sexta-feira, 22 de outubro de 2021

O “apagão” tecnológico

          No passado dia 4 de outubro de 2021, sentiu-se a paralisação das redes sociais mais utilizadas no mundo durante mais de 6 horas. A partir das 16:30H, fomo-nos apercebendo que o Instagram não atualizava, o WhatsApp não funcionava e o Facebook não carregava nem permitia o envio de mensagens através do Messenger. Para muitos, isto foi o “fim do mundo”, mas para outros foi apenas uma troca de meio de comunicação, uma vez que as mensagens ou chamadas telefónicas continuavam a funcionar e redes sociais como o Twitter ou TikTok continuavam ativas.

A empresa de Mark Zuckerberg, detentora das redes sociais que estiveram em baixo até às 23 horas do dia 4 de outubro, revelou nessa noite que o “apagão” teve origem em problemas internos devido a uma alteração de configuração defeituosa. Nessa noite, através da rede social Twitter, o responsável pela área da tecnologia do Facebook (CTO), Mike Schroepfer, pediu “sinceras desculpas”.

Este pedido de desculpas pode ser encarado por 2 diferentes prismas: (1) tendo em conta o impacto do “apagão” na economia mundial; e (2) tendo em conta o impacto do mesmo na saúde mental da população.

De acordo com a plataforma Downdetector, um total de 10,6 milhões de pessoas foram afetadas, mas estima-se que esse número seja muito maior: 3,5 mil milhões de pessoas.

(1) Impacto económico

A riqueza pessoal do fundador do Facebook caiu em mais de 6 mil milhões de dólares. De acordo com a Bloomberg, Mark Zuckerberg desceu um degrau no ranking dos mais ricos do mundo. As ações do gigante tecnológico caíram 4,9%, fazendo com que o net worth do mesmo descesse para 121,6 mil milhões de dólares, ficando abaixo do fundador da Microsoft, Bill Gates, na quinta posição no índice Bloomberg Billionaires.

A ONG NetBlocks, que se dedica à cibersegurança, estima que devido à diminuição de receita das redes sociais, a economia global poderá ter perdido 160 milhões de dólares (cerca de 138 milhões de euros) em apenas uma hora.

Com o Facebook, o Instagram e o WhatsApp em baixo por 6 horas, através de uma ferramenta da NetBlocks que estima o impacto económico global de existir uma paralisação da internet, foi possível determinar que a perda rondou os 968,537,026 dólares. O impacto na economia Portuguesa foi de 2,361,168 euros.



https://netblocks.org/cost/

(2) Impacto da saúde mental

Este “apagão” teve repercussões na imagem da empresa. A reputação dela já estava fragilizada com as declarações da ex-funcionária Frances Haugen que, depois da sua demissão, divulgou milhares de documentos internos onde acusa a empresa de enganar os investidores e sobrepor o lucro à segurança dos seus utilizadores, nomeadamente a saúde mental dos adolescentes. Estas revelações foram originalmente feitas em anonimato no jornal The Wall Street Journal e mostravam também como a empresa beneficia da proliferação do discurso de ódio, de fake news e da desinformação, embora tenha compromissos públicos relacionados com a erradicação deste tipo de conteúdos. 

Com o “apagão”, muitos utilizadores, ao verem os seus conteúdos digitais favoritos inacessíveis, migraram de redes de comunicação. Em entrevista à revista MAGG, Paulo Rossas, um dos maiores entusiastas de Social Media em Portugal, disse: “Se as três grandes redes caírem, para já, o TikTok vai ser maior, o LinkedIn vai continuar a ser maior e o Twitter vai passar a ser enorme. Depois, vamos ter muito Snapchat e outras redes que estão a crescer muito”. Acrescentou ainda que as redes em crescimento atualmente são o Reddit e ainda o Discord, que na noite do dia 4 terá crescido bastante. O mesmo realçou ainda que, "Se caíssem uma semana, tendo em conta que estamos em outubro, não há verão e à noite ficamos muito mais em casa, íamos ver muito mais registos na Netflix, na Disney +, que já disparou, ia disparar muito mais. Íamos ter muito mais gente no TikTok. No Twitter, toda a gente ia para lá, não para criar, mas para consumir".

Se arriscássemos mais e, para além de uma semana, fosse para sempre. Como é que as pessoas reagiriam? Paulo Rossas refere que “As pessoas tinham de aprender a viver sem redes sociais. Muito mais Netflix, rua, estar sentado com os amigos, muito mais mensagens, ligar aos amigos".

Este “apagão” foi algo que nos fez perceber o quão dependentes somos das redes sociais, e que rapidamente ficamos impacientes ou irritados com a falta das mesmas, uma vez que estas são extremamente viciantes (Nomofobia: fobia causada pelo desconforto resultante da incapacidade de acesso à comunicação através de dispositivos eletrónicos). A nível económico o impacto foi brutal e, por isso, devem ser desenvolvidas alternativas pois nada nos garante que estas plataformas não voltam a estar em baixo.

 

Joana Sousa Abreu

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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