquinaria. O problema insere-se no
facto de esta “maquinaria” se automatizar, deixando o trabalho do operário
obsoleto.
Apesar da conotação negativa dos efeitos acima
apresentados, acredito que seja possível uma transação equilibrada. O esforço
terá de ser conjunto, começando pela sensibilização correta e concreta quanto
ao assunto, o que na realidade não ocorre. Por exemplo, praticamente todos nós
utilizamos redes sociais no dia-a-dia sem sequer perceber como realmente
funcionam. Aceitamos “termos e condições” sem sequer os ler, onde até as
próprias entidades reguladoras não os interpretam corretamente. Como exemplo, é
só observar a desinformação da maioria
de congressistas americanos na audiência de Mark Zuckerberg relativamente ao
escândalo da Cambridge Analytica.
Mais concreto, em Portugal, é a contínua “rixa” existente entre taxistas e a
plataforma uber.
O avanço tecnológico é benéfico,
mas à velocidade a que está a avançar, se a responsabilização social não for
firme, os desajustamentos serão graves.
Luan Fermino Pires
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário