quinta-feira, 1 de novembro de 2018

Portugal é um investimento de qualidade

O dia 12 de outubro ficará marcado como o dia em que a Moody’s retirou finalmente Portugal do nível de “lixo financeiro”. Após sete anos, o país é agora para esta agência de rating um investimento de qualidade, deixando de ser um mero investimento especulativo.
A história entre Portugal e a Moody’s é já longa e é marcada pela elevada desconfiança da agência para com a conjuntura económica do país. Tudo começou a 5 de julho de 2011, aquando do pedido de resgate financeiro pelo governo de José Sócrates. A Moody’s atirava então Portugal para a classificação de lixo financeiro.
Assim, esta foi a primeira agência de notação financeira a colocar Portugal nesse patamar, seguindo-se a Fitch e a Standard & Poor’s. Apenas a agência canadiana DBRS não classificou o país de “lixo” durante todo este tempo, o que permitiu que continuássemos nos mercados financeiros até agora.
Conhecida por ser mais cautelosa e conservadora, a Moody’s quis estar segura de que a trajetória de melhoria da economia portuguesa iria continuar e, apesar de há já um ano atrás ter mudado o outlook do país para positivo, só agora é que reviu o rating.
Na minha perspetiva, esta decisão da Moody’s é muito positiva e só peca por ser um pouco tardia, uma vez que já há algum tempo que o país tem apresentado uma conjuntura económica favorável e indicadores que demonstram um crescimento sólido.
Prova disso é a de que há mais de um ano que Portugal possui ratings positivos por parte das outras três agências, fazendo da Moody’s a única que ainda não tinha revisto em alta tal indicador. Como tal, as demais agências viram que, na verdade, o país tem apresentado motivos mais do que suficientes para ser considerado um investimento de qualidade.
Segundo dados do INE, a dívida pública tem baixado nos últimos anos (atingiu o pico em 2014, com 130,6% do PIB, e em 2017 já tinha baixado para os 124,2%) e a tendência, segundo analistas, é de assim continuar. A Moody’s assim o confirmou aquando desta elevação do rating, dizendo que a dívida está a caminhar para uma descida sustentável e com limitados riscos de se vir a reverter, prevendo um rácio da dívida sobre o PIB de 116% em 2021.
Convém ainda destacar o combate ao défice orçamental, cujo indicador se tem mantido em consonância com o que é exigido pela Comissão Europeia, estando bem abaixo dos 3% (com algumas oscilações ocasionais, mas a tendência é a de decréscimo). Para o presente ano, o Banco de Portugal prevê que o objetivo do atual governo seja exequível, podendo assim o défice chegar aos 0,7% do PIB, pelo que, caso isto se concretize, Portugal ficará muito perto de igualar o valor das receitas e das despesas, aproximando-se então o fim dos sucessivos défices orçamentais.
O Orçamento do Estado era um dos motivos para esta desconfiança por parte da Moody’s, contudo, agora que o Orçamento para o próximo ano começou a ser discutido, a agência considerou que o país era já merecedor de uma maior confiança e, como tal, viu o nível de rating aumentado.
Não podemos também deixar de falar da melhoria das contas externas. Há muito que o saldo da balança comercial se tem vindo a consolidar, com os últimos anos a serem marcados por excedentes que, ao que parece, tendem a aumentar. Apesar de tanto as exportações como as importações terem estado a subir em termos de valor, a verdade é que o crescimento das primeiras é suficiente para fazer face ao que o país adquire do estrangeiro.
A resiliência da economia nacional é merecedora de destaque uma vez que, segundo o INE, o PIB nacional, em termos reais, atingiu uma taxa de crescimento que já não se via há 17 anos, ficando-se pelos 2,52% em 2017, com a riqueza nacional a atingir valores bem semelhantes aos registados antes da crise económica que assolou o país.
Finalmente, temos Portugal em pleno nos mercados financeiros, provando o tão conhecido ditado popular de que quem espera sempre alcança. É com mérito próprio que tal acontece, provando que este é o caminho que deveremos continuar a seguir. É certo que ainda nem tudo é perfeito, mas a verdade é que este acontecimento beneficiará e muito a confiança dos mercados para com o país nos mais variados níveis. Só nos resta esperar para ver a bonança.

Andreia Filipa Teixeira Barbosa

Referências:
- Instituto Nacional de Estatística (INE)
- Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP)
- Banco de Portugal
- Jornal Público
- Moody’s

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: