domingo, 25 de outubro de 2020

Até que ponto é possível prever realisticamente a recuperação económica pós Covid-19?

 

  A crise sanitária que vivemos encontrou um mundo completamente despreparado para a enfrentar e face a ela temos observado várias consequências indesejadas, desde consequências a nível da saúde (como é óbvio) mas também uma recessão económica sem precedentes. Como tal, ainda é uma grande questão para os especialistas a melhor forma de lidar com ela. Já existem várias previsões para um crescimento económico no próximo ano mas até que ponto podemos prever qualquer coisa sendo que esta pandemia ainda está longe de ser contida?

   A pandemia veio mudar completamente os nossos hábitos, os nossos costumes, a nossa vida. Uma grande parte da população enfrentou meses em layoff, com rendimentos significativamente mais baixos. O consumo diminuiu, o turismo caiu, restaurantes, cafés e muitos outros estabelecimentos de atendimento ao público viram-se sem poderem abrir as portas durantes meses. Toda esta complicada situação traduziu-se numa grave contração da economia. Mesmo depois de o lockdown ter começado a ser levantado aos poucos, a vida nunca regressou ao normal e todas as medidas de contenção tomadas e o distanciamento social, ainda que necessários, continuam a conter uma melhoria mais rápida da economia.

   O Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê um encolhimento da economia mundial de 4,4%. É previsto um aumento na desigualdade e 115 milhões de pessoas na miséria só neste ano, de acordo com o Banco Mundial. Portugal pode enfrentar uma diminuição do seu PIB de 8,0% mas esta pode ser até de 9,8%, de acordo com as estatísticas da CE, com perdas particularmente elevadas nas exportações do país, especialmente no turismo. Para o ano de 2021, o FMI prevê um crescimento de 5,2% no PIB mundial. Para Portugal, faz previsões semelhantes, de 5,0% do seu PIB. Este crescimento pode até ser de 6,3%, de acordo com previsões mais otimistas (OCDE).

  Dado o estado de completa incerteza que ainda vivemos, estas previsões são, na minha opinião, bastante incertas e demasiado otimistas. Isto porque, infelizmente, a pandemia ainda está longe de ser contida. Estamos a viver a segunda vaga da pandemia, com um crescimento exponencial de casos todos os dias. Muito provavelmente, medidas mais restritivas vão ter de ser implementadas, e com elas virá um agravamento ainda maior da situação económica e maior dificuldade na recuperação. É possível e provável que possa haver uma terceira vaga, até uma quarta vaga. Como tal, é um trabalho extremamente difícil tentar prever consequências certeiras e perspetivas de recuperação quando ainda estamos tão longe de compreender inteiramente o vírus, e sem certezas de uma vacina.

  Apesar de serem necessárias e úteis para podermos ter uma noção do estado da economia e das consequências que a pandemia causou até agora, é importante termos a noção de que estas estatísticas possam estar bastante aquém do impacte que a pandemia possa ainda vir a ter. Além disso, não devemos animarmo-nos demasiado com as expectativas de crescimento para o próximo ano quando não temos qualquer indicação do que acontecerá na luta contra o vírus, que ainda está longe de ser vencida. E enquanto a contenção deste não for alcançada, é extremamente improvável que exista uma melhoria satisfatória na economia. Como tal, só quando já existir uma perspetiva real do que vai acontecer em relação ao vírus poderão ser feitas previsões mais realistas.

 

Raquel Silva Novais

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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