O dia mundial da poupança
celebrou-se recentemente, no dia 31 de outubro. Relacionado com esta data,
foram publicados por algumas entidades (entre elas, o Pordata) dados sobre este
tema. Os resultados foram, de certa forma, surpreendentes. A verdade é que,
face a dados de 1978, a poupança das famílias portuguesas desceu para cerca de
um terço do registado na altura - passou de 21,2% do rendimento disponível para
os 6,5% atuais. Muito mudou desde a década de 70: os hábitos das famílias e,
consequentemente, as suas despesas, a tecnologia, o tipo de consumo, etc. No
entanto, estes valores são bastante alarmantes.
Uma medida relacionada
com a poupança é a capacidade de fazer face a despesas inesperadas. Ora se os valores
da poupança são preocupantes, os deste último indicador não são de ignorar. Em
2017, aproximadamente 37% da população em Portugal não tinha esta capacidade.
Quando comparado com a média da União Europeia a 28 - de 34% - concluímos que
os valores não se encontram muito distantes, mas mais uma vez nos encontramos
abaixo dos outros.
Analisando o gráfico,
verificamos que a poupança dos particulares, ou seja, a poupança das famílias e
instituições sem fins lucrativos ao serviço das famílias em Portugal, em
percentagem do rendimento disponível, é atualmente 3 vezes inferior à registada
em 1978. Quando comparado com a União Europeia, Portugal encontra-se em décimo
sétimo numa lista de 26 países, ordenados de acordo com os valores de poupança das
suas famílias (de forma decrescente). No geral, a poupança das famílias em
Portugal, em percentagem do PIB, é muito inferior à de países como a Suécia, a
Alemanha, o Luxemburgo e a França – países onde os valores da poupança rondam
os 8,6% e os 10,8%.
No entanto, não é de
admirar que efetivamente os níveis de poupança em Portugal sejam baixos. Por
norma, um indivíduo recebe um rendimento e, desse rendimento, escolhe uma parte
para consumir e uma parte para poupar. Desta forma, o objetivo do indivíduo ao
não utilizar todo o seu rendimento para consumo é, no futuro, em caso de
emergência, não ter preocupações em termos financeiros. Ainda poupa porque espera
ter algum retorno do dinheiro que deposita nos bancos. Falamos então nos
depósitos a prazo. Estes continuam a ser um dos instrumentos de poupança preferidos
dos portugueses, contudo têm vindo a ser cada vez menos atrativos, visto que as
taxas de juro se aproximam cada vez mais de 0. Significa isto que o retorno que
auferimos dos depósitos a prazo é cada vez menor e, segundo os últimos dados revelados pelo Banco Central Europeu
(BCE), Portugal é o terceiro país da Zona Euro com pior remuneração associada
aos depósitos a prazo (pior só mesmo a Espanha e a Irlanda).
Na verdade, o facto das
taxas de juro estarem próximas do zero é, em certa parte, propositado, na
medida em que acaba por ter como objetivo o desincentivo da poupança e o
incentivo dos empréstimos e do consumo. O problema em vista a resolver aqui é o
de que dinheiro poupado não é dinheiro gasto e, portanto, o efeito de poupar é
a redução da procura agregada. A isto se chama o paradoxo da parcimónia – um
aumento da poupança leva a uma diminuição da procura agregada, o que
consequentemente leva a uma contração da economia e portanto o indivíduo comum
ficará mais pobre e não mais rico. Deste modo, a poupança pode ser prejudicial
ao bom funcionamento da economia.
Ainda assim, é sempre
necessário existir uma quantia mínima de poupança. Concluindo, os níveis de
poupança em Portugal encontram-se consideravelmente baixos, algo que devia
mudar. É verdade que quando comparado com os países da União Europeia, os
valores não diferem muitos dos portugueses, no entanto não deveria ser isso
motivo para efetivamente termos um mau desempenho. Assim, o facto de que os
portugueses poupam pouco deve-se ao baixo rendimento da população (o salário
mínimo não permite que os portugueses não gastem todo o seu rendimento em
consumo) e também às baixas taxas de juro, que atualmente vigoram nacionalmente
– tal como referido anteriormente, Portugal é o
terceiro país da Zona Euro com pior remuneração associada aos depósitos a
prazo.
Catarina da Rocha Correia
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular
“Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da
EEG/UMinho]
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