segunda-feira, 26 de outubro de 2020

A pandemia projetou o ´e-commerce` em Portugal

Não é novidade para ninguém que o digital tem vindo a ganhar mais terreno em todas as áreas da sociedade, sendo que a Economia não é uma exceção. Cada vez mais se fala da Economia Digital e da sua importância para o crescimento económico dos países.

Em 2018, a Boston Consulting Group (BCG) e a Google realizaram um estudo em que estimavam que o digital tinha um impacto de 9 mil milhões de euros no PIB português, o que equivalia a 5% do total. Ainda assim, verificou-se que Portugal continuava abaixo da média europeia, onde o peso do digital apresentava valores médios de 8%.

Portugal ainda tem um longo caminho por percorrer no digital, mas apresenta um forte potencial de crescimento. Se, por um lado, cerca de metade dos internautas portugueses já comprou online, por outro, a penetração da Internet em Portugal já atinge níveis bastante elevados (80,9% em 2019).

A Covid-19 conseguiu fechar a população global em casa e esta viu-se forçada a adaptar as suas rotinas. Desde o trabalho remoto, ao entretenimento digital, às aulas online até ao e-commerce. Os consumidores, as empresas e o Estado não estavam preparados para a transformação digital que se verificou. A pandemia veio, então, revolucionar o modo como a sociedade vive e se relaciona, dando-se destaque à mudança de hábitos de consumo e à crescente adoção de canais digitais, consequência do confinamento e das restrições de mobilidade.

A Associação da Economia Digital anunciou no Portugal Digital Summit’20 as principais conclusões do seu estudo “Economia e Sociedade Digital em Portugal”. Neste estudo, estima-se que, este ano, aumentem para 57% os utilizadores de internet que fizeram compras online e que a intensidade de realizar compras online aumente para 73% dos compradores, em média, mais do que três a cinco vezes por mês. Assim, as estatísticas demonstram que, por um lado, provavelmente, um número alargado de pessoas recorreu pela primeira vez a alternativas digitais no que diz respeito ao comércio e, por outro, que aqueles que já faziam habitualmente compras online diversificaram ou reforçaram o seu consumo.

O tecido empresarial português, na sua maioria, não possuía um canal de e-commerce desenvolvido. O que há um ano se tratava de um reforço na presença de mercado, atualmente tornou-se fulcral para manter uma relação com o consumidor. De acordo com o Pordata, em 2019, o total de empresas portuguesas que tinha website ou homepage era de 59%, comparado com a média europeia que atingia os 77%. No ano de 2020, as estatísticas indicam que o processo de digitalização das empresas portuguesas acelerou e a sua utilização da internet aumentou. No estudo referido anteriormente, apenas 40% das empresas registavam presença online em 2019 e, agora, estima-se que cheguem aos 60%. Este crescimento deve-se, sobretudo, ao aumento do tráfego online por parte das micro e pequenas empresas, face ao ano anterior. Por sua vez, a taxa de empresas de grande dimensão que vende online situa-se nos 52%, aproximadamente.

A grande questão que se coloca é: será que o crescimento exponencial do e-commerce se manterá neste “novo normal”? Estudos recentes da BCG apontam para que, mesmo com a reabertura dos países após o confinamento, alguns consumidores continuem a ter receio ou até mesmo excluírem a hipótese de se deslocarem a lojas físicas. Para além disso, as mais recentes crises epidémicas mostram também que o e-commerce se manteve em níveis elevados após o restabelecimento de normalidade sanitária. Na crise SARS, em 2002, foi criada a maior plataforma online de compras chinesas: Alibaba.

Por isso, acredito que, apesar de haver uma grande probabilidade de o tráfego online se reduzir nestes próximos meses, devido ao retorno à vida social “normal”, a pandemia veio abrir novos horizontes e oportunidades relativamente ao digital. Não é por acaso que em março foi apresentado pelo Governo o Plano de Ação para a Transição Digital, devido à urgência de estruturar uma resposta às novas necessidades que foram criadas.


Íris Soraia Ferreira Monteiro Figueiredo da Costa 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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