sexta-feira, 15 de novembro de 2019

Os desafios do acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul

O acordo comercial entre a União Europeia (EU) e o Mercosul, que teve suas negociações iniciadas há 20 anos, foi finalmente finalizado e aguarda ratificação dos países envolvidos. Este seria o segundo maior acordo firmado pela União Europeia e envolve 25% da economia global. Apesar de ter sido noticiado como histórico, devido aos recentes incêndios que se deram na Amazónia e as declarações do governo brasileiro, países como Franca e Áustria repensaram suas posições em relação ao acordo.
Não há dúvidas que este acordo trará uma série de benefícios para todos os países envolvidos. Estima-se, de acordo com o Ministério da Economia do Brasil, um impacto de 336 bilhões de reais no PIB do Brasil, em 15 anos. Se forem levadas em consideração as eliminações de tarifas sob produtos como frutas, café, suco de laranja, este efeito pode ser de 480 bilhões. Além disso, é esperada uma redução de tarifas sobre os produtos industrializados, o que estimularia a economia da EU. No presente momento, a indústria automotiva chega a enfrentar taxas de 35%, quando tentam exportar para o Mercosul. É previsto que em 10 anos cerca de 90% das tarifas da EU sobre produtos do Mercosul sejam retiradas.
Em suma, o acordo, que pode ser o segundo maior do mundo, é um sopro de livre comércio em uma economia global que caminha cada vez mais para o protecionismo. Outro fator significante é seu peso na economia europeia: sua redução tarifária supera o acordo com o Japão.


Justamente por isso, os últimos desenvolvimentos na Áustria e França são tão preocupantes. Ambos os países já começaram a se movimentar contra o acordo, isso por não concordarem com a postura do governo brasileiro em relação às mudanças climáticas. De fato o presidente Bolsonaro mostra uma inabilidade notável não só em compreender a importância do problema climático mas, também, em como lidar com crises, quaisquer que sejam estas, relacionadas com seu governo. A forma truculenta e indisposição para dialogar com opositores do presidente brasileiro não é bem vista pela opinião pública europeia que, em geral, vê a questão climática com prioridade. O que os críticos do acordo comercial parecem ignorar é que seus signatários se comprometem a cumprir as diretrizes estabelecidas em Paris, em 12 de dezembro de 2015.
Tendo em vista a atual situação económica do Brasil, a instabilidade política na Argentina e o quanto esses países contam com o acordo comercial para estimular suas economias, aqueles que realmente se importam com o meio ambiente deveriam ser os maiores defensores de uma resolução rápida das negociações. O acordo deveria ser visto como uma oportunidade ímpar de forçar as economias sul-americanas, em específico, o setor da agropecuária, a aderirem aos padrões climáticos exigidos pela Europa.
Por fim, fica evidente que o acordo comercial tem muito a acrescentar para os dois blocos. A postura de certos governos, seja o brasileiro, o austríaco ou o francês, não traz benefícios nem para suas economias nem para suas supostas causas. Na realidade, estes líderes políticos estão cedendo ao populismo barato em detrimento dos fatos. É triste ver que uma oportunidade histórica está sendo desperdiçada e que décadas de negociação podem ser jogadas pelo ralo porque governantes se preocupam mais com suas reeleições do que com seus países.

Gabriel Costa Mendes

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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