A
Yield Curve é a linha que conecta as
rendibilidades (taxas de juro) das obrigações que têm a mesma credibilidade
creditícia mas que diferem na data de maturidade. Geralmente, os economistas e
os investidores olham para a Yield Curve
(YC) devido ao seu declive. Isto deriva do facto do declive ser um indicador da
evolução das taxas de juro e da atividade económica. Será de esperar que a YC
apresente um declive positivo, ou seja, a rendibilidade de obrigações com
maturidades mais elevadas seja maior do que as de obrigações de curto prazo,
isto porque as obrigações de longo-prazo têm um risco inerente mais elevado, designada
por “Normal Curve”. Pode apresentar-se também como uma linha horizontal e,
nesse caso, será uma “Flat Curve”, que será característica de um período de
transição entre uma curva normal e a curva invertida. O terceiro caso é o
assunto em discussão neste artigo, a Curva Invertida, caraterizando-se pelo
facto das taxas de juro de longo prazo apresentarem uma rendibilidade menor do
que as de curto prazo.
A
YC era encarada como apenas mais um gráfico que os académicos e os decisores
políticos usavam para fazer as suas previsões macroeconómicas. Mas atualmente
tem sido usada como um indicador para prever recessões económicas. O gráfico
acima ilustra as inversões da YC (momento em que a curva desce para valores
negativos), que coincidem com todas as recessões que se verificaram nos EUA. No
entanto,
a
relação não é imediata. No gráfico abaixo está apresentado o número de dias em que
se dá a recessão após a inversão da curva. As recessões ocorrem, em média, 22
meses após a inversão da YC, de acordo com a Goldman Sachs.
Consensualmente,
a YC tem sido admitida como o principal instrumento de previsão usada pelos
economistas e investidores. O primeiro motivo é que a política monetária tem
uma influência muita significativa no spread
da YC. Um aumento na taxa de juro irá fazer com que o crescimento real da
economia seja menor no curto-prazo e irá provocar uma horizontalização da YC.
Segundo, o facto das expectativas de inflação e da taxa de juro real estarem
contidas na YC toma um papel extremamente relevante na previsão do
comportamento da economia no futuro. Alguns investidores consideram que a
inversão mais recente pode ser uma exceção ao que tem sido o paradigma. Outros
dizem que a YC pode voltar ao normal se houver intervenção da FED, e a política
sugerida é uma continuação da facilitação das condições monetárias, ao diminuir
as taxas de juro.
Para
analisarmos o caso europeu, a única economia que pode ser comparada à americana
é a alemã, isto em termos de fiabilidade do mercado das obrigações. Os
investidores são atraídos pela liquidez e pela qualidade do crédito. No
entanto, a política de facilitação quantitativa aplicada pelo BCE retirou do
mercado muitas obrigações dos governos da Zona Euro. Assim, sendo que a oferta diminuiu,
as rendibilidades ficam ainda mais comprimidas. Neste momento, as taxas de juro
alemãs de curto prazo situam-se em território negativo e só a partir da
maturidade de 20 anos é que ultrapassam 0%.
Em Portugal, só a partir da maturidade de 7 anos é que a rendibilidade é
positiva. Mas seria fácil prevermos as condições atuais do mercado de
obrigações europeu. A taxa de juro negativa definida pelo BCE e o QE fazem com
que a rendibilidade oferecida no curto prazo pelos países da ZE seja negativa. Portanto,
a YC europeia não está invertida.
A
inversão no mercado americano ocorreu em agosto de 2019. Na ZE ainda não
assistimos a nenhuma inversão. No passado, as recessões foram todas antecedidas
por inversões na YC. Na minha opinião, com toda a evidência apresentada acima e
após a leitura de algumas avaliações empíricas, a YC é de facto o melhor
instrumento de forecasting que os economistas e investidores têm à sua
disposição. Apesar de algumas inversões não terem resultado em recessões, todas
as recessões e crises financeiras foram precedidas de inversões. Para evitar
que o pessimismo e ansiedade dos investidores norte-americanos se transponha
para a Europa, o BCE não deve alterar muito as políticas monetárias, ou seja,
deve prosseguir com taxas de juro baixas. No entanto, deverá retirá-las de
território negativo para que países como a Alemanha, onde mesmo com maturidades
muito elevadas as rendibilidades para os investidores são negativas, possam
atrair mais investimento. Nos EUA, a FED deverá recorrer a políticas
moderadamente expansionistas para demonstrar aos mercados e aos investidores
que confia na atual situação económica, para que possa corrigir a inversão da YC.
Luís
Carlos Peixoto
Referências
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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