Mario
Draghi tem 72 anos e é o atual governador do Banco Central Europeu. Tem um
currículo invejável, sendo doutorado em Economia pela Universidade de
Massachussets, de 1984 a 1990 foi diretor executivo do Banco Mundial e de 2005
a 2011 foi governador do Banco Central italiano, tendo estado também na
reconhecida Goldman-Sachs. Foi em novembro de 2011 que assumiu a presidência do
Banco Central Europeu e hoje em dia é apelidado do grande salvador da Europa e,
consequentemente, de Portugal.
Em
abril de 2011, o ministro das finanças Teixeira dos Santos e o primeiro
ministro José Sócrates pedem ajuda externa financeira à União Europeia. A
TROIKA constituída pelo FMI, BCE e Comissão Europeia chega a Portugal com um
resgate de 78 mil milhões, com medidas de austeridade muito severas. Nessa
altura, o BCE era liderado por Jean Claude Trichet e o euro passava por uma
crise intensa, não se podendo assegurar a sua continuidade. Até que chega um
tal de Mario Draghi, vindo de Itália e que proferiu uma das frases mais
importantes da última década: "Durante o nosso mandato, o Banco Central
Europeu fará o que for necessário para proteger o euro. E, acreditem, será
suficiente".
Depois
disto, é iniciada a política de “Quantitive Easing”, que basicamente é o
empréstimo de dinheiro, sem limite, via obrigações, a taxas de juro muito
baixas. Um exemplo, em novembro de 2011, Portugal pagava 11,9% de dívida a 10
anos e, em Outubro de 2019, a mesma situa-se nos 0,2%. Isto ajudou os países a
terem uma despesa muito menor em juros da dívida. Portugal chegou ao ponto de
não conseguir sequer pagar os juros quanto mais abater dívida. Por essa e por
outras razões, a dívida chegou perto dos 140% do PIB.
Segundo
o Mecanismo Europeu de Estabilidade, nos últimos 8 anos, Portugal terá poupado
cerca de 8,4 mil milhões de euros (cerca de 0,7% do PIB em cada ano) devido a
esta política proporcionada pelo BCE. Isto representa cerca de 11% do resgate
que Portugal sofreu em 2011. O que Portugal gastava em juros em 2014 era equivalente
ao que gastava com o Serviço Nacional de Saúde, portanto imaginemos o que
aconteceria sem este “Quantitive Easing”.
Mais
um indicador deste efeito é que a despesa em juros em % do PIB: em 2014, era de
4,9% e, em 2018, fixava-se nos 3,5% do PIB, o que em termos absolutos
representa uma quebra de 3 mil milhões. Esta situação ajuda à diminuição do
rácio da dívida em relação ao PIB e, sendo os juros uma despesa corrente,
também ajuda a conta mais certas, nomeadamente a um menor défice, como se
comprova nos dias de hoje. Estas políticas também permitiram que Portugal
conseguisse abdicar da última tranche do empréstimo da TROIKA e conseguisse
reembolsar esses empréstimos mais cedo do que o previsto. Numa perspetiva mais
europeia, podemos verificar que a Grécia poupou cerca de 13 mil milhões em
juros só em 2018(!).
Mario
Draghi apostou nestas políticas sabendo que tinha as grandes potências
europeias, França e Alemenha, contra ele, e mostrou que para ele tão é
importante a maior economia como a menos desenvolvida pois caso Portugal,
Grécia e Chipre decidissem abandonar o euro isso seria irremediavelmente o fim
do mesmo. Mostrou também que as medidas impostas pela TROIKA não eram a
resolução do problema. Uma política de juros baixos ajuda a recuperar a
credibilidade dos países junto dos mercados, o que permite um melhor acesso ao
financiamento, que propicia mais investimento público (que este Governo podia
aproveitar bem melhor). Políticas de juros baixos geram juros ainda mais baixos
e Portugal soube aproveitar muito bem isso desde o tempo em que Mario Draghi
entrou no BCE.
Na
minha opinião, este tipo de políticas ajudou muito os países que tinham dívidas
muito altas e que estiveram sob ajuda externa, no entanto países grandes como a
Alemanha e a França sofrem pois as taxas de poupança (investimento) mantém-se
inalteradas ou até baixam devido ao facto de não haver grande retorno sobre
esses investimentos, o que não faz grande sentido pois tivemos sob 4/5 anos de
crescimento económico e talvez este não tenha sido tão grande devido a esse
facto. E, além disso, quanto mais tempo tivermos um vício mais difícil é sair
do mesmo, e não saberemos como a economia pode reagir perante uma mudança de
políticas…
Em
breve, Draghi será substituído por Christine Lagarde. Pessoas novas, políticas
novas. Com a Alemanha na Comissão Europeia e a França no BCE, será difícil que
as políticas beneficiem novamente países como Portugal e, nesta fase, uma
subida dos juros pode prejudicar muito o país que ainda se encontra numa fase
instável e com uma dívida muito alta. Merecerá também Christine Lagarde a
nacionalidade portuguesa?
José Pedro Antunes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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