Nos últimos dias/semanas
muito se tem ouvido falar da Web Summit
e sobre o privilégio de Portugal receber de 2016 a 2028 na sua capital a maior
cimeira de tecnologia e empreendedorismo do mundo. Para memória futura, este
evento custou ao Estado português mais de 20 milhões de euros, que será pago
por todos nós num qualquer imposto. Este artigo não é sobre se este evento
gera, ou não, algum impacte na economia do país, mas sim sobre a visão que
Portugal e os seus governantes têm sobre o desenvolvimento económico, por
exemplo, do sector agrícola.
Inicialmente e de uma
forma muito abstrata, o problema do setor Agrícola está associado à falta de
visão e reconhecimento do contributo do mundo rural para o crescimento e
desenvolvimento da economia. Para que se tenha uma ideia, em Portugal, cerca de
48% do território são terrenos agrícolas e 39% áreas florestais. Apenas 2,5%
dos agricultores têm menos de 35 anos e 72,3% das explorações totais têm menos
de 5 hectares. Estes números ajudam a revelar a enorme dependência do setor
agrícola da agricultura tradicional.
O território português possui
diferentes tipos de solos e caraterísticas climatéricas, o que lhe possibilita
apresentar uma agricultura bastante diversificada. Num contexto económico, e
segundo o INE, em 2018 a balança comercial dos
produtos agrícolas totalizava um aumento do défice em 80 milhões de euros face
ao período homólogo. O problema deve-se ao aumento das importações, 261,9
milhões de euros acima do valor das exportações (181,1 milhões de euros).
Embora a adesão à União
Europeia tenha trazido benefícios e progressos ao setor agrícola, existem
problemas, estruturais e naturais, que levaram a que este setor tenha vindo a
perder peso ao longo das últimas décadas.
Emprego na Agricultura
A baixa densidade
populacional e o envelhecimento da população, o baixo nível de instrução e
formação dos agricultores, a incapacidade de inovar e modernizar o sistema
agrícola, as dificuldades de acesso ao crédito/financiamento e o consequente
abandono dos espaços rurais são alguns dos problemas estruturais. Já as condições
meteorológicas irregulares e adversas e a qualidade do solo são problemas do
tipo natural. Mas não só de problemas naturais e estruturais se carateriza o
problema do crescimento do setor agrícola. O orçamento anual da União Europeia
contempla 38% das suas verbas, 58 mil milhões de euros, para este setor, que
são distribuídas através da Política Agrícola Comum para cada Estado Membro.
Segundo o relatório Agriculture Atlas – Facts and figures on EU farming
policy, cerca de 72% das verbas
destinadas ao setor agrícola vão para pagamentos agrícolas que assumem a forma
de pagamentos diretos à quantidade produzida ou à área total de
produção/cultivo. A distribuição destas verbas representa, por si só, um erro
no que diz respeito à equidade de pagamentos/recebimentos.
Se, por
um lado, quem alcança um nível de produção alto, beneficia proporcionalmente do
recebimento destes subsídios, por outro lado, quem possuí muita área de cultivo
mas produz pouco, pois não existem objetivos de produção, aufere dos mesmos
direitos e benefícios. O grande problema da forma como os pagamentos são
realizados está associado ao segundo tipo, isto é, beneficia quem possui
bastantes hectares de exploração - normalmente nem são agricultores - e
penaliza o pequeno agricultor, que é quem mais precisa.
Mas o
quadro atual não nos tranquiliza. Associado à qualidade de distribuição dos
fundos comunitários está também e não menos importante, pelo contrário, a
quantidade de verbas que a UE disponibilizará a cada Estado Membro. O futuro
incerto da Europa, a sua instabilidade, a possibilidade do Brexit, e um possível
corte de verbas destinados à Política Agrícola Comum, entre outras áreas,
deveriam preocupar a sociedade portuguesa e os seus governantes. Contudo, o que
transparece é que as pessoas não percebem, ou não têm noção, da implicação que
os fundos comunitários e a agricultura têm no desenvolvimento do país e na vida
de cada um de nós.
É
urgente repensar o sector agrícola, modernizá-lo e aumentar a competitividade
da agricultura portuguesa, de modo a que o nível de produtividade se aproxime dos
níveis europeus. A economia portuguesa não deve, ou não deveria olhar para os
subsídios agrícolas ou fundos comunitários como rendimentos extras, mas sim
como investimentos para que no futuro nos possamos tornar mais independentes
das oscilações financeiras, das ajudas externas e, acima de tudo, mais
competitivos.
João Pessoa Trigo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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