O governo de António
Costa assumiu no fim do passado mês de outubro a premissa clara de estabelecer
um programa de não retenção dos alunos do ensino básico. A estatística aponta
para que, em Portugal, a taxa de retenção e desistência neste nível de ensino
seja cerca de 5,1%, mas o objetivo passará então a que seja zero. No entanto, é
válido questionarmo-nos como se procede a uma mudança neste tipo de indicador:
irão os professores entrar magicamente na cabeça das crianças que tenham
dificuldades? Ou vamos aceitar que elas não aprendam o definido no programa?
Nada disso.
Passemos a alguns dados
relevantes que enquadram o problema: Portugal é um dos países da OCDE com taxas
de reprovação mais elevadas, e estas atingem na sua maioria alunos que padecem
de dificuldades socioeconómicas. Assim, surge a questão da eficácia da cultura
do chumbo, que se acentua quando olhamos para países como, por exemplo, a
Finlândia, em que não são chumbados quaisquer alunos e mesmo assim se obtêm
resultados de excelência em testes internacionais. Assim, chegamos à chave do
nosso problema: é necessário trabalhar individualmente e de forma intensiva com
os alunos que sintam maior dificuldade.
Maria Emília Brederode
Santos, presidente do Conselho Nacional de Educação, afirma mesmo que “há
muitas maneiras diferentes de aprender” e que se devem “incitar os alunos a
gostarem de aprender, a saberem aprender e a poderem aprender”. Na minha
opinião, só uma escola inclusiva, que olhe para os alunos como indivíduos
únicos, com personalidades, gostos e motivações individuais é que conseguirá
oferecer uma educação ideal.
Através da minha
experiência pessoal, sendo que os meus pais são professores do ensino básico e cresci
em diferentes escolas, de diferentes ambientes socioeconómicos e condicionantes
culturais, pude observar que o sistema de ensino atual está demasiado formatado
e regulado. Neste momento, os professores são obrigados a cumprir certas quotas
de horários, sucesso escolar e planeamento de aulas. As turmas estão
sobredimensionadas e a carga de horas é demasiado elevada. As crianças que já
não tiverem uma predisposição para aprender e gostar da escola encontram nela
um conjunto de entraves e, se não se adaptarem a ela, ela não se adaptará nunca
a eles. Um aluno que chumbe tem uma enorme tendência a entrar num ciclo vicioso
de insucesso: é retirado da beira dos amigos que fez para ser recolocado noutra
turma, que no ponto de vista de uma criança é considerada inferior, em que terá
de ouvir novamente todos os conceitos que não conseguiu aprender à primeira,
muitas vezes sem a possibilidade de ter acesso a apoio individual. Este atrito
cria uma visão negativa do que é a escola e o aprender, e faz com que os alunos
se afastem do caminho do conhecimento.
Há vários métodos que
podem, e são já utilizados em algumas instituições, para combater a cultura de
retenção e o marasmo do sistema de ensino português, em geral. Um ótimo exemplo
de como a pedagogia pode ser desafiada com sucesso é a Escola da Ponte, em
Santo Tirso. Lá os alunos têm a liberdade de aprofundar os seus conhecimentos
consoante os seus interesses e tempos de aprendizagem, sendo munidos de todas
as ferramentas – livros, dicionários, internet, etc. – e da orientação de
professores que servem como mentores. Não há campainhas mesmo havendo horários
a cumprir e não há testes – com a exceção dos Exames Nacionais que são
obrigatórios. O sucesso desta escola é comprovado nas avaliações externas –
tirou Muito Bom em todos os parâmetros na sua última – e dá a quem faz do
ensino a sua paixão a esperança de um horizonte diferente.
Atualmente, a classe
profissional está envelhecida: apenas 1% tem menos de 30 anos e 41% tem mais de
50. Este número prevê então uma mudança iminente que poderá ser a resposta ao
nosso dilema: uma renovação geracional promete, com a irreverência dos jovens e
a experiência que os professores mais velhos lhes deixarão, uma renovação na
escola como a conhecemos. Estes novos profissionais terão novas formas de ver o
ensino, novas estratégias não-tradicionais, que se afastarão dos chumbos e dos
testes, mas precisam que, como sociedade, acreditemos e apostemos no investimento
na formação dos professores do futuro, que por sua vez serão timoneiros na
educação das nossas crianças e das gerações que virão.
Ângela
Monteiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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