Tendo em conta os
últimos dados do INE, a taxa de desemprego desceu para 6,3%, o valor mais baixo
dos últimos 16 anos. Excelente notícia claro, uma vez que se nos lembrarmos dos
17,5% em março de 2013. Este valor, já abaixo dos 7%, era então impensável.
Isto para não falar, claro, que, neste momento e de acordo com os últimos
dados, apresentamos uma taxa de desemprego inferior a países como a França.
Contudo, nem tudo é um sinal positivo. Para além do facto da taxa de desemprego
estar a diminuir neste momento a ritmos menores, a situação do desemprego jovem
não é de todo aconselhável. Neste momento, os jovens (indivíduos com menos de
25 anos) enfrentam uma taxa de desemprego situada nos 20,3%, ou seja, entre o
meu grupo de 10 colegas, já consigo prever que 2 de nós não vamos ter sucesso
na procurar de emprego. Sabendo que os jovens são o futuro de qualquer
sociedade, é muito importante discutir esta dura realidade e tentar resolvê-la.
Não tomando posição
por qualquer partido político, o governo e a respetiva coligação parlamentar
“adoram” exibir os dados estatísticos publicados, no intuito de ganhar
apoiantes e promovendo a ideia de que conseguiram tirar o país da austeridade e
da depressão. Por outro lado, os partidos da direita reclamam estes resultados para
eles próprios, afirmando que foram as políticas por eles promovidas que
possibilitaram a existência destes novos valores (refiro-me à taxa de
desemprego, no global, que se situa nos 6,3% - dados da PORDATA).
Agora, acontece que
nem a direita nem a esquerda estão com ideias de assumir o desemprego jovem e a
realidade assustadora associada ao mesmo. Isto é, não sendo nós capazes de
assegurar um futuro próspero no mercado de trabalho para os jovens, quem é que nos
vai assegurar um futuro próspero para o nosso país? Independente do que os
partidos digam relativamente aos valores mais recentes da taxa de desemprego, o
que é certo é que este problema existe. Em maio deste ano (dados PORDATA), por
exemplo, tínhamos uma taxa mais elevada face à média da União Europeia (cerca
de 4 p.p.).
Num âmbito geral, é
certo que o desemprego diminuiu e, consequentemente, também o desemprego jovem
diminuiu. Esta diminuição deveu-se essencialmente à recuperação económica nos
últimos anos a nível europeu. No entanto e apesar desta descida, o problema
persiste (com menor gravidade mas ainda assim merecedor de muita atenção): há
uma preocupante falta de espaço para os jovens no mercado de trabalho. E as
causas para que tal aconteça são várias. Desde a desadequação entre a formação que
um indivíduo tem e aquilo que o mercado precisa (talvez a principal causa) ao
facto de ser preciso experiência para trabalhar. É um paradoxo enorme um jovem,
que quer trabalhar (e como tal, quer ganhar experiência no mercado de trabalho)
estar sujeito a uma oferta de trabalho que restringe um perfil de candidato
àqueles que já têm experiência. Então, como vai um jovem ter essa experiência
se não lhe é dada uma oportunidade?
Os números que nos
apresentam em época eleitoral não são suficientes para nos satisfazer. Não
chega criar estímulos à contratação. Antes de tudo, há que resolver este
problema a montante (ou seja, há que providenciar uma preparação adequada dos
jovens para o mercado de trabalho) e só depois poderemos passar para jusante:
resolução definitiva do problema.
E, pior ainda, é que
só discuti uma face do problema dos jovens, que é a dificuldade de encontrar
emprego. Agora, e aqueles que lá conseguem arranjar um emprego? Afinal, porque
considero eu isso a outra face do problema? Pois, para estes que conseguem
arranjar um emprego existe um problema a ser enfrentado: os baixos salários. Raras
são as exceções mas, por norma, para quem entra no mercado de trabalho, os custos
associados à prestação do serviço (tais como o custo de transporte ou a
habitação, que tem vindo a aumentar exponencialmente os preços) para o qual se é
contratado é mais elevado do que os benefícios salariais. Ou seja, o mercado de
trabalho tem mais um paradoxo: temos jovens qualificados que gastam valores
absurdos para se formarem (bem, só em propinas, são acima de 2000€) e temos as
empresas que, apesar de apenas oferecem empregos mal pagos, exigem estas
qualificações dispendiosas.
Como tal, a proposta
de haver incentivo fiscais para os emigrantes recentes que regressarem torna-se
ainda mais “caricata”. Não digo que eles não devam regressar. , devem. Mas, sinceramente,
a opção de emigrar é, na maior parte dos casos, o único caminho para estes jovens,
que ou enfrentam salários irrisórios ou enfrentam o desemprego, estando sempre
aliada a loucura do mercado de habitação. Assim, os jovens, ao verem-se confrontados
com a falta de trabalho ou de condições (minimamente decentes) de trabalho,
deduzem que as alterações que se verificaram no país são mínimas (são
insuficientes), sendo difícil, senão mesmo impossível, construir um futuro próspero
em Portugal.
No fundo, não posso
senão concluir que o Governo, talvez sem se aperceber disso, fez o raciocínio
ao contrário. Antes de tomar medidas que visem o regresso dos jovens emigrantes,
importa primeiro compreender o porquê dos jovens procurarem outros países e
evitar que eles tenham essas razões e a necessidade do fazer.
Pedro Sousa
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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