domingo, 17 de outubro de 2021

Haverá saúde mental pós-pandemia?

Em 2020 deparamo-nos com uma pandemia que poucos esperavam e para a qual ninguém estava preparado, a durar mais do que o previsto e a mudar vidas. Com este surgimento, Portugal e todos os restantes países, não só europeus como a nível mundial, viram-se obrigados a tomar decisões importantes de forma rápida e a decidir prioridades.

Deu-se uma nova importância e olhou-se de outra forma para a saúde, pelo menos tendo em conta o país em que vivo. Decidiu-se fechar tudo. A preocupação com a vida dos portuguesa e bem-estar ficou em primeiro lugar, estando a economia posta de parte.

Penso que agimos da melhor forma possível ao que nos era desconhecido. Apoios foram dados, que nunca seriam suficientes mas atenuaram de certa forma toda esta catástrofre a nível económico e empresarial, devido ao enorme horizonte temporal em que muitas empresas se viram obrigadas a cessar ou limitar a atividade. Ao nível dos hospitais, aumentamos fortemente a nossa capacidade em reação ao que estava a acontecer e, enquanto isto, a maioria da população estava confinada nas suas quatro paredes.

Com o passar do tempo, o vírus foi-se obviamente espalhando e só não de forma pior devido a esse confinamento. E, apesar de eu, como já referi, considerar que foi a melhor decisão a tomar, a mesma trouxe consequências económicas, como já referi, mas também, mentais, tão importantes e tão esquecidas!

A saúde mental foi, desde sempre não tomada como importante, sempre secundária, como se não fosse ela uma doença como tantas outras ou até, por vezes, pior pois o cerebro é que nos comanda. Estando ele a funcionar mal, como se poderá viver?

Estes problemas desde sempre existiram e sempre foram um tabu e, nestes últimos tempos, devido ao reduzir da vida social, à restrição de locais, horas, impossibilidade de ver quem mais gostamos, entre outros aspetos, fez aumentar os níveis de ansiedade e depressão, em geral. Isto, apesar de preocupante, continua a não ser tomado em conta com a importância que tem. É necessário normalizar-se, deixar-se de considerar um assunto vergonhoso, assumir o problema e tratá-lo! E, na minha opinião, o apoio do Estado nesse aspeto deveria aumentar.

O nosso sistema nacional de saúde é pobre quando se tem em conta este tema, o que se torna terrível tendo em conta que há pessoas que chegam a pôr fim à própria vida por não saber como lidar com o problema.  

Segundo pesquisas que realizei, ”A prevalência das perturbações psiquiátricas em Portugal é elevada: estima-se que um em cada cinco portugueses tenha algum tipo de episódio nos 12 meses anteriores a consultar o médico. No espaço europeu, só a Irlanda do Norte tem piores estatísticas do que as nossas.” Isto diz-nos que existe demasiado que não sabemos sobre a nossa própria realidade e é preciso investigar. Apesar dos vários contributos de investigadores, psiquiatras e outros profissionais, tudo isto não tem vindo a ser suficiente tendo ainda se agravado mais pós-pandemia, ou seja, esta investigação e inovação necessita de ser mais reforçada.

A meu ver, é demasiado notável a diferença antes e pós-crise sanitária nas pessoas, destacando-se os mais jovens. Seja em conhecidos, no meu círculo de amigos, colegas de turma ou, mesmo, em mim mesma, sinto que tudo isto nos mudou. Quem já sofria psicologicamente piorou e precisa de mais apoios, apoios esses com valores monetários altíssimos e que nem todas as famílias conseguem suportar. Muitos que nunca estiveram perto de se ver neste estado, viram a própria mente deteriorar-se e passaram a sentir a ansiedade na pele, seja de uma simples saída de casa que se tornou menos usual como de um acontecimento específico de maior importância, como um exame na faculdade.

Para rematar e depois de toda a importância dada e de forma correta à saúde física, considero que está na altura de tratar da mente para que tudo volte realmente à normalidade, que muitos ainda não sabem o que é!


Rafaela Filipa Barbosa Bastos 

[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]  

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