sexta-feira, 23 de outubro de 2020

Covid-19 e os Mercados Financeiros

 

Os mercados financeiros são uma estrutura de transações, quer de compra quer de venda de valores mobiliários, tais como ações, obrigações, moeda, mercadorias, commodities, para além de outros bens, títulos e contratos de futuro. Desta forma, podemos então contextualizar dizendo que o mercado financeiro é o local onde ocorrem operações entre aqueles que possuem recursos para investir e aqueles que necessitam desses mesmos recursos para se financiar.

A crise sanitária que estamos a viver devido à pandemia causada pelo vírus SARS-CoV-2 está a ter impacto no desempenho dos mercados financeiros, contudo esse mesmo impacto que se faz sentir na generalidade dos países varia de acordo com as medidas mais ou menos restritivas tomadas de forma a controlar a propagação do vírus, estabelecendo assim um trade-off entre os cuidados de saúde e a economia.

O sentimento das principais bolsas europeias acusa, por um lado, o crescimento do número dos novos casos de contágio, naquela que é denominada como segunda vaga, e que está a levar os diversos países a tomarem novamente medidas de contenção mais duras e que podem vir a causar um agravar do problema económico que vemos no horizonte. Por outro lado, os investidores sentem-se confiantes a operar no mercado dado que as taxas de juro estão próximas de zero, e vemos pacotes de ajuda económica a serem aprovados na maioria dos países. Estes pacotes de ajuda económica estão a ser operacionalizados na maioria dos casos por injeção económica, isto é, recorrendo à forma mais direta de introduzir dinheiro, ou seja, compram ativos financeiros diretamente de forma a aumentar a liquidez, muitas vezes sem ter em atenção a qualidade e o risco envolvido.

1- Gráficos do índice PSI-20 e do Euro Stoxx 50 a 1 ano - Data:22/10/2020



Olhando para as bolsa portuguesa e bolsa europeia, usando como principais indicadores o desempenho dos índices PSI-20 e o Euro Stoxx 50, vemos que as mesmas se encontram em pontos distintos: enquanto que o Euro Stoxx-50 está nos mesmos valores de fevereiro de 2019, apesar da produção e os indicadores estarem algo diferentes; o PSI-20 lidera pela negativa numa altura em que a pandemia teima em não dar tréguas, num sentimento que denota a falta de confiança dos investidores perante a recuperação económica e o crescente número  de novos contágios pelo vírus em Portugal.

Enquanto esta política desenvolvida através de estímulos, embandeirada nos EUA, e tendo em conta o desincentivo à poupança convencional (taxas de juro próximas de 0%), fez aumentar em muito o preço dos ativos, quer seja das ações, obrigações, imobiliário, e todos as outras formas que as pessoas têm de acumular riqueza, denotando-se atualmente um “desligamento” entre a economia e a realidade, chegando ao ponto em que a economia americana enquanto contabilizava números recordes de desempregados e os indicadores eram tudo menos positivos, por exemplo a produção e os lucros caiam, a bolsa de valores registava valores mais altos que aqueles antes da pandemia. Podemos olhar com especial atenção para a empresa Tesla, conhecida pelos carros elétricos, que desde o início da pandemia triplicou o seu valor, num crescimento quase inexplicável.

2- Gráficos do índice S&P500 e das ações TESLA a 1 ano - Data:22/10/2020



E é aqui que deixa de ser importante perceber de economia, pois esta não acompanhou a valorização de mercado, e estamos perante um momento que é visto por muitos como uma bolha prestes a explodir. As economias em todo o mundo estão próximas daquela que pode ser a pior recessão em muitas décadas, contudo o preço dos ativos em nada retrata esse acontecimento. A única forma de fazer sentido é pensar que as taxas de juro continuarão próximas de zero e os estímulos económicos, tal como a “Bazooka” que se espera na Europa e o quantitive easing dos EUA, se manterão por muito longo de tempo.

Desta forma e olhando quer os acontecimentos quer à indefinição presente no momento face à pandemia, entre as quais a perspetiva de descoberta da vacina, vemos que a economia poderá sofrer naquele que é o trade-off com a saúde. Mas a questão que prevalece é: até quando a saúde permitirá que os mercados financeiros se mantenham saudáveis?

 

Luís Filipe Rodrigues Martins

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]


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