Depois
da primeira revolução industrial, a progressão no mundo das tecnologias é algo
que está em constante crescimento. A acompanhar este crescimento estão as
tecnologias de informação (TI), que são o conjunto de todas as atividades e
soluções dotadas por recursos de computação que tratam da informação, da
organização e da classificação de forma a permitir a tomada de decisão em prol
de algum objetivo.
As
TI já lideram nas empresas nos dias de hoje, com os pedidos de recrutamento num
Portugal cada vez mais tecnológico. Em certas áreas das tecnologias de
informação já é notório o défice entre a oferta e procura. Portugal é caraterizado
por estar a recrutar e a investir nas TI, e não só nas empresas tecnológicas,
engenheiros de software,
programadores, profissionais de cibersegurança e especialistas de big data.
A
problemática real da falta de especialistas para a oferta de empregos nestas
áreas visa ser combatida pelos empregadores com subidas salariais para reter os
profissionais e motivá-los. Registou-se uma subida salarial entre os 7% e 9% no
ano de 2018. Todavia, é difícil fazer com que esses especialistas fiquem no
país. Temos aqui um verdadeiro problema no âmbito do investimento sem retorno,
de pouco ou tardio retorno, dado que os custos da formação deste experts são suportados pelo país e, com
a sua fuga, os países que os fixam retiram os dividendos da sua formação, sem
qualquer encargo com a formação de base dos mesmos. Poder-se-á sempre contra-argumentar
que estes novos emigrantes retornarão ao nosso país com uma formação mais
sólida e com uma maior capacidade de empreendedorismo, trazendo, desta forma,
mais-valias para a nossa sociedade e economia.
Um
exemplo em Portugal a ganhar terreno é a nova vaga de empresas de TI aplicadas
à saúde, servindo-se do país como uma rampa de lançamento para os mercados
internacionais. Alguns do projetos têm um crescimento significativo nas áreas
da nanotecnologia, biofarmacêuticas, medicina regenerativa e biomedicinas. Estes
projetos são efetuados por jovens empreendedores que têm dificuldades de se integração
no mercado de trabalho, não sendo por isso menos qualificados ou menos aptos à
função, servindo-se do país para consolidar os próprios negócios e faturar a
uma escala global.
As
TI são utilizadas para recrutar profissionais. Estereotipicamente, as empresas
mais tecnológicas tendem a recrutar mais homens do que mulheres. Isto porque,
biologicamente e de acordo com o senso comum, as mulheres tendem a possuir
delicadeza, sensibilidade e domínio familiar, já os homens espera-se que
possuam capacidades de liderança, racionalidade e domínio técnico. Os sistemas
informatizados de apoio ao recrutamento, muito sofisticados tecnologicamente,
mantém os estereótipos sociais e em nada contribuem para a igualdade salarial
entre géneros. Trata-se de mais um caso em que a introdução das TI parece estar
ao serviço da agenda neoliberal, em que a linguagem moderna e a modernização
dos processos não traz nada de novo à igualdade de género, servindo apenas para
dissimular a desigualdade existente quando o que, de facto, está a suceder é o
seu reforço.
Um
outro aspeto do desenvolvimento das TI tem a ver com a rede 5G. “É comum
dizer-se que 1G trouxe o telemóvel, o 2G as mensagens de texto e o roaming, o 3G a internet móvel, o 4G
exponenciou o ecossistema dos telemóveis com todas as aplicações de voz e dados
e as redes socias – e o 5G trará a explosão da internet das Coisas, permitindo
ligar e transferir informação entre o telemóvel, a casa ou o carro”. Assim, se,
por um lado, se abrem e alargam as possibilidades de lazer e bem-estar -
eletrodomésticos que ganham vida, carros que se guiam sozinhos, operações
cirúrgicas à distância, automação e robôs por todo lado, jogos de computador em
realidade virtual e aumentada, hologramas, assistir a jogos e espetáculos ao
vivo à distância e através de qualquer ângulo em 360 graus - por outro lado,
convém ter presente o crescimento constante das desigualdades, os processos
cada vez mais sofisticados e complexos de acumulação de capital, bem como o
controlo dos cidadãos. Assim, e mais uma vez, a linha que separa as
possibilidades do desenvolvimento e aprofundamento da democracia e os riscos da
deriva securitária e totalizante das sociedades é ténue.
Este
aspeto foi abordado na Web Summit, o
que, na minha opinião, torna este evento responsável e formador, dado que, além
de impulsionar o empreendedorismo e o trabalho em rede, dá um sério aviso para
que as poderosas possibilidades das TI não se deixem cair nas mãos erradas e
para estarmos atentos aos sinais dos tempos. Tanto nos podemos deparar com fortes
possibilidades de implementar um rendimento básico incondicional para todos, de
uma semana de trabalho bem mais reduzida e da livre circulação de pessoas, como
podemos encontrar os ingredientes necessários para estados e sociedades com
lógicas exacerbadas de controlo securitário, coartando a democracia e a
liberdade das pessoas.
Ana Isabel Gomes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário