quarta-feira, 6 de novembro de 2019

Empresas ´zombie`: o ´halloween` que perdura

Este conceito não é de todo novo. É uma realidade mundial e Portugal não escapa à mesma. Empresas zombies são entidades cuja conjuntura financeira encontra-se fragilizada, ou seja, que se apresentam sem recursos monetários para cumprirem as suas obrigações. Desse modo, por uma questão consensual na maioria dos estudos já existentes, são empresas altamente dependentes de crédito concedido pelas instituições bancárias, já que não conseguem gerar receitas suficientes capazes de sustentar as atividades desempenhadas. Além disso, estão no mercado há pelo menos 10 anos e pagam salários acima da produtividade do seu setor, sendo pouco inovadoras.
Após a grande crise de 2008, as taxas de juros aumentaram consideravelmente, houve uma queda abrupta do investimento e, como tal, a economia encontrava-se em recessão. No entanto, foram implementadas medidas como o quantitive easing, em 2015, na zona euro, que levaram a um aumento da quantidade de moeda em circulação. De facto, essa decisão económica resultou numa contínua descida da taxa de juro, a qual permitiu que os agentes económicos se financiassem muito mais facilmente. Deste modo, empresas com poucos recursos e menos produtivas permaneceram no mercado, contribuindo para um funcionamento da economia menos eficiente: restringiram investimento em setores mais rentáveis e impediram uma alocação dos recursos mais eficiente, fenómeno a que podemos chamar de “scrambling”.
Na verdade, estas empresas continuam a existir, porém, caso os bancos deixassem de as financiar, elas não iriam suportar. Assim sendo, a questão que surge é qual o impacto positivo destas empresas nos bancos. A resposta surge do facto de não ser do interesse das instituições financeiras revelarem a relação de ciclo vicioso com as firmas: conceder créditos suficientemente altos para que estes possam amortizar empréstimos e pagar os respetivos juros. Desta forma, os bancos acabam por assumir uma postura de maior tolerância, com vista a reduzir o registo de empréstimos malparados e, consequentemente, de falências.
O setor que reúne o maior número de empresas deste tipo é o da Construção, o que se traduz em impactos negativos nas restantes entidades que operam no mesmo setor, por exemplo, através do aumento do hiato de produtividade entre as empresas mais e menos produtivas de cada setor. Ao longo do tempo, verifica-se uma contínua subida dos créditos vencidos neste setor, mas no ano de 2017 houve um ligeiro abrandamento.



Em 2017, McGowan desenvolveu um estudo que atribui a classificação de zombie às firmas que tenham permanecido no mercado mais de 10 anos e que apresentem um rácio de cobertura de juros inferior a 1 durante, pelo menos, 3 anos consecutivos, para assim distinguir estas firmas de start-ups. O seu objetivo era estimar os efeitos nefastos deste tipo de empresas para as que apresentavam condições favoráveis.
Ao nível da produtividade do fator do trabalho, o modelo prevê que 𝛽* seja positivo, ou seja, que a diferença de produtividade entre as empresas mais saudáveis e as dependentes financeiramente seja maior, numa maior incidência de firmas zombie. Deste modo, comprova-se que estas constituem barreiras à entrada de novas empresas no setor, a menos que estas se destaquem a nível de produtividade. Assim, para além deste tipo de empresas reduzir o nível geral de produtividade do país, pressupõe uma grande exigência a empresas que queiram entrar no mercado.
Podemos então concluir que a fragilidade atual dos bancos e a sua menor solvabilidade está associada ao menor crédito a empresas que querem entrar no mercado, mas que não o fazem porque ficam, de certo modo, contaminadas pelas empresas zombies. De facto, a existência destas empresas desencoraja a entrada de novas que poderiam rejuvenescer o tecido empresarial nacional, aumentando o PIB no longo prazo. No nosso país, segundo estudo do professor Fernando Alexandre, em 2017, as empresas zombie representavam cerca de 14,3% e 10% do endividamento, um peso de relevância.
Do meu ponto de vista, é necessário apostar na desalavancagem destas empresas, para que possamos investir em empresas mais dinâmicas e prósperas. Admito que tendo em conta o peso relevante que representa a nível de emprego e de endividamento, se torne difícil colocar em prática as ideias teóricas apresentadas. No entanto, por uma questão do normal funcionamento da economia, os capitais humanos destas empresas vão acabar por ser transferidos para empresas saudáveis do mesmo setor ou diferentes (dependendo de outros fatores não expressos), quer pelo maior acesso ao crédito por parte destas entidades ou pelo aumento do nível de produtividade das mesmas. No que diz respeito ao endividamento, são empresas que não vão pagar de qualquer modo os créditos que têm, por isso, a falência é inevitável.

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