terça-feira, 27 de outubro de 2020

As propinas em Portugal

 

Portugal até ao ano letivo 2018/2019 estava entre os países europeus onde os alunos pagavam mais para ter acesso ao ensino superior. As propinas chegavam mesmo a ultrapassar os 1.000€ por ano, ou seja, uma pessoa para obter a sua licenciatura teria de despender, no mínimo, mais de 3.000€.


Como se pode verificar no gráfio abaixo, com dados referentes a 2018, existem alguns países europeus onde o ensino superior é gratuito e outros onde excede os 3.000€ anuais, notando-se assim grandes assimetrias nas políticas levadas a cabo no âmbito da educação nos países do “velho continente”.


Em Portugal, têm surgido vários movimentos e manifestações para demostrar o desagrado relativamente ao valor que as propinas assumiram nos últimos anos, dado que estas aumentaram sucessivamente nas últimas décadas.

 A verdade é que o valor elevado das propinas, acrescido às despesas de mobilidade com que muitos estudantes se deparam, não só as viagens como o aluguer e despesas de habitação, tornam o seu sonho de ingressar no ensino superior impossível.

No ano de 2019, as propinas do ensino superior público, em Portugal, foram reduzidas em cerca de 150€, ficando assim na ordem dos 870€, anuais. No ano que agora vigora, verificamos uma nova redução no valor das propinas semelhante ao do ano passado, rondando assim os 700€, por ano.

Estas alterações têm um forte impacte na comunidade estudantil, sendo um incentivo para novos alunos apostarem na sua formação, diminuem a taxa de abandono do ensino superior por questões económicas e são a prova de que o governo está a ouvir os seus jovens, que são o futuro do país.

Contudo, é de salientar que no nosso país os estudantes com posses económicas reduzidas não são excluídos do acesso ao ensino superior, existindo diferentes meios de apoio, designadamente atribuição de bolsas e de quartos nas residências universitárias ou até mesmo a possibilidade de contrair um empréstimo. Mas, como toda a gente sabe, estes apoios muitas vezes não chegam para fazer face a todas as necessidades da comunidade estudantil.

 O próximo passo, no que toca ao ensino superior, é torná-lo gratuito para todos os estudantes, como já se verifica noutros países. Os últimos dois anos representaram grandes avanços para este objetivo caso as reduções se tornem efetivas, e não sejam uma mera medida ocasional refutada posteriormente com as propinas a voltarem aos valores elevados dos últimos anos.

A maior questão agora prende-se ao facto de ser, ou não, esta medida realmente positiva para os estudantes?

Esta medida apenas será considerada positiva se os mecanismos de apoio social forem revistos, isto é, se o valor das propinas for reduzido e a tabela genérica de atribuição das bolsas não for corrigida, iremos verificar uma quebra do número de alunos abrangidos por este apoio, podendo pôr o seu futuro académico em causa. O mesmo é aplicado a alunos de mestrado, dado que o valor das bolsas que estes recebem está na maioria das vezes associado ao valor das propinas do 1º ciclo (licenciatura). Verifica-se assim que a mera descida do valor das propinas poderá não ser necessariamente um apoio para os alunos universitários.

Posto isto, deveria ser feita uma reflexão, não só por parte dos políticos, como também da sociedade que está diretamente ligada ao ensino superior, sobre quais as melhores medidas a serem implementadas para os alunos, isto é, se a redução das propinas ou um aumento dos apoios prestados, nomeadamente o número de bolsas atribuídas, de camas disponíveis nas residências universitárias e os apoios à deslocação diária dos estudantes, entre outros, ou mesmo, uma combinação de ambos.

Todavia, convém salientar que, em Portugal, tal como na maioria dos restantes países europeus, as propinas são a principal fonte de receitas das universidades, sendo necessário garantir que estas reduções não condicionem a qualidade do enino.

 

Gabriela Carvalho

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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