quarta-feira, 28 de outubro de 2020

COVID-19: impacte nos fluxos migratórios e a importância dos migrantes

 

Nos últimos anos, os fluxos migratórios estavam relativamente estáveis, mas pararam no primeiro semestre de 2020 devido à pandemia COVID-19.

Em 2019, os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico aceitaram cerca de 5,3 milhões de migrantes, com exceção da Turquia e da Colômbia, valor esse muito semelhante ao do ano anterior, alcançando assim um nível estável. Embora os fluxos tendessem a aumentar principalmente no Japão e em Espanha, os fluxos para os principais recetores da OCDE, Alemanha e Estados Unidos, continuavam a diminuir.

A crise sanitária causada pela doença COVID-19 trouxe consigo uma profunda recessão económica. No início da pandemia, as primeiras projeções previam que a COVID-19 tivesse um grande impacte sobre os fluxos migratórios no primeiro semestre do ano, com uma diminuição de aproximadamente 46% no número de novas autorizações de residência concedidas a migrantes na OCDE. No entanto, pensávamos que esse efeito pudesse ser compensado por um aumento dos fluxos durante a segunda metade do ano, nomeadamente para estudantes internacionais, mas a atual desaceleração económica agravará também o impacte sobre a migração laboral. Neste momento, 2020 é considerado o ponto mais baixo para a migração internacional na área da OCDE.

O número de imigrantes no mercado de trabalho tinha vindo a melhorar em 2019. Em média, mais de dois terços dos imigrantes estavam empregados. Porém, as consequências económicas da pandemia COVID-19 podem vir a atrasar o progresso verificado nos últimos anos na inclusão de imigrantes no mercado de trabalho. A pandemia revelou e reforçou as vulnerabilidades dos migrantes empregados, pois estes são mais propensos a manter contratos temporários e tendem a se concentrar-se mais nos setores mais afetados pela pandemia. No entanto, também realçou e tornou ainda mais visível a importância e o contributo dos trabalhadores migrantes.

Um estudo recente da Comissão Europeia destacou a colaboração e o apoio essencial tanto de migrantes como de refugiados no suporte das economias em diferentes setores, como a educação, construção, saúde e agricultura, tornando assim evidente a dependência económica do trabalho dos migrantes. Contudo, vários países ainda não reconhecem a migração como um aspeto positivo.

Segundo o Plano de Recuperação Económica de Portugal 2020-2030, é fundamental criar condições para construir uma economia inclusiva e aberta, de tal modo que, da minha perspetiva, deve-se utilizar de forma eficaz a capacidade produtiva do país, investir nas exportações, apostar na educação e na tecnologia e atrair investimento externo e dinamizar o interno.

Na área da migração, Portugal é dos países europeus que mais se tem esforçado por promover o acesso à saúde com políticas mais inclusivas. Porém, os migrantes são dos grupos que menos utilizam os serviços de saúde, principalmente os mais vulneráveis ou indocumentados.

Posto isto, não é suficiente reconhecer a contribuição dos migrantes, mas sim imprescindível facilitar a sua integração e incrementar ações e políticas que providenciem os direitos dos trabalhadores e a sua dignidade.

Assim sendo, é importante, na minha opinião, reconhecer a importância dos imigrantes e permitir que estes tenham oportunidades de desenvolver as suas competências e aptidões, uma vez que são trabalhadores fundamentais nos setores agrícolas e no sistema de saúde, e que poderão ser uma das soluções para a recuperação dos efeitos económicos adversos causados pela pandemia COVID-19.

 

Ana Teles

Referências Bibliográficas:

·       Chamie, J. (2020). International Migration amid a World in Crisis. Journal on Migration and Human Security8(3), 230-245.

·       d’Albis, H., & Boubtane, E. (2020). Macroeconomic Consequences of International Migration for OECD Countries. In Understanding Migration with Macroeconomics (pp. 59-86). Palgrave Macmillan, Cham.


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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