A
corrupção é provavelmente uma das temáticas que mais tem sido mediatizada, nos
últimos anos, em Portugal. Considerada o cancro da democracia, a corrupção
alastra-se e já não está apenas concentrada no futebol, nas autarquias e na construção
civil, sendo constantemente associada à alta finança, à política, à energia e às
telecomunicações.
Nos
países a norte da Europa, como a Dinamarca, a Finlândia ou a Suécia, a
corrupção é vista como um fenómeno pontual, enquanto nos países mais a sul,
como a Grécia, a Itália ou a Espanha, a corrupção é vista como um fenómeno
corrente. Portugal, sem surpresa, está na parte do hemisfério dos mais corruptos,
estando associado a estes países em que a corrupção é generalizada o facto de
terem valores democráticos débeis e instituições públicas desacreditadas.
Portugal
tem um problema de corrupção, um problema sério que atrasa o nosso
desenvolvimento, afeta a nossa competitividade e eficiência, prejudica a
concorrência económica, lesa o património público, aumenta a desigualdade
social, reduz o investimento estrangeiro, aumenta os custos de financiamento
público, e desgasta a nossa confiança nas instituições, na política e na
democracia.
Sucedem-se
todos os dias casos de buscas, investigações, detenções e condenações de
banqueiros, políticos, altos quadros do Estado, entre outros. Exemplos
mediáticos não faltam, desde o Apito Dourado, Freeport, Submarinos, Taguspark,
Face Oculta, BPN, BES, Monte Branco, Vistos Gold, Operação Marquês, Operação
Lex, e-toupeira e Tancos. São todos casos de corrupção investigados pela
Justiça portuguesa envolvendo suspeitas de falsificação, burla qualificada,
abuso de poder e de confiança, fraude fiscal, branqueamento de capitais,
tráfico de influências, peculato, etc.
No
Índice de Perceção da Corrupção de 2017, o principal indicador mundial sobre
níveis de corrupção no sector público, Portugal partilhava o 29.º lugar com o
Qatar, num total de 180 países. Há vários anos que o país mantém praticamente a
mesma posição no ranking, verificando-se uma estagnação no combate à corrupção,
parecendo faltar força às instituições democráticas, nomeadamente à Justiça,
para abordar este problema de forma frontal e para punir os infratores.
Portugal
precisa de adotar uma estratégia para combater a corrupção, sendo essencial, na
minha opinião, a tomada de medidas como: a simplificação da legislação
processual; o aumento das molduras penais; a responsabilização de partidos
políticos por atos praticados durante o exercício dos seus mandatos; e a
aplicação rápida das penas, devendo estas ser efetivamente cumpridas.
Dada
a história e cultura do nosso país, apelidado de “país de cunhas”, a tentação
de favorecer os mais próximos existirá sempre. Contudo, se a Justiça for desburocratizada
e agilizada, e se o Estado permanecer afastado de pressões de grupos de
interesse, a corrupção irá, com certeza, diminuir. Tudo isto aumentará os
níveis de confiança das instituições e dos agentes públicos, permitindo à
economia ser mais eficiente na competitividade, na captação de investimento e
na criação de empregos.
André
Azevedo Peixoto
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário