sábado, 23 de outubro de 2021

O teletrabalho em Portugal – uma realidade que perdurará?

Com a situação pandémica que vivemos há cerca de 2 anos, uma parte da população ativa portuguesa foi introduzida no trabalho remoto. Há quem diga que a flexibilidade e o teletrabalho são agora mais valorizadas pelos portugueses, mas será que este regime laboral veio para ficar?

Antes de mais, é necessário apontar que o trabalho remoto não é uma possibilidade para todos os portugueses. Segundo a PORDATA, em 2020, cerca de 30% da população estava empregada nos setores primário e secundário, cujas atividades por norma não possibilitam este regime. Entre abril e junho deste ano, 717 mil pessoas estiveram em teletrabalho em Portugal, ou seja, 14,9% da população ativa portuguesa (INE, 2021). Comparando a nível regional com outros países da UE, a região da Helsínquia era a zona com maior percentagem de pessoas a trabalhar remotamente em 2020, estando a Área Metropolitana de Lisboa em 10º lugar, com 23% (EUROSTAT, 2021).

Uma pesquisa da Robert Walters, de maio de 2020, mostra que 44% dos profissionais introduzidos neste regime acredita que a sua produtividade aumentou com o teletrabalho e apenas 4% dos profissionais deseja voltar ao trabalho de escritório em regime full time.

No meu ponto de vista, entendo a atratividade do trabalho remoto e acredito que há grandes vantagens desta nova forma de trabalho: a maior flexibilidade que o trabalhador ganha em relação aos horários de trabalho – agrada-me a possibilidade de trabalhar e viajar ao mesmo tempo, por exemplo -; a possibilidade de trabalhar num ambiente mais relaxado e confortável; a oportunidade de passar mais tempo em família; e a desnecessidade de deslocações para o local de trabalho. Contudo, consigo facilmente pensar também em desvantagens e refutar quase todos os pontos que afirmei: nem todas as pessoas tem a possibilidade de criar as condições necessárias para trabalharem em casa; as constantes distrações que existem no nosso lar e que criam desatenção do trabalho, o que leva a ter que trabalhar mais horas, por exemplo; e a dificuldade que é separar a vida profissional da pessoal quando ambas se encontram no mesmo espaço.

Outra questão que é levantada é a seguinte: estarão os portugueses dispostos a abdicar de uma percentagem do seu salário para trabalhar em casa? Segundo o diretor-geral de operações do ManpowerGroup, “no contexto nacional, os salários não são suficientemente atrativos para que alguém troque um salário mais alto por um salário inferior pela ambição de ficar a trabalhar a partir de casa”, estando a discussão no sentido contrário, isto é, haver compensações para os trabalhadores remotos.

Como diz o ditado, é difícil agradar a gregos e a troianos. Contudo, acredito que o modelo híbrido de trabalho pode ser a solução, ou seja, combinar o modelo remoto e presencial será vantajoso tanto para quem prefere regressar ao escritório como para quem quer continuar a trabalhar remotamente. Na minha opinião, a autonomia para escolher como, onde e quando os trabalhadores realizam as suas atividades é um grande ponto a favor do regime híbrido, e creio que o “anywhere office” será cada vez mais uma aposta por parte das empresas.

Com a inovação das tecnologias, é possível trabalhar com colegas em fusos horários diferentes e, por isso, o horário das 9h às 17h, ao qual estamos tão familiarizados hoje, não seja mais necessário ou obrigatório. Com este regime, creio que o tempo passado a trabalhar não seja tão valorizado, mas sim a execução das tarefas. Com o uso das novas tecnologias é possível fazer mais com menos, isto é, o trabalhador consegue ser mais produtivo, utilizando menos horas de trabalho.

Apesar de todas as coisas negativas que a pandemia do COVID-19 trouxe, apresentou ao nosso país uma forma alternativa de trabalho que parece ser útil e produtiva nos dias de hoje. Não será um processo rápido nem fácil, mas considero que incorporar pelo menos alguma forma de trabalho remoto trará vantagens, tanto para o empregador como para o empregado!

 

Ana Rita Silva

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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