sexta-feira, 30 de outubro de 2020

O salário e a reforma mínima em Portugal

 

O salário mínimo nacional tem aumentado desde a implantação da 2ª república em Portugal. Este aumento baseia-se na vontade de aumentar o nível de vida das famílias, combatendo a pobreza e incentivando a convergência salarial no país.

Desde 2014 que a crescimento percentual da remuneração mínima paga aos trabalhadores tem sido maior do que a inflação. Como exemplo, pode ser dado o aumento de 5,1% em 2020, depois de em 2019 a taxa de inflação se ter fixado em apenas 0,3%. De acordo com o governo, o aumento salarial reflete a perspetiva da evolução dos indicadores de inflação e de produtividade como, também, “daquela que é a perspetiva do valor como um instrumento para melhorar a distribuição dos rendimentos, e melhorar a condição de vida dos trabalhadores com menores rendimentos".

A partir de 2020, o Governo decidirá "anualmente, em função da avaliação da evolução da economia, dos indicadores de produtividade, de inflação e também da evolução do emprego" a atualização do valor fixado no início deste ano, com o objetivo de chegar aos 750 euros em 2023.

Se, por um lado, o aumento do salário mínimo nominal a uma taxa superior à de inflação reflete-se no aumento do poder de compra (do salário real) de cerca de 22% da população ativa que em Portugal recebem o mínimo definido por lei, por outro lado, o incremento na qualidade de vida associado não é acompanhado pelas pessoas em situação de aposentação por velhice ou invalidez.

O aumento percentual das pensões mínimas em Portugal anda à volta dos 0,5% e 1% ao ano, desde 2014, tendo mesmo ficado abaixo do aumento no nível de preços em alguns anos. Em 2016, por exemplo, o aumento de 0,4% nas pensões não foi o suficiente para combater a deterioração do poder de compra resultante do aumento de 0,5% registado no nível de preços em 2015.

O aumento da procura induzido pelo aumento no salário mínimo leva ao aumento do nível de vida no país, que embora seja compensado na perspetiva dos trabalhadores, dado que o aumento salarial é mais do que proporcional ao aumento dos preços, na perspetiva dos pensionistas a situação é diferente.

O simples facto de o salário mínimo nacional aumentar a um ritmo exponencialmente maior do que a pensão mínima leva a que cerca de 8% dos pensionistas, abrangidos por este tipo de reformas, percam poder de compra em alguns anos e caminhem em direção oposta àquela que é a meta do governo de convergir o nível de vida da população.

Se em 2000 a pensão mínima correspondia a cerca de 55% do salário mínimo nacional, em 2020 o valor andava à volta dos 40%, uma perda de 15 pontos percentuais em apenas 20 anos. A perspetiva é que a percentagem continue a diminuir ao longo da próxima década, na medida em que o salário tem crescido a um ritmo bastante superior aquele das reformas.

Cerca de 40 000 portugueses recebem 257,28 euros de pensão mínima. Este ramo da população pode ser considerado o mais desfavorecido a nível nacional, pelo que não podemos afirmar que aumento do salário mínimo nacional esteja a contribuir para diminuir a pobreza e acelerar o processo de convergência da qualidade de vida da população portuguesa. Antes pelo contrário, ao deteriorar o poder de compra para este tipo de pensionistas, o aumento da remuneração mínima mensal impede que estas famílias se aproximem do nível de bem-estar da restante população.

Os benefícios associados ao aumento do salário mínimo nunca estiveram em causa. Aumentar a qualidade de vida das pessoas passará sempre pela convergência remuneratória, contudo, isto não implica apenas o aumento da retribuição mínima por hora de trabalho, mas também o aumento das pensões e dos apoios sociais. Caso não o façamos, corremos o risco de criar um grupo bastante mais pobre do que o resto da população, aumentando as desigualdades sociais.

 

Francisco José Campos Sousa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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