quarta-feira, 20 de outubro de 2021

A dor invisível de doenças mentais: a falta de investimento em saúde mental na UE e OCDE...

            Felizmente, como portugueses, temos a sorte de ter um Sistema Nacional de Saúde com bons profissionais que, “gratuitamente” (apesar de contrapartidas como impostos, taxas moderadoras, ...), cuidam de nós e da nossa saúde. Mas isso só se as doenças forem físicas, pois para quem tem doenças mentais a situação é outra. É necessário pagar 60 euros ou mais por consulta num psicólogo ou psiquiatra. Deixem-me ser clara: o SNS também oferece consultas com estes profissionais, mas é sabido que o setor privado predomina sobre o público neste ramo da saúde.

          Porquê? Bem, a parcela de gastos em saúde que os países da UE (e OCDE) dedicam aos cuidados psicológicos é diminuta, o que faz com que a maioria dos profissionais prefira pertencer ao setor privado, deixando o setor público com défice de psicólogos, psiquiatras, psicoterapeutas, etc. Ou, pior, desmotiva a escolha deste tipo de carreira. Assim, os doentes são deixados não só à mercê de dificuldades sociais e pessoais que ter uma doença mental acarreta, mas também de dificuldades económicas. As pensões de baixa médica são baixas, e os custos de tratamento das doenças são altas.

          De facto, a Sociedade Portuguesa de Psiquiatria e Saúde mental apontou para os seguintes números: 165 milhões de europeus são anualmente afetados por uma perturbação/doença mental e “apenas um quarto dos doentes com perturbações mentais recebe tratamento, e só 10% têm tratamento considerado adequado”. Acrescenta-se que “as doenças e as perturbações mentais tornaram-se, nos últimos anos, na principal causa de incapacidade e numa das principais causas de morbilidade nas sociedades”. E, segundo a OCDE, o custo económico das doenças mentais pode ser de até 4% do PIB.

Fonte: excerto de parte de uma imagem de https://www.oecd.org/health/health-systems/Mental-health-Facts-and-Figures.pdf

          Tais dados deveriam incentivar o investimento. Para tantos europeus, seria de esperar que o número de médicos especializados nesta área fosse igualmente grande. Mas não. A média da OCDE é de 0,18 psiquiatras por 1000 habitantes, sendo que Portugal está ainda abaixo deste número. Quanto aos gastos públicos em saúde mental, apenas o Reino Unido, a Noruega e a França estão acima do limiar dos 10%. A meu ver, são números francamente baixos.

          A discussão deste debate aumentou com o aparecimento da pandemia e a preocupação com aumento de depressão, ansiedade, e outros nos jovens e adultos que desta adveio. Contudo, a meu ver, meros diálogos não são suficientes nem se têm traduzido em melhorias significativas.

          Assim, a minha opinião é: a saúde mental dos cidadãos é tão importante como a física, já que, além dos problemas pessoais, acarreta também um custo para a sociedade (em termos de produtividade, desemprego, consumo, etc.). Deste modo, é do interesse dos doentes e de todos que estes tenham acesso fácil a tratamento adequado e qualificado, independentemente da capacidade financeira. Cabe ao governo de cada país, e às entidades supranacionais (para que todos os países possam convergir neste sentido), promover e financiar este ramo da saúde.

          Para terminar, acredito que a nova geração é mais consciente e preocupada com este problema e, como tal, o futuro trará resultados animadores e melhores estatísticas!

 

Bruna Sequeira

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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