Em março de 2020 a doença viral COVID-19 foi classificada como pandemia mundial e com o confinamento veio um enorme impacte social e económico. Dez meses depois dos primeiros casos em Wuhan, China, as consequências para a produção nacional, receitas de turismo e desemprego são mais que evidentes. No entanto, existente muitos efeitos negativos que se mantém pouco reconhecidos, principalmente no que toca aos direitos humanos.
Logo no inicio do ano a
China tentou encobrir informações, subestimando a sua gravidade, mas também
prendeu pessoas e censurou debates e publicações online, pondo em causa o direito à liberdade de expressão. No Irão
tem havido uma inconsistência nos números anunciados e na Tailândia jornalistas
enfrentaram ações jurídicas por críticas ao governo.
Quando as notícias da
doença começaram a dominar os telejornais, assistiu-se a xenofobia e
discriminação contra pessoas de origem asiática. Muitos destes preconceitos
ainda continuam, principalmente devido à persistência de Donald Trump em
chamar-lhe “o vírus chinês” e culpar a China pela resposta desastrosa da sua
administração ao vírus.
A ONU publicou um
relatório sobre o impacte para a igualdade de género: o aumento de responsabilidades
de cuidar das crianças devido encerramento das escolas e das necessidades dos
idosos caíram nas mulheres, que tiveram de suportar mais trabalho de
assistência não remunerado. Ainda mais preocupante: número de casos de
violência doméstica durante o confinamento aumentou até 60% na Europa. “Muitas
dessas mulheres estão agora presas em casa com os seus agressores, lutando para
aceder a serviços que estão a ter cortes e restrições”, afirmou António
Guterres.
A falta de água e
saneamento criou problemas adicionais em muitas populações, apesar de ser um
direito humano e considerado essencial para proteger a saúde durante este
surto. O acesso à educação também foi posto em causa para milhares de crianças.
Primeiro, a transição para aulas online
significa que os alunos sem internet ficaram sem acesso às aulas. Em segundo lugar,
tal pode aumentar as taxas de abandono escolar. Por fim, isso deixa filhos de
famílias com baixo rendimento sem refeições fornecidas na escola, das quais
sempre dependeram.
Os problemas da saúde não
se limitaram aos infetados com Covid-19. Os profissionais de saúde (escassos em
muitas regiões) foram os mais expostos, muitas vezes sem meios de proteção
adequados. Assistiu-se a hospitais a entrarem em colapso total, sem acesso a
água e eletricidade.
O desemprego causado
diretamente pela pandemia afeta, sobretudo, pessoas que já tinham renumerações
baixas. Sem os seus salários, muitas destas ficaram sem conseguir pagar a sua
renda, e poderão ser despejadas (em estimativa, 40 milhões de americanos estão
nesta situação). Existe um receio que esta situação leve a um aumento
exponencial as taxas de sem-abrigos e pobreza extrema.
|
Os refugiados foram uma
das principais vítimas. Representando cerca de
1% da população mundial, as barreiras ao seu acesso aos seus direitos humanos
aumentaram. Os que vivem em campos estão privados de sistemas básicos de saúde,
saneamento, ou algum tipo de distanciamento social, que já referirmos ser
fundamental ao combate da doença. Nos países de acolhimento, foram também muito
afetados pelo desemprego, ou noutros casos, suspenderam os pedidos de asilo (se
não foram mesmo impedidos que entrassem nas suas fronteiras). Por fim, também
sofrem de discriminação no acesso a testes e as taxas de abandono escolar estão
em risco de aumentar ainda mais.
A Covid-19 expôs muitos
dos problemas estruturais, principalmente na discriminação no acesso à saúde
das populações marginalizadas, como a comunidade LGBT+ e pessoas de cor.
Por fim, aumentou as
desigualdades sociais do mundo: enquanto os bilionários ganharam 637 biliões de
dólares durante esta crise, o número estimado de pessoas em pobreza extrema é
150 milhões, em 2021, o primeiro aumento registado pelo Banco Mundial em mais
de 20 anos.
Inês
Filipa José
Bibliografia:
https://www.hrw.org/pt/news/2020/03/23/339654
https://www.weforum.org/agenda/archive/human-rights/
Sem comentários:
Enviar um comentário