domingo, 25 de outubro de 2020

O envelhecimento da população no Sul da Europa

 O processo de transição para uma população mais envelhecida tem sido um fenômeno contínuo e cada vez mais recorrente, que afeta a maioria dos países Europeus. A população da EU-27 em 2019 era de cerca de 446,8 milhões de pessoas, sendo que a percentagem de indivíduos com mais de 65 anos era de 20,3% (um acréscimo de 0,3 pontos percentuais comparado ao ano anterior, e de 2,9 pontos percentuais em 10 anos), tendência que se prevê tornar mais acentuada nas próximas décadas.

Este processo tem colocado grande pressão sobre os países e as suas economias, especialmente nos países do sul da Europa, em que a mais recente tendência demográfica demonstra um ritmo de envelhecimento rápido e preocupante. Itália apresenta a mais elevada percentagem de indivíduos com mais de 65 anos, em comparação com a população geral, com cerca de 22,8%, seguida da Grécia com 22% e, por fim, com 21,8%, Portugal e Finlândia.

De acordo com os dados apresentados pelo Eurostat referentes a 2019, o crescimento da percentagem relativa de pessoas mais envelhecidas pode ser possivelmente explicado por diversos motivos sociais. O aumento da longevidade é um padrão visível há algumas décadas e fortemente relacionado com o aumento significativo da esperança de vida na maioria dos países, no qual o avanço na tecnologia, o investimento na educação e maior acesso a cuidados de saúde, podem ser algumas das explicações para o crescimento deste fenómeno. Podemos, inclusive, referir o contributo dos níveis consistentemente baixos de fertilidade ao longo dos anos, com cada vez menos nascimentos, e que desta forma conduzem à diminuição da população mais jovem face à mais envelhecida. O aumento da educação, o acesso abrangente a informação sobre saúde pública, taxas de mortalidade infantil cada vez mais baixas, entre outros, são explicações plausíveis. Existe ainda uma última explicação para esta drástica mudança das estruturas etárias, e essa seria a migração internacional. A saída de indivíduos mais jovens e em idade fertil, não compensada pela entrada de imigrantes, conduz ao contínuo declínio de população jovem e, consequentemente, a menos nascimentos.

Dados os fatores referidos anteriormente, a previsão futura é de um contínuo envelhecimento, e aumento significativo da população mais idosa, o que desencadeia um conjunto de impactes sociais, culturais e econômicos significativos, que levaram à necessidade de um ajustamento urgente a este contexto. O impacte na sustentabilidade económica é uma questão preocupante para os países do sul da Europa, que verificam uma redução progressiva da força de trabalho, e pressão nos sistemas de segurança social, entre outros.

O serviço nacional de saúde Português emitiu um despacho com estratégias nacionais para o envelhecimento ativo e saudável da população entre 2017 e 2025, em que são mencionadas linhas orientadoras nas áreas da saúde, educação, segurança e investigação, para melhorar a qualidade de vida das pessoas idosas. Em Itália foram conduzidos estudos que levaram ao desenvolvimento de políticas que visam promover uma maior qualidade de vida e maior estabilidade económica e social. Por fim, na Grécia foram realizados estudos que alertaram para as condições precárias dos idosos e uma urgente necessidade de repensar as políticas fiscais e migratórias do país.

Assim, tendo em conta o que foi acima descrito, acredito que colocar em prática as políticas sociais, fiscais e migratórias podem ser fundamentais no abrandamento do envelhecimento. Promoção de estilos de vida saudáveis, maior vigilância e melhores cuidados permitiriam garantir um envelhecimento saudável. Algumas medidas que acredito que se mostrariam úteis seriam facilitar a integração da mulher no mercado de trabalho após dar à luz, políticas fiscais atrativas para investimento e imigração (especialmente dos mais jovens), acesso geral a cuidados infantis poucos dispendiosos ou gratuitos, e diminuir cargas fiscais impostas às famílias. 


Vera Araújo 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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