sábado, 31 de outubro de 2020

Hidrogénio Verde: o combustível do futuro

O hidrogénio é obtido através de um processo chamado eletrólise, que separa o hidrogénio do oxigénio (moléculas que constituem a água) através de eletricidade. Se esta eletricidade for obtida através de fontes renováveis, obtemos hidrogénio verde, sem qualquer emissão de dióxido de carbono, tanto durante a sua combustão como durante a sua produção.

          Sendo uma alternativa válida ao gasóleo e gasolina, este combustível é uma fonte de energia limpa que ajudará à descarbonização do planeta, que é urgente tendo em conta o agravamento das alterações climáticas e a crescente procura por energia.

Fonte: EDP

          Além de sustentável, o hidrogénio verde é fácil de armazenar e de transportar, no entanto, há muitas controvérsias relativamente a este assunto e ao investimento nesta energia pelo facto de a sua produção exigir um maior gasto de energia e um custo mais elevado e, ainda, muitos cuidados com a segurança pelo facto de ser bastante inflamável.

          Este tema tem os dois lados da moeda: de um lado, estão os que são totalmente a favor da inovação e do aproveitamento das mais-valias do nosso país; e, do outro, temos os mais céticos, que não apoiam o investimento precoce por parte de Portugal, dos portugueses.

          A energia que o hidrogénio nos pode fornecer tem uma utilidade ilimitada em todos os setores: desde a indústria até às nossas casas, para empresas e cidadãos, pelo mundo fora. Claramente, a sua produção e a substituição de outros combustíveis pelo hidrogénio exigirá muita investigação e grandes investimentos, o que levará o seu tempo. Contudo, tendo em vista, para o futuro, uma economia verde e considerando os compromissos que Portugal, a Europa e vários países de todo mundo assumiram para a neutralidade carbónica (PNEC2030 e RNC2050), devemos encarar de frente os desafios tecnológicos e financeiros e não temer a transição energética e o desenvolvimento de novos modelos de negócio porque, queiramos ou não, serão uma realidade.

          Este elemento tão simples tem uma enorme capacidade para revolucionar o mundo e pode ser obtido através da utilização de águas residuais. A título de exemplo, será capaz de reduzir as emissões de carbono dos veículos ligeiros de 50 a 90% em relação aos atuais níveis (movidos a gasolina), dos especializados em mais de 35% e, no que diz respeito aos autocarros, permitirá uma poupança de combustível de 1,5 vezes maior do que os autocarros a diesel e de 2 vezes maior do que os autocarros a gás natural. No gráfico abaixo podemos observar as emissões de gases com efeitos de estufa provenientes dos transportes em alguns países da UE-27. Portugal encontra-se na 12ª posição, tendo emitido mais de 17 mil toneladas de dióxido de carbono no setor dos transportes, em 2018.

 


Fonte: PORDATA

          No final de julho, foi aprovada, em conselho de ministros, a Estratégia Nacional para o Hidrogénio (EN-H2), que pretende “promover a introdução gradual do hidrogénio numa estratégia mais abrangente, de transição para uma economia descarbonizada”. Esta prevê, até 2030: investimentos entre os 7 e os 9 mil milhões de euros; uma redução das importações de gás natural entre 380 a 740 milhões de euros; e a criação de 8500 a 12000 novos empregos, diretos e indiretos. Neste contexto, destaca-se “a criação de um projeto âncora de produção de hidrogénio verde, em Sines”, sendo uma localização estratégica não só pela existência do porto marítimo, que facilitará a exportação, mas também pelo potencial das energias renováveis (eólica e solar) que serão utilizadas na produção de hidrogénio. Considerando que o custo da energia terá um peso significativo no preço do hidrogénio, Portugal encontra aqui a sua vantagem competitiva, visto que tem o preço mais baixo de energia solar do mundo.

          Posto isto, não é difícil de perceber que, de facto, o hidrogénio será um elemento essencial para a trajetória da neutralidade carbónica de todo o mundo, com uma contribuição verdadeiramente relevante, e que Portugal poderá ter um importante papel na produção do mesmo. Portanto, deverá, na minha opinião, apostar e investir na produção de hidrogénio, tendo em vista não só o alcance dos objetivos ambientais mas também a ambição por um possível crescimento económico e por melhores oportunidades.

 

Bruna Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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