sexta-feira, 29 de outubro de 2021

O motor agroalimentar em contexto pandémico

Aquando de uma crise sanitária, torna-se fundamental combater problemas, existentes ou iminentes, nos diferentes setores, nomeadamente no agroalimentar. Desta forma, pretende-se garantir a atividade ininterrupta das cadeias de abastecimento alimentares, intra e internacionais, para possibilitar o fornecimento de alimentos, não agravamento de crises alimentares e redução dos efeitos negativos da pandemia na economia mundial.

Ainda que, nas últimas duas décadas, o peso deste setor tenha diminuído de 40,2% para 26,8% no peso total de trabalhadores a nível mundial, a agricultura continua a constituir não só um meio de subsistência para mais de mil milhões de indivíduos, como também é o setor mais importante em países de baixos rendimentos, chegando a representar um terço do PIB e 60,4% dos trabalhadores em alguns casos. A urbanização, aumento de rendimentos associados a outros setores e o crescente fenómeno de globalização explicam a retração da agricultura, no entanto, o setor agroalimentar estende-se a outros setores não agrícolas (p.ex., processamento, transporte e preparação de produtos alimentares), sendo assim capaz de gerar novos postos de trabalho. Ímpar com o seu valor, principalmente em contexto pandémico, continua a existir uma falta de preocupação com este setor e, por isso, acabam por se verificar inúmeros problemas laborais que envolvem o não cumprimento de legislações, falta de inspeções e de condições de trabalho, baixos níveis salariais e de produtividade, e despreocupação com questões climáticas. Torna-se, deste modo, evidente a necessária intervenção presente e futura para garantir uma melhoria do funcionamento do setor agroalimentar.

As limitações à liberdade de circulação e de venda, bem como questões laborais, foram os maiores desafios logísticos enfrentados pelo setor agroalimentar durante a pandemia, porque facilmente conduziriam a perturbações no fornecimento e eventual desperdício de alimentos. Ainda que o setor tenha, aparentemente, prevalecido pela ausência de interrupções significativas no aprovisionamento alimentar, a nível interno houve graves consequências, sobretudo a degradação da qualidade e redução de postos de trabalho.

Na Europa, por exemplo, o setor enfrentou uma grave carência de mão-de-obra, uma vez que o encerramento das fronteiras impediu centenas de milhares de trabalhadores sazonais de se deslocarem de acordo com as suas necessidades de trabalho. A organização italiana representante dos agricultores, Coldiretti, defende que mais de um quarto dos produtos alimentares produzidos no país dependem de cerca de 370 000 trabalhadores sazonais, sendo que em 2020 mais de 100 000 foram impedidos de se deslocar até lá. Em reposta, a este e outros casos, no dia 2 de abril de 2020, a Comissão Europeia publicou orientações práticas no sentido de os Estados-Membros facilitarem as viagens fronteiriças aos trabalhadores sazonais com profissões essenciais, o caso do setor agrícola, sem comprometerem a saúde pública.

Num contexto intercontinental, em países de baixos rendimentos, a maior parte em desenvolvimento, estima-se que os trabalhadores agrícolas, de forma a manterem a sua situação económica ou não caírem em pobreza, teriam de trabalhar uma semana adicional todos os meses.

A crise, enquanto assunto urgente, requer ação pronta e imediata, no entanto, não justifica o descorar dos princípios e direitos fundamentais do trabalho. Disseminação de informações transparentes e monotorização dos preços e dos mercados alimentares conseguem, em parte, evitar tais infrações e, adicionalmente, assegurar uma gestão eficaz do mercado, evitar compras consequentes do pânico e orientar empresas agrícolas no processo de tomada de decisão. No contexto presente, torna-se elementar garantir a livre circulação do comércio internacional, assegurando simultaneamente a qualidade dos empregos nos setores alimentar e associados.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) estabeleceu um quadro pelo qual se devem guiar as respostas políticas de combate ao impacto da crise sanitária. Este quadro baseia-se em quatro grandes princípios: estimular a economia e o emprego; apoiar as empresas, o emprego e os rendimentos; proteger os trabalhadores nos locais de trabalho; e recorrer ao diálogo social para encontrar soluções.

De acordo com a pesquisa apresentada, os países, principalmente os desenvolvidos, deveriam tomar uma carreira de ação compaginável com a importância do setor agroalimentar e à qual estariam inerentes consequências económicas, socias e políticas positivas.


Marta Fernandes

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

Sem comentários: