quinta-feira, 21 de outubro de 2021

Portugal como Modelo de Recuperação para o Resto do Mundo

      Este ensaio é baseado no artigo “Portugal’s Sardine Capitalism Is a Model for the World”, do economista americano Michael Moran, publicado no dia 12 de setembro de 2021.

A economia de um determinado país está relacionada com as caraterísticas e cultura do seu povo e, ao nos referirmos a Portugal, a herança desbravadora e o desafio à sabedoria convencional não podem ser postos de lado. Apesar de não existirem mais colónias portuguesas ao redor do mundo, a tendência do país, que foi responsável por alargar as fronteiras globais para traçar seu próprio caminho, ainda sobrevive.

Apesar da Crise Financeira Global há uma década e da forte desaceleração das economias decorrente da pandemia, Portugal destaca-se como modelo a ser seguido entre as economias de menor dimensão da Europa. O grande desafio para esta classe de países é manter o equilíbrio entre tradições culturais e valores políticos e a forte procura de economias maiores do bloco europeu, como Alemanha, França e Itália.

Mesmo com as restrições fiscais que pertencer a Zona Euro impõe às economias mais pequenas, Portugal encontrou a fórmula para manter o custo de vida mais razoável da Europa Ocidental, desemprego relativamente baixo e um crescimento económico estável, além de uma relativa estabilidade política, num momento singular em que a democracia em alguns países é ameaçada e há grande polarização, o que também é explicado pelo papel das redes sociais (esse assunto é abordado no livro “The People vs Tech: How the Internet is Killing Democracy”; recomendo a leitura para quem tem interesse no tema).

A recuperação portuguesa frente à crise pandémica também tem sido admirável. No trimestre encerrado em 30 de junho, apesar das restrições sanitárias que atingiram um setor fundamental da economia em Portugal, que é o turismo, o país apresentou um crescimento de 4,6% anual, de acordo com a Comissão Europeia.

O desemprego de 6,7% também é outro ponto positivo para a economia portuguesa, o que é comparado com grandes economias como da Alemanha, 5,5%, e até mesmo os Estados Unidos, com 5,4% de taxas de desemprego. Comparado com outros países da UE com grande endividamento, ainda é mais perceptível a diferença. Espanha apresenta uma taxa de desemprego superior à 15%, a Itália em torno de 10% e a Grécia quase 16%. Até mesmo a Irlanda, que é tratada como exemplo por alguns economistas e que tem um setor tecnológico bem avançado, tem uma taxa de desemprego superior à portuguesa (7,6%).

A exogeneidade presente entre os países expostos à mesma moeda corrente foi exposta durante a Crise Financeira de 2008-2009. Agrupar economias como Alemanha e França com economias como a do Chipre e da Grécia sob uma mesma regência monetária gerou problemas. A solução imposta pelas principais economias, principalmente a alemã, foi a imposição de uma severa austeridade nestes países, o que paralisou tais economias por mais de uma década.

Portugal foi uma exceção. Numa situação extremamente complicada e incapaz de honrar o pagamento das suas dívidas, Portugal aceitou um resgate de US $ 92 bilhões da chamada "troika" - Comissão Europeia, BCE e FMI - em 2011. O desemprego chegou aos 18% em 2013, porém, o país manteve as suas obrigações. Ao longo deste difícil caminho, Portugal resistiu à pressão da troika para aceitar uma segunda parcela dos fundos de resgate e libertou-se da austeridade imposta pelo estrangeiro.

Já livre da troika, em 2015, Portugal utilizou uma combinação de incentivos fiscais, estímulo fiscal e divulgação inovadora para investidores estrangeiros. Essas medidas ajudaram a impulsionar o crescimento português, que ocorreu num ritmo médio de 2,6% de 2015 até o início da pandemia. Estes bons resultados fizeram com que o país conseguisse resistir à crise imposta pela pandemia.

Segundo o professor João Borges de Assunção, da Católica Lisbon School de Lisboa, em 2018, a economia portuguesa é capaz de resistir a crises - “um exemplo daquilo que poderia ser feito de forma diferente no contexto da recuperação europeia”. Fato que foi confirmado em 2020.

Apesar de consequências negativas, principalmente a grande valorização imobiliária, a caraterística portuguesa de ser recetiva a estrangeiros, aliada a um país que oferece uma boa qualidade de vida aos habitantes, contribui para uma importante fonte de renda do país, que são os investimentos estrangeiros.

Os portugueses, sendo considerados sardinhas no meio de salmões (grandes economias), mostram aos países europeus de menor dimensão que, com uma combinação de políticas e medidas fiscais inteligentes, é possível viver uma boa vida e também o crescimento da economia.

 

João Pedro Pinto Duarte

Link artigo : https://foreignpolicy.com/2021/09/12/portugals-sardine-capitalism-is-a-model-for-the-world/

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

Sem comentários: