quinta-feira, 22 de outubro de 2020

China: a única grande economia que vai crescer em 2020


É do conhecimento comum que a crise sanitária que vivenciamos constitui um problema global, todavia existem países, como é o caso da China, que não foram tão gravemente afetados pela COVID-19. A China foi o país onde ocorreu o primeiro caso da doença pelo que teria mais dificuldade em controlar o vírus e, consequentemente, os efeitos mais graves nas diversas dimensões. Mas, surpreendentemente, é um dos países com menos impactos negativos, sendo que pode terminar 2020 com um evolução do PIB positiva.

O FMI prevê que, em 2020, o PIB chinês irá crescer 1,9%, que apesar de ser menor relativamente aos anos anteriores, é positivo, facto que a generalidade dos outros países do mundo não apresenta. De acordo com o Gabinete Nacional de Estatísticas chinês, a China tornou-se o primeiro grande país a retomar o crescimento económico desde o início da pandemia, alcançando uma expansão inesperada de 3,2% no segundo trimestre.

O período atual é de elevada incerteza, no entanto, não há dúvidas que o COVID-19 se trata de um fenómeno de elevada gravidade dadas as suas bastas consequências, quer na esfera social e da saúde, quer na economia, agravadas no horizonte temporal devido à dificuldade em controlar a pandemia, dado que há uma grande mobilidade de pessoas entre diferentes países causada pela globalização. Assim, analisando o panorama global, é difícil perceber a razão pela qual a China terá um crescimento positivo em 2020. A verdade é que a escala dos impactos do COVID-19 varia entre os países do mundo, consoante a sua dependência em relação a alguns setores e dependendo das medidas tomadas com vista a solucionar a crise sanitária.  

A China, apesar de todos os efeitos devastadores do vírus atual, teve um bom desempenho, pelo que defendo que a sua estratégia deve ser seguida pelos outros países fortemente afetados pelo vírus, em que as suas economias não conseguiram suportar os impactos desta crise.

Por um lado, as exportações da China resistiram aos efeitos prejudiciais da pandemia que vivenciamos. As medidas tomadas com o intuito de solucionar a pandemia atual originaram necessidades, como a compra de equipamentos hospitalares, de máscaras e de desinfetantes. Com a globalização, a maioria dos países do ocidente optaram pela estratégia de desindustrializar-se e focaram-se no fornecimento de serviços, pelo que estes produtos requeridos não estão disponíveis nesses países. Deste modo, têm de importá-los da China, pois tornou-se no principal fornecedor de produtos transformados.

Por outro lado, à medida que o número de infetados de COVID-19 aumenta ao redor do planeta, a China regista cada vez menos casos. Assim, para além da razão anteriormente enunciada, a China também conseguiu, através de diversas medidas tomadas pelo Estado, controlar o contágio, o que permitiu que quase todo o país deixasse de estar em confinamento mais cedo do que o esperado e contribuiu para o crescimento positivo da sua economia.

Assim sendo, o facto desta crise conectar diversas dimensões reforça a necessidade de uma reconfiguração das estratégias anteriores à crise nos países mais afetados. Mais concretamente, considero que os países devem refletir sobre a recolocação da indústria no centro da atividade económica, nomeadamente o fabrico de produtos competitivos, de modo a evitar esta forte dependência de fornecedores externos. Além disso, penso que poderá também ser necessário um abrandamento do processo da globalização ou até mesmo alguma desglobalização, de forma a repensar a forma de organização das cadeias de produção e contribuir para um maior controlo do contágio do atual do vírus.

 

Catarina Vieira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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