O
acordo comercial entre a União Europeia (EU) e o Mercosul, que teve suas
negociações iniciadas há 20 anos, foi finalmente finalizado e aguarda
ratificação dos países envolvidos. Este seria o segundo maior acordo firmado
pela União Europeia e envolve 25% da economia global. Apesar de ter sido
noticiado como histórico, devido aos recentes incêndios que se deram na
Amazónia e as declarações do governo brasileiro, países como Franca e Áustria repensaram
suas posições em relação ao acordo.
Não
há dúvidas que este acordo trará uma série de benefícios para todos os países
envolvidos. Estima-se, de acordo com o Ministério da Economia do Brasil, um
impacto de 336 bilhões de reais no PIB do Brasil, em 15 anos. Se forem levadas
em consideração as eliminações de tarifas sob produtos como frutas, café, suco
de laranja, este efeito pode ser de 480 bilhões. Além disso, é esperada uma
redução de tarifas sobre os produtos industrializados, o que estimularia a economia
da EU. No presente momento, a indústria automotiva chega a enfrentar taxas de
35%, quando tentam exportar para o Mercosul. É previsto que em 10 anos cerca de
90% das tarifas da EU sobre produtos do Mercosul sejam retiradas.
Em
suma, o acordo, que pode ser o segundo maior do mundo, é um sopro de livre comércio
em uma economia global que caminha cada vez mais para o protecionismo. Outro
fator significante é seu peso na economia europeia: sua redução tarifária supera
o acordo com o Japão.
Justamente
por isso, os últimos desenvolvimentos na Áustria e França são tão preocupantes.
Ambos os países já começaram a se movimentar contra o acordo, isso por não
concordarem com a postura do governo brasileiro em relação às mudanças
climáticas. De fato o presidente Bolsonaro mostra uma inabilidade notável não só
em compreender a importância do problema climático mas, também, em como lidar
com crises, quaisquer que sejam estas, relacionadas com seu governo. A forma
truculenta e indisposição para dialogar com opositores do presidente brasileiro
não é bem vista pela opinião pública europeia que, em geral, vê a questão
climática com prioridade. O que os críticos do acordo comercial parecem ignorar
é que seus signatários se comprometem a cumprir as diretrizes estabelecidas em
Paris, em 12 de dezembro de 2015.
Tendo
em vista a atual situação económica do Brasil, a instabilidade política na
Argentina e o quanto esses países contam com o acordo comercial para estimular
suas economias, aqueles que realmente se importam com o meio ambiente deveriam
ser os maiores defensores de uma resolução rápida das negociações. O acordo
deveria ser visto como uma oportunidade ímpar de forçar as economias
sul-americanas, em específico, o setor da agropecuária, a aderirem aos padrões climáticos
exigidos pela Europa.
Por
fim, fica evidente que o acordo comercial tem muito a acrescentar para os dois
blocos. A postura de certos governos, seja o brasileiro, o austríaco ou o
francês, não traz benefícios nem para suas economias nem para suas supostas
causas. Na realidade, estes líderes políticos estão cedendo ao populismo barato
em detrimento dos fatos. É triste ver que uma oportunidade histórica está sendo
desperdiçada e que décadas de negociação podem ser jogadas pelo ralo porque
governantes se preocupam mais com suas reeleições do que com seus países.
Gabriel Costa Mendes
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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