domingo, 11 de novembro de 2018

Avanços tecnológicos e capacidade adaptativa

Vivemos atualmente num século onde a dependência das tecnologias é enormíssima, apresentando-se mesmo sobre a forma de um novo paradigma social. Como exemplo, em Janeiro de 2015, o Boston Consulting Group, levou a cabo um inquérito a residentes da Alemanha, Brasil Coreia do Sul, China e EUA, com a seguinte questão: “De qual das seguintes coisas abdicaria durante um ano em vez de desistir do uso do telemóvel?”. 64 % abdicariam de jantar fora, 50% de ir de férias, 45% de estar pessoalmente com amigos e 38% abdicaria de ter relações sexuais.
É facilmente observável a conetividade dos mais jovens com o uso de tablets, smartphones, computadores, etc. Enquanto a Lei de Moore se perpetuar, a dissipação, adoção e implementação destes novos avanços será exponencial. O problema corrente encontra-se na capacidade de adaptação. Eric Teller, diretor da Google X, defende que a capacidade de adaptação do ser humano, não é capaz de acompanhar os presentes fluxos tecnológicos. Estima-se que, em média, um médico de cuidados primários necessita de 630 horas de leitura por mês para acompanhar avanços literários na sua área de especialização (Friedman, 2016).
Face ao problema, a solução sucinta é uma – Inteligência Artificial (IA). Esta é uma “máquina de aprendizagem”, que recorre a algoritmos que num cenário de tentativa-erro descodifica padrões e interioriza-os para estes serem aplicados em previsões e decisões futuras. Contudo, se o objetivo primário das IAs é eliminar ineficiências, a sua aplicação também será visada ao mercado de trabalho. De forma a representar estes efeitos, recorro a um modelo do enviesamento dos avanços tecnológico no mercado de trabalho de Giovanni:


 

 HH encontra-se à direita de LL, visto exigir bens intensivos em tecnologia. Dado o avanço exponencial tecnológico (Moore 1965), existirá um influxo de investimento no capital destinado à proliferação destas tecnologias. A absorção de capital resultará de uma transferência de fundos disponíveis de setores menos especializados para setores mais especializados. De forma a operar este novo capital existente, existirá uma procura em mão-de-obra qualificada, aumentando progressivamente do “gap” salarial entre o setor qualificado e não qualificado.
Até ao momento, na generalidade dos setores, sempre foi necessário a intervenção de capital humano, conjuntamente com o capital investido, para a produção do bem final, por exemplo, operários em fábricas pós primeira e segunda revolução industrial sempre foram necessários para manusear a maquinaria. O problema insere-se no facto de esta “maquinaria” se automatizar, deixando o trabalho do operário obsoleto.
 Apesar da conotação negativa dos efeitos acima apresentados, acredito que seja possível uma transação equilibrada. O esforço terá de ser conjunto, começando pela sensibilização correta e concreta quanto ao assunto, o que na realidade não ocorre. Por exemplo, praticamente todos nós utilizamos redes sociais no dia-a-dia sem sequer perceber como realmente funcionam. Aceitamos “termos e condições” sem sequer os ler, onde até as próprias entidades reguladoras não os interpretam corretamente. Como exemplo, é só observar a desinformação da maioria de congressistas americanos na audiência de Mark Zuckerberg relativamente ao escândalo da Cambridge Analytica. Mais concreto, em Portugal, é a contínua “rixa” existente entre taxistas e a plataforma uber.
O avanço tecnológico é benéfico, mas à velocidade a que está a avançar, se a responsabilização social não for firme, os desajustamentos serão graves.

Luan Fermino Pires

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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