Com Jair
Bolsonaro, Trump e o novo partido de André Ventura, surgiram-me as questões: o
que é o populismo? É a mesma coisa que fascismo? Ou são só radicalistas sem
noção?
Começo, então, por
tentar definir populismo. No livro “The
Global Rise of Populism”, Benjamin Moffitt conclui que não faz sentido
associar este termo a uma única definição. Podemos associar o populismo a uma
frustração decorrente do declínio de um status
ou uma simples nostalgia dos tempos de nacionalismo. Outros olham para o
populismo como uma forma de apelar às massas, com discursos que roçam o
anarquismo.
Cas Muddle, professor
de ciência política na Universidade da Georgia, vê o populismo como uma thin ideology, pois não escolhe lados.
Tanto pode ser da esquerda como da direita, ou criar, por vezes, um híbrido ao
centro.
Já Jan-Werner Müller, da Universidade de Princeton,
afirma que os populistas querem passar para os cidadãos a ideia de que estão
completamente solidários com os mesmos e que, tal como os cidadãos, também eles
estão fartos das elites corruptas. Para o professor, há duas distinções importantes
dentro do populismo: exclusivo e inclusivo. O exclusivo é mais comum na Europa
e foca-se na estigmatização de certos grupos, como, por exemplo, os refugiados.
O inclusivo acha que a política deve ser, como a própria palavra o diz, inclusiva
e aberta a grupos mais estigmatizados, sendo comum em países da América Latina.
O populismo tende
a atacar o sistema judicial e os jornalistas dizendo que os mesmos não estão do
lado dos cidadãos. Um exemplo desta situação são os constantes ataques do
presidente Trump à CNN, dizendo que tudo o que a mesma reporta são fake news, e, recentemente, a atitude de
chacota para com o jornalista atacado por Greg Gianforte, na altura candidato a
congressista no estado do Montana, com uma placagem, quando o mesmo apenas lhe colocava
uma questão.
O uso de slogans que incitam ao nacionalismo
também é um trade mark. Alguns
exemplos são a Front Nationale, com “Este é o nosso país”, o partido Alemão
contra a Islamização na Europa Ocidental (PEGIDA), com “Ganhar outra vez
controlo”, ou então o famoso “Make
America Great Again”.
Mas é correto
associar fascismo a populismo? O que é o fascismo? Madeline Albright, escritora
e ex-secretária de estado nos Estados Unidos, numa entrevista ao The Economist, afirma não haver
consensos na definição do termo, razão pela qual muitas vezes o mesmo é usado de
forma aleatória. Porém, a mesma afirma que o fascismo não é uma ideologia de
esquerda, direita ou centro, mas sim uma abordagem usada para tomar controlo,
ou consolidar poder por um indivíduo ou partido que proclama estar a atuar em
nome de uma nação ou grupo.
Através do uso de
violência e outros meios, o proclamado fascista usa de tudo para atingir os
fins, sendo profundamente antidemocrático, apesar de obter o seu poder através
de um processo democrático (por exemplo, Hitler, ou mesmo Salazar). A Sr.ª
Albright, à exceção da Coreia do Norte, não considera que hoje em dia exista
algum país com governantes fascistas. Contudo, discordo da Sr.ª Madeline Albright
neste aspeto. O estado atual da Rússia e da Arábia Saudita são exemplos de
democracias “disfarçadas”, uma vez que não existe liberdade de expressão, visto
ser do conhecimento geral que quem tem uma opinião diferente do regime sofre
retaliação.
Existem, contudo, pontos que partilho com a Sr.ª Madeline Albright. Atualmente, defrontamo-nos com
ideais e condições sociais (disparidades económicas, uma queda na confiança em
partidos políticos mainstream, difamação
de minorias e um esforço constante para distorcer a verdade com os alternative facts) muito semelhantes aos
que levaram à eleição de Hitler e Mussolini.
Podemos associar o radicalismo ao populismo? Sim. Geert
Wilders, político Dinamarquês, ao pretender eliminar leis contradiscursos de
ódio, e Rodrigo Duterte, ao declarar guerra às drogas, deu permissão à polícia
para executar suspeitos de tráfico. Ninguém gosta da circulação de droga, muito
menos de traficantes, porém, será matar aleatoriamente sem julgamento a melhor
abordagem quando 3967 supostas personalidades da droga morreram e outras 16355 (só
entre o curto espaço de 1 de julho a 30 de setembro de 2017) estão
classificados como “em investigação”?
Apesar de Portugal ser um país de brandos costumes,
começam a surgir grupos que defendem os ideais do Estado Novo, da glorificação
de Salazar e do nacionalismo renovador. Já André Ventura, com o “Chega”, veio
trazer as mesmas ideias do século passado, como o fim do casamento homossexual
e até mesmo a proibição constitucional da eutanásia (só faltava o fim do
aborto...). Tenho alguma dificuldade em perceber estes ideais, uma vez que os
mesmos vão interferir com a liberdade de escolha de cada indivíduo.
Só passaram 73 anos desde o fim da 2ª Guerra Mundial e
apenas 44 desde o fim do Estado Novo, ambos, períodos carregados de ódio e medo.
Porque é que decorridos todos estes anos queremos repetir os mesmos erros do
passado?
Os populistas não precisam de ganhar eleições para fazer
valer as suas ideias e espalhar o seu estilo de política. Conseguem infestar os
partidos políticos à volta deles como parasitas e, como sabemos, eventualmente,
o parasita consome o hospedeiro.
Mariana Alves
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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