“Portugal é um país de futebol” - esta é
certamente uma ideia que já assentou na mentalidade tanto de muitos portugueses
quanto de estrangeiros. Claramente, quando se junta simultaneamente as palavras
desporto e Portugal, associa-se imediatamente ao futebol, que efetivamente
merece destaque, sendo uma atividade com muito dinamismo e com um enorme
impacto na sociedade portuguesa, quer seja pelo contínuo sucesso da seleção
nacional ou pelo facto de termos imensos prodígios da área, não faltando a
memória o Cristiano Ronaldo, nomeado melhor jogador do mundo.
Porém, os atributos do país no desporto
vão para além do futebol e das incontestáveis qualidades e talentos dos nossos
desportistas, sendo possível enumerar diversos desportos nos quais Portugal
também se destaca pelas próprias particularidades e caraterísticas do país. Com
mais de 800 quilómetros de costa, Portugal destaca-se também em diversos desportos
marítimos, como o surf, que em 2017
em somente 11 dias gerou 14 milhões de euros para a economia local, com
uma taxa de ocupação de quase 100% nos hotéis e restaurantes devido à
concretização do mundial de surf, em
Peniche. Não obstante, as qualidades não residem somente no Mar português. A beleza
das paisagens únicas de Portugal, aliadas a um clima ameno, deram ao país o
título de Melhor Destino Mundial de Golf nos World Golf Awards, entre 2014 e 2018, atraindo anualmente cerca de
300 mil golfistas de todo o mundo, com uma receita de 120 milhões de euros.
As peculiaridades de Portugal por si só
são suficientes para tornar o país um destino sublime para o turismo, o que
justifica o contínuo crescimento deste setor, que continua a ser menosprezado
relativamente a outros segmentos. A enorme relevância de Portugal na área do
desporto é certamente um motivo de ostentação, contribuindo para o destaque e
valorização do país enquanto destino turístico. Assim, da aliança entre o
turismo e o desporto surge o Turismo de Desporto, que retrata o conjunto de
práticas onde estes segmentos se tornam complementares, podendo subdividir-se
em turismo de prática desportiva ou turismo de espetáculo desportivo, sendo que
o turista atua de forma ativa como praticante ou de forma passiva como
espetador, respetivamente.
Dada
a abrupta força do desporto enquanto mobilizador de público, considero que o
sucesso em diversas áreas desportivas é, de forma direta ou indireta, uma
excelente estratégia de marketing, dado que, para além de permitir uma maior
visibilidade do país perante o estrangeiro, atrai pessoas de todos os recantos
como praticantes de turismo desportivo. Um ótimo exemplo é o Euro 2004,
realizado em Portugal, que, para além das receitas diretas que proporcionou,
contribuiu da mesma forma para a promoção do país no exterior. Adicionalmente,
o turismo desportivo, quando aliado a uma oferta turística de qualidade,
permite acrescer o fluxo turístico, visto que pode suscitar nos turistas o
desejo de voltar a Portugal no intuito de revisitar e aprofundar o conhecimento
sobre o património, a cultura e tradição portugueses. Torna-se relevante enfatizar
a qualidade dos produtos de turismo desportivo, bem como de outros
complementares, como o alojamento, os acessos, a gastronomia e até a animação
turística.
Na
minha perspetiva, o dinamismo do turismo de desporto tem simultaneamente
impactes positivos e negativos para a economia e para a sociedade envolvente.
Primeiramente, um dos aspetos positivos que pode surgir é o uso eficiente do
excedente territorial, de tal forma que permite tirar proveito de espaços sem
uso ou até abandonados, além de possibilitar o desenvolvimento e melhoria da
construção de infraestruturas, nomeadamente de complexos desportivos, e também
de espaços naturais. Adicionalmente, tem também um efeito benéfico para a
identidade e espírito da comunidade afetada, permitindo a propagação da cultura
e tradição da população local.
O
turismo desportivo tem também um contributo económico para o desenvolvimento
local, não só pela capacidade de marketing, como supramencionado, mas também
por permitir a manutenção e criação de emprego, contribuindo para a redução do
desemprego. No entanto, é necessário sublinhar que esta atração de
oportunidades de emprego pode conduzir à destruição das comunidades
tradicionais e perturbar o equilíbrio da economia local. Além disso, tanto a
proximidade de infraestruturas desportivas importantes como a realização de
eventos pode conduzir à inflação dos preços, o que por sua vez pode causar uma
certa pressão financeira sobre os residentes locais.
No
que diz respeito ao âmbito sociocultural, pode causar a perda da identidade
cultural e de património. Adicionalmente, eventos desportivos tendencialmente
dão origem a desordem, incitada pelas multidões, podendo em determinados casos
estar relacionado com tensões sociais e, consequentemente, criar conflitos de
teor violento, o que incita uma preocupação com a criminalidade e implica a
necessidade de um maior controlo de segurança de forma a combater este possível
desfecho.
Em
suma, em Portugal, o turismo de desporto reúne as condições essenciais para um
bom desenvolvimento económico e social. Desta forma, este mercado assume
extrema relevância, não só pela capacidade de atração de turistas de forma
direta assim como forma de promoção, fornecendo visibilidade a um determinado
destino ou contexto turístico. Porém, é crucial reconhecer e usufruir
eficientemente dos recursos do país, de forma retirar o maior aproveitamento
dos mesmos e, para tal, é necessário aliar esse uso à qualidade da oferta dos
produtos, que possibilitem a ascensão do segmento do turismo desportivo e
promovem o destino em si, sem perturbar a identidade cultural e patrimonial do
país.
Daniela
Araújo Azevedo
Sem comentários:
Enviar um comentário