Há uma dicotomia no nosso
planeta. Enquanto alguns países ainda têm problemas de subnutrição e passam por
muitas dificuldades no acesso às caraterísticas que consideramos essenciais
para viver, outros ultrapassam crises relacionadas com obesidade.
O cenário desta doença
não é animador: desde 1980, o número de pessoas com obesidade mais do que
duplicou. Em 2015, mais de 1,5 mil milhões de pessoas tinha excesso de peso
(IMC >25KG/m2) e, destes, 600 milhões eram obesos. Na Europa, 1 em cada 6
pessoas sofre desta doença.
Em Portugal,
especificamente, estamos a falar de uma evolução significativa entre 2004 e
2014, conforme pode ser analisado pela tabela abaixo, sendo possível concluir
que mais de 50 % das pessoas acima dos 18 anos têm excesso de peso:
O
aumento do sedentarismo e do stress, depressões,
a diminuição de horas de sono, pior alimentação (mais alimentos processados e
acesso fácil a fast e junk food, bem como um aumento
significativo das doses e em calorias das mesmas) são algumas das causas
apontadas pela OMS (Organização Mundial de Saúde) para esta evolução.
Ao contrário da imagem
defendida pelas avós da nossa vida, gordura não é sempre formosura, e muitas
consequências advêm do excesso de peso. Tanto a nível individual, pela pior
qualidade de vida, fadiga mais frequente e menor mobilidade, mas também a nível
económico, pela perda de produtividade e pela componente de despesa pública no
orçamento da saúde, derivado de problemas que têm como fator de risco e causa
esta condição, a obesidade é uma doença que requer uma gestão a longo prazo e
tem diversas consequências, como síndrome de apneia de sono, alguns tipos de
cancro, doenças cardiovasculares, diabetes tipo II, entre outras.
O nosso sistema de saúde,
embora com a introdução de sucessivos incentivos para uma maior aposta na
prevenção (é o único país da Europa com política de regulamentação no
tratamento da obesidade), ao invés do tratamento, no geral, continua muito
assente nesta última componente. Tal deve-se à mentalidade mais comum das
pessoas no nosso país: “Só vou ao médico quando estou doente”. Esta é uma frase
recorrente que, de certo, já ouvimos pelo menos uma vez.
A nível de despesas
diretas na saúde, encontramos os seguintes dados no INE:
Olhando para estes dados,
ficaríamos com a impressão imediata de que, afinal de tudo, não é um problema,
pelo menos não para a gestão da despesa da saúde (dado ser tão pouco
significativo). Porém, além de serem dados desatualizados (embora os mais
recentes que temos), não há nenhum estudo que relacione as doenças (e os custos
com as mesmas) causadas pela obesidade, apresentando então um custo total
resultante da doença.
Existe, no entanto, um
estudo a nível europeu: é estimado que os sistemas de saúde europeus gastem 59
mil milhões de euros com este problema, por ano, o que representa cerca de 8%
do orçamento total de saúde da Europa. A SPEO pretende fazer um estudo
semelhante, mas só para Portugal, sendo previsíveis resultados bastante
elevados pela elevada percentagem de portugueses com excesso de peso, já
expressa no início no artigo.
Dietas mais ou menos
milagrosas, regimes vegetarianos ou veganos, práticas de incentivo ao exercício
físico na escola, na vida adulta e no trabalho, são várias as soluções que têm
sido discutidas sem termos chegado a um consenso. Mas algo é garantido: é um
problema, um problema grave, que cresce a cada ano que passa e, sem quaisquer
dúvidas, um dos tópicos mais preocupantes deste inicio de século relativamente
à saúde.
Rui
Moutinho Bessa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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