O dia 12 de outubro
ficará marcado como o dia em que a Moody’s retirou finalmente Portugal do nível
de “lixo financeiro”. Após sete anos, o país é agora para esta agência de rating um investimento de qualidade,
deixando de ser um mero investimento especulativo.
A história entre Portugal
e a Moody’s é já longa e é marcada pela elevada desconfiança da agência para
com a conjuntura económica do país. Tudo começou a 5 de julho de 2011, aquando
do pedido de resgate financeiro pelo governo de José Sócrates. A Moody’s
atirava então Portugal para a classificação de lixo financeiro.
Assim, esta foi a
primeira agência de notação financeira a colocar Portugal nesse patamar,
seguindo-se a Fitch e a Standard & Poor’s. Apenas a agência canadiana DBRS
não classificou o país de “lixo” durante todo este tempo, o que permitiu que
continuássemos nos mercados financeiros até agora.
Conhecida por ser mais
cautelosa e conservadora, a Moody’s quis estar segura de que a trajetória de
melhoria da economia portuguesa iria continuar e, apesar de há já um ano atrás
ter mudado o outlook do país para
positivo, só agora é que reviu o rating.
Na minha perspetiva, esta
decisão da Moody’s é muito positiva e só peca por ser um pouco tardia, uma vez
que já há algum tempo que o país tem apresentado uma conjuntura económica
favorável e indicadores que demonstram um crescimento sólido.
Prova disso é a de que há
mais de um ano que Portugal possui ratings
positivos por parte das outras três agências, fazendo da Moody’s a única que
ainda não tinha revisto em alta tal indicador. Como tal, as demais agências
viram que, na verdade, o país tem apresentado motivos mais do que suficientes
para ser considerado um investimento de qualidade.
Segundo dados do INE, a
dívida pública tem baixado nos últimos anos (atingiu o pico em 2014, com 130,6%
do PIB, e em 2017 já tinha baixado para os 124,2%) e a tendência, segundo
analistas, é de assim continuar. A Moody’s assim o confirmou aquando desta
elevação do rating, dizendo que a
dívida está a caminhar para uma descida sustentável e com limitados riscos de
se vir a reverter, prevendo um rácio da dívida sobre o PIB de 116% em 2021.
Convém ainda destacar o
combate ao défice orçamental, cujo indicador se tem mantido em consonância com
o que é exigido pela Comissão Europeia, estando bem abaixo dos 3% (com algumas
oscilações ocasionais, mas a tendência é a de decréscimo). Para o presente ano,
o Banco de Portugal prevê que o objetivo do atual governo seja exequível,
podendo assim o défice chegar aos 0,7% do PIB, pelo que, caso isto se
concretize, Portugal ficará muito perto de igualar o valor das receitas e das despesas,
aproximando-se então o fim dos sucessivos défices orçamentais.
O Orçamento do Estado era
um dos motivos para esta desconfiança por parte da Moody’s, contudo, agora que
o Orçamento para o próximo ano começou a ser discutido, a agência considerou
que o país era já merecedor de uma maior confiança e, como tal, viu o nível de rating aumentado.
Não podemos também deixar
de falar da melhoria das contas externas. Há muito que o saldo da balança
comercial se tem vindo a consolidar, com os últimos anos a serem marcados por excedentes
que, ao que parece, tendem a aumentar. Apesar de tanto as exportações como as
importações terem estado a subir em termos de valor, a verdade é que o
crescimento das primeiras é suficiente para fazer face ao que o país adquire do
estrangeiro.
A resiliência da economia
nacional é merecedora de destaque uma vez que, segundo o INE, o PIB nacional,
em termos reais, atingiu uma taxa de crescimento que já não se via há 17 anos,
ficando-se pelos 2,52% em 2017, com a riqueza nacional a atingir valores bem
semelhantes aos registados antes da crise económica que assolou o país.
Finalmente, temos
Portugal em pleno nos mercados financeiros, provando o tão conhecido ditado
popular de que quem espera sempre alcança. É com mérito próprio que tal
acontece, provando que este é o caminho que deveremos continuar a seguir. É
certo que ainda nem tudo é perfeito, mas a verdade é que este acontecimento beneficiará
e muito a confiança dos mercados para com o país nos mais variados níveis. Só
nos resta esperar para ver a bonança.
Andreia
Filipa Teixeira Barbosa
Referências:
- Instituto Nacional de
Estatística (INE)
- Agência de Gestão da
Tesouraria e da Dívida Pública (IGCP)
- Banco de Portugal
- Jornal Público
- Moody’s
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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