Datando
do século IV e construídas originalmente pelos romanos, as termas flavienses
representam um enorme marco da história portuguesa e europeia, principalmente
devido à sua exclusividade. Quando descobertas, em 2006, pareciam ser o
complemento perfeito para o grande turismo termal da pequena cidade de Chaves,
no nordeste do país. No entanto, 13 anos e 3,5 milhões de euros mais tarde, a sua
reabertura ainda não foi possível, o que se deve a consecutivos erros arquitetónicos
e intermináveis burocracias.
As
suas temperaturas de cerca de 70ºC, fator que as torna únicas na Europa, foram
também aquilo que matou o projeto aquando da sua construção, uma vez que não
foram tidas em conta as consequências das águas bicabornatadas e a humidade
extrema nos materiais de construção.
Inicialmente,
o projeto custaria 1,9 milhões de euros, sendo financiado pelo Fundo Europeu de
Desenvolvimento Regional (FEDER). No entanto, foram necessários fundos do cofre
municipal (no montante de 200 mil euros) para serem possíveis as alterações ao
projeto impostas pela Direção Regional de Cultura do Norte. Com o intuito de
finalizar a obra e não obtendo qualquer sucesso, foi feita uma candidatura ao
projeto “Musealização das Termas Romanas de Chaves”, ao abrigo do Norte 2020,
sendo este financiado, novamente, pela FEDER, no montante de 1,1 milhões de
euros.
Corretamente,
alguns alegaram que as termas se encontraram abertas num certo momento. Porém,
é necessário reforçar que este período foi de 1 semana e as condições eram de
tal ordem que quem teve a oportunidade de visitar a obra por inteiro afirma que,
devido ao calor excessivo, qualquer um sufocava lá dentro.
Já
em 2018, e desta vez com a intenção de as restaurar, durante a presidência de Nuno
Vaz, pôde ler-se o seguinte na proposta de orçamento do referido ano: “Conclusão
imediata da obra do Museu das Termas Romanas, ao mais baixo custo, a fim de poder
ser valorizado o seu espólio”. Ou seja, de acordo com o mesmo, pretendia-se abrir
novamente as portas no primeiro trimestre de 2019. Desta vez, tendo em conta o
ambiente dentro do complexo, tentou-se implementar um novo sistema de
ventilação, cujo objetivo seria fazer circular de forma artificial o ar vindo
do exterior, uma vez que a ventilação inicialmente idealizada não foi eficiente.
No
entanto, quase no fim de 2019, as promessas continuam a acumular-se. E porquê?
Se esta descoberta fosse feita numa grande metrópole, como em Lisboa ou no
Porto, talvez o problema já estivesse resolvido. No entanto, apesar de Chaves (592,2
km²) ter uma área quase 6 vezes maior do que, por exemplo, Lisboa (100,1 km²),
estas têm, respetivamente, 68 e 6000 habitantes por km². Deste modo, é possível
entender a falta de interesse intrínseca ao problema.
Uma
vez que o turismo é o serviço com maior relevância no equilíbrio da balança corrente
portuguesa, a 1ª Musealização Termal da Europa teria, quase de certeza, um
impacto não só para o turismo mas também para comércio local e regional.
Em
2018, o valor de comércio e turismo de Chaves foi de 3.226.846,10 €, o que
corresponde a cerca de 6% do valor total do orçamento do município (48 585
606,13 € ), sendo um valor relativamente alto. Consta também neste mesmo
orçamento, datado de 2019, que 1.137.530,22 € dos cerca de 20 milhões disponíveis
para investimentos correspondem à “Musealização das Termas Romanas de Chaves”,
com recurso a fundos do FEDER.
Tudo
isto faz-nos pensar em como é que é possível que existam gastos constantes num
local que se encontra na mesma situação há vários anos, sendo estes gastos
bastante avultados para um município como Chaves. Da mesma forma, faz qualquer
um questionar como é que umas termas que foram utilizadas há 17 séculos e se
encontram preservadas até hoje não é possível atualmente mantê-las abertas durante
mais do que 1 semana.
Ana Barroso
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