segunda-feira, 26 de outubro de 2020

O “Novo” Turismo

Definimos turismo como um conjunto de atividades realizadas por um indivíduo durante as suas viagens e estadias em lugares diferentes daqueles do seu quotidiano. Portugal é um país de referência no que toca ao turismo, graças à nossa margem litoral, bem como toda a nossa gastronomia típica, monumentos, história, etc. Por conseguinte, o turismo tem um grande impacte nas contas públicas portuguesas. De acordo com o Pordata, em 2019 o turismo representou cerca de 8,6% do PIB.

A importância do turismo tem vindo a aumentar ao longo dos anos. Todavia, com a presente crise sanitária e as restrições à mobilidade e à interação social, podemos facilmente perceber que o turismo teve uma queda abrupta. Em Portugal, o primeiro caso de COVID-19 foi detetado a 2 de março e a partir deste mês os valores começaram logo a cair. Neste mês, não tanto ainda pelas restrições, mas pelo facto de a situação ser uma total novidade e os avanços acerca do controle e do conhecimento do vírus ainda estarem numa fase muito precoce, fez com que houvesse uma diminuição de dormidas e de hóspedes, ambos, na ordem dos 60%. Em consequência, diminuíram também os rendimentos gerados pela atividade na ordem dos 60.3% em relação ao período homólogo.

Apesar da má situação em março e do receio acerca da nova situação epidemiológica, em abril e maio, com o decretar do estado de emergência, as quedas tornaram-se ainda mais acentuadas, ou seja, em relação ao ano de 2019 as quebras nos proveitos totais do turismo foram por volta dos 97%. Nestes dois meses, a atividade turística esteve praticamente estagnada, com um grande número de estabelecimentos de alojamento turístico encerrados ou sem qualquer tipo de atividade (80,6% em abril e 70,4% em maio).

Por sua vez, o fim do confinamento obrigatório e a retoma da normalidade fez com que em junho e julho já se fizessem notar melhorias. Apesar das piores prestações em comparação com o ano anterior, as quedas já não foram tão preocupantes como nos meses antecedentes. O proveito total tem vindo a subir ao longo destes meses e as variações homólogas negativas têm vindo a diminuir de intensidade. Apesar de os dados para o mês de agosto ainda serem muito preliminares, estes também apontam para uma melhoria e, inclusive, uma subida do número de dormidas para algumas regiões, como o Algarve e o Alentejo. Associado a este crescimento temos, certamente, o facto de o Algarve ser uma região de destaque na época balnear, bem como ser este o mês típico de férias de muitos trabalhadores portugueses, já que foi graças aos residentes que tivemos uma subida no número de dormidas. Percebemos ainda que o facto de a zona do Alentejo não ter sofrido quedas tão acentuadas (foi das regiões que registou sempre menores descidas) estar, muito provavelmente, relacionado com a sua pacatez e também pelo facto de esta ser das zonas menos afetadas com a situação epidemiológica.

Toda esta situação leva-nos a pensar numa nova forma de turismo. Isto é, um turismo mais ativo e não tanto de apreciação, nem de grupos. Esta alteração já se tem vindo a notar ao longo destes meses dado que os tipos de alojamento turístico que menos têm sofrido são os alojamentos locais, apartamentos turísticos e o turismo rural, dado que estes são caraterizados por um número mais pequeno de hóspedes.

No tocante ao turismo rural este permite aos turistas um vasto leque de atividades e uma maior convivência com a natureza e o ar puro, já que, por exemplo, a vida citadina não o permite. O desenvolvimento do turismo rural leva também ao combate a um dos problemas de Portugal: o abandono do interior. Ou seja, este tipo de turismo faz com que se atraia mais investimento e pessoas ao interior, combatendo a sua desertificação.

 Em suma, apesar de já se terem feito notar algumas alterações nos padrões de turismo, com toda esta nova situação, ainda estamos numa fase muito inicial e temos de trabalhar para sermos capazes de lidar com um turista mais ativo e cada vez mais exigente, apesar das restrições impostas.


Hugo Ferreira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: