quinta-feira, 29 de outubro de 2020

COVID-19 na Terra, tempestade no Ar

 

Vivemos num mundo em que a circulação de bens e pessoas é um grande dinamizador das economias, principalmente o transporte aéreo. No entanto, em tempos de pandemia devido à COVID-19, o setor da aviação, que dinamiza o turismo e o comércio internacional, sofreu drásticas transformações. Apenas quatro meses depois do primeiro caso de COVID-19 ter sido relatado na China, a doença alastrou-se pelo mundo e atingiu mais de dois milhões de pessoas. Ao dia de hoje, estamos perto de atingir os 50 milhões de casos a nível mundial.

A crise sanitária que estamos a viver afetou diretamente o comércio internacional. A pandemia está a atingir o comércio global de uma forma mais profunda e duradoura do que assistimos noutras crises do passado. Num estudo realizado pelo McKinsey Global Institute, estimou-se que a procura comercial global pudesse cair entre 13% e 22% no segundo e terceiro trimestres de 2020, o que nos deixou alarmados, uma vez que na Crise Financeira Global de 2008 a queda rondou os 5%. Apesar destes números assustadores, o impacte significativo nos volumes de comércio, e por sua vez na economia, irá ser recuperado ao longo do tempo.

Numa economia global, para além do comércio internacional, é importante referir que o setor da aviação potencia a livre circulação de pessoas, seja por motivos profissionais ou de lazer. A Associação Internacional de Transportes Aéreos (IATA) considera que o setor da aviação se encontra numa situação frágil. Embora quase todos os setores sintam alguma repercussão, incluindo a fragilidade da saúde pública, poucos foram tão afetados como o setor da aviação recreativa.

A queda repentina e acentuada na procura por viagens de avião é bem mais violenta do que a observada depois do 11 de setembro de 2001 e da Crise Financeira de 2008, em conjunto. Com o fecho das fronteiras internacionais e a imposição de diretivas enquanto medidas nacionais de contenção, a procura de viagens em pandemia é quase inexistente. Apesar da queda repentina nas receitas, uma parte das companhias aéreas tem liquidez de curto prazo suficiente para sobreviver nos próximos três a seis meses. Não obstante, são já conhecidas companhias que declararam falência.

Travar o turismo não significa necessariamente que se congele a possibilidade de voar com os aviões dessas companhias. Aliás, sendo certamente uma das melhores medidas desta pandemia, mesmo com as frotas suspensas ou a maioria dos voos cancelados, as companhias aéreas direcionaram os seus recursos para auxiliar no reforço de alívio da crise. Várias pessoas foram transportadas para hospitais em aviões comerciais, que chegaram também a servir para transporte de carga.

Mas será o uso dos aviões a salvação das companhias aéreas? Certamente que não. Numa perspetiva de arranjar solução, o mais fácil seria atribuir subsídios diretos, ajudas financeiras diretas, como empréstimos do governo ou garantias para o aprovisionamento da dívida de instituições financeiras ou, até, reduzir impostos às companhias de aviação. O que, na minha modesta opinião, apenas conduz a uma futura competição mais feroz entre elas, havendo vantagens comparativas indestrutíveis. Daí considerar que os governos têm de adaptar os critérios de distribuição dos incentivos à concorrência.

Para ajudar a formular uma resposta a estes desafios, a IATA e a McKinsey fizeram uma parceria para desenvolver o Air Travel Pulse, um painel que fornece uma visão atual e abrangente da situação da aviação e indicações de recuperação. O objetivo é permitir que as companhias aéreas e outros participantes do setor avaliem a sua progressão, aloquem recursos e ajustem os preços nos próximos meses.

 

No gráfico, podemos observar a abrupta queda na compra de viagens em meados de março (início da pandemia). No entanto, a confiança dos passageiros parecia estar a ganhar terreno na época da Páscoa, uma vez que aumentaram, ainda que pouco, o número de voos adquiridos.

É também claro nos dados do gráfico que, apesar de as fronteiras estarem abertas tanto para questões de trabalho como de lazer na época balnear, o número de passageiros a circular internacionalmente não foi exorbitante. Será que o pico de casos que estamos a assistir tem quase que exclusivamente a ver com o incumprimento das regras intra-país? Certamente que sim! O volume de circulação de pessoas entre países não foi grande o suficiente para elevar o número de infetados como tantos se preocupavam. Resta-nos a esperança de que a ciência, em parceria com a economia, nos ajudem a sair da tempestade.

 

Constança Soares da Costa

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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