O presidente Donald Trump é o centro das
atenções da política ocidental, mas na minha opinião o presidente mais
importante da década está no outro lado do Pacífico. Desde que se estabeleceu
como o líder da China em 2012, Xi Jinping é visto como uma celebridade que vai
levar o país a um futuro glorioso. Logo no discurso de tomada de posse o
presidente disse que a missão de “alcançar o grande rejuvenescimento da nação
chinesa é o maior sonho do país na história moderna”.
De facto, se voltarmos ao tempo das
dinastias, a China era um grande império com tudo para se tornar a força
dominante do continente Asiático. Mas com a Guerra do Ópio veio aquilo que os
chineses chamam de “século de humilhação”, um período de subjugação às condições
do imperialismo ocidental e japonês. Na segunda metade do século XX, com o regime
de Mao Zedong, a situação piorou, e enquanto países como o Japão, Coreia do
Sul, Singapura, Taiwan e Hong Kong competiam com as Indústrias do resto do
mundo, os cidadãos chineses tinham falta de alimentos, vestuário e habitação,
assim como um sector dos serviços inadequado.
Desde a abertura aos mercados, a China
tornou-se na maior economia de manufaturas e exportadora de bens. A taxa de
crescimento do PIB é a maior do mundo, com uma média anual de 9,58% entre 1989
e 2018, alcançando um máximo de 15,4% no primeiro trimestre de 1993 e um mínimo
de 3.8% no quarto trimestre de 1990 (fonte: National Bureau of Statistics of
China). Estima-se que supere o PIB dos Estados Unidos dentro de dez anos,
através de um plano chamado “Made in China 2025”. Esta iniciativa tem como
objetivo liderar as indústrias mais importantes a nível mundial, entre as quais
a indústria automóvel, comboios de alta performance,
farmacêuticos, construção aeronáutica e inteligência artificial.
Para melhorar o alcance comercial, foi
também desenvolvida uma enorme rede de infraestruturas conhecida como “Belt
Road Iniciative” ou “Nova Rota da Seda”. O projeto consiste na construção de
estradas, pontes, ferrovias e portos marítimos em países da Europa, Ásia e
África. Este projeto foi acusado de ser uma forma de ganhar influência onde,
tal como o colonialismo Europeu, os restantes países ficam endividados e com
obrigações que não conseguem cumprir. Mas eu acho que é mais fácil de comparar
com os empréstimos do plano Marshall por parte dos EUA, em que um país com
enorme capacidade de produção cria laços com os países vizinhos para melhorar
as relações comerciais. A China está a realizar os contractos de uma forma não
intervencionista, exigindo menos condições burocráticas e taxas de juro muito
baixas a países com dificuldades financeiras. Mesmo os países com mais
problemas de corrupção e endividamento podem chegar a acordos de arrendamento
das infraestruturas.
O líder Chinês lembrou no seu encontro com
António Guterres no Fórum de Cooperação China-África que “é necessário uma ONU
mais forte, face à ascensão do unilateralismo e do protecionismo”, isto num
contexto de saída dos Estados Unidos do Conselho dos Direitos Humanos. A
imposição de taxas alfandegárias de 250 mil milhões de dólares nas importações
do país asiático teve como resposta de Pequim taxas sobre os bens
norte-americanos e a redução das taxas de reservas obrigatórias dos bancos. A
guerra comercial passa agora a uma disputa pelos movimentos de capitais. Ao
gastar as suas reservas cambiais, a China tenta segurar o valor do yuan, o que parece contraditório, dado
que uma desvalorização cambial podia estimular as exportações em resposta às
novas barreiras alfandegárias dos EUA. Deste modo, a determinação de Xi Jinping
passa o teste de sinceridade porque ele priorizou a estabilidade da moeda
chinesa em vez de superavits
temporários. Se não o fizesse também poderia encorajar os investidores a tirar capital
da China, levando a um aumento dos custos de financiamento das outras
indústrias.
A influência da moeda Americana mostrou em
2008 que uma crise financeira global pode se decidir numa reunião de um banco
privado. O descontento da China em relação ao poder do dólar no resto do mundo
é o que a leva a alavancar a sua moeda com o mesmo risco. Num ambiente com tudo
para ser autoritário, o partido Comunista da China continua a desafiar a
democracia como única maneira de desenvolver um país.
Henrique
Leones de Matos
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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