segunda-feira, 25 de outubro de 2021

Sustentabilidade: de tripé a trilema

    Em 1776, o aperfeiçoamento da máquina a vapor por parte de James Watt levou ao uso generalizado dos combustíveis fósseis, que por sua vez proporcionou o aparecimento do capitalismo industrial-fóssil.

   Desde então, o crescimento económico e populacional tem sido algo sem precedentes na história da humanidade. A população mundial cresceu 9,5 vezes, a economia global 125 vezes e o rendimento per capita 13 vezes, levando a um aumento exponencial do consumo de recursos naturais e de matérias-primas. Este processo, apesar de ter gerado muito lucro para a humanidade, em especial para os detentores dos fatores de produção, também provocou grandes prejuízos para a natureza e para a biodiversidade.

  O capitalismo que tem permitido a produção de uma quantidade tão grande de bens e serviços não tem conseguido ser ao mesmo tempo economicamente inclusivo, socialmente justo e ambientalmente sustentável. De modo a confirmar tal situação, diversos estudos mostram que nenhuma indústria seria lucrativa se tivesse que pagar pelo capital natural utilizado.

   A metodologia do Stockholm Resilience Centre identificou nove dimensões centrais para a manutenção de condições de vida decentes para os seres humanos e o meio ambiente, indicando que os limites já foram ultrapassados em 4 dimensões e estão-se agravando nas demais, sendo de destacar que duas delas são as mudanças climáticas e a integridade da biosfera, e que, de acordo com os cientistas, têm o potencial de levar as civilizações ao colapso.

   Para manter a sustentabilidade e garantir o adequado padrão de vida da humanidade, sem degradar as condições ambientais, a pegada ecológica, no longo prazo, não pode ser maior do que a biocapacidade. Assim, é insustentável manter o crescimento da produção e consumo de bens e serviços acima da capacidade de carga do meio ambiente.

   O livro “Limites do Crescimento” tem um parágrafo que resume a situação que enfrentamos atualmente: “Se as atuais tendências de crescimento da população mundial, industrialização, poluição, produção de alimentos e diminuição de recursos naturais continuarem imutáveis, os limites de crescimento neste planeta serão alcançados algum dia dentro dos próximos cem anos. O resultado mais provável será um declínio súbito e incontrolável, tanto da população quanto da capacidade industrial” (p. 20).

   Ou seja, o progresso humano deu-se às custas do retrocesso ecológico, uma vez que o crescimento exponencial das atividades humanas excedeu a capacidade que o planeta é capaz de suportar, levando a que existisse até ao momento um défice ambiental.

   Na minha opinião, o sistema atual de produção e consumo não irá conseguir lidar com a crise ecológica que se está a criar. Isto significa que é impossível que a continuidade do crescimento das atividades antrópicas mantenha de pé as três bases do tripé (económica, ambiental e social) da sustentabilidade, que por sua vez se estão a transformar em um trilema.

   Deste modo, é necessário que se implementem novas medidas, como por exemplo:  o aumento no investimento em transportes coletivos e utilização de carros elétricos de modo a que se promova a redução da produção de carros particulares e poluentes; a redução dos gastos militares, principalmente os que incidem na produção de armamento; a diminuição da produção e consumo de fertilizantes químicos e uma maior aposta na agricultura orgânica perto do meio urbano de modo a que se reduzam os custos de transporte e desperdícios alimentares; o incentivo para a adoção de uma dieta vegetariana e um estilo de vida vegano e a amenização do consumo de bens de luxo; e investimento em bens e serviços que permitam a universalização do bem-estar, aumentando as atividades de economia solidária e colaborativa de modo a diminuir os impactos negativos das atividades antrópicas.

  Concluindo, só um decréscimo da economia tangível, da população e da pegada ecológica e um aumento da economia intangível e da biocapacidade é que poderão garantir um equilíbrio homeostático da economia e do ambiente.

 

Pedro Nunes

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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