domingo, 24 de outubro de 2021

Crise na Venezuela

         A atual crise na Venezuela é, simultaneamente, socioeconómica e política. Esta tem afetado o país desde o final do governo de Hugo Chávez e com o atual governo de Nicolás Maduro.

Tratando-se de uma grave crise económica, traz consigo consequências inevitáveis: recessão económica, taxas de inflação muito elevadas, salário mínimo desvalorizado, redução da reserva de divisas, grave escassez de produtos alimentares e de primeira necessidade, instabilidade no cenário político, extrema violência, acusação de morte e tortura aos opositores e “sequestro de direitos”. Com isto, há alguns conceitos e perspetivas macroeconómicas que importam analisar se queremos perceber quais as razões para esta crise que parece não ter fim.

A Venezuela dispõe das maiores reservas de petróleo do mundo. No entanto, na última década, a produção do recurso entrou em colapso e um barril de petróleo vale agora quase menos dois terços do que valia há dois anos. Essa desvalorização deu-se por várias razões:

• abrandamento da economia chinesa e crise na Europa, resultando na menor procura do produto;

• descoberta e extração de gás e petróleo de xisto, especialmente nos Estados Unidos, competindo diretamente com o petróleo comum;

• crise diplomática entre o Irão e a Arábia Saudita;

• recusa dos países da OPEP em diminuir a produção. Os membros da Organização preferiram vender o produto a valores mais baixos e, com isso, inviabilizar a concorrência de outros produtores ou de produtos como o petróleo de xisto.

Com isto, percebemos que ao longo dos últimos anos esta desvalorização levou à queda nos preços do petróleo, reduzindo o valor das exportações, desequilibrando a balança comercial venezuelana e aumentando o défice.

Ora, a economia da Venezuela sempre se baseou no petróleo, o que provocou um atraso no desenvolvimento de outras atividades, nomeadamente da indústria ou agricultura. Como se não bastasse, Chávez nacionalizou algumas indústrias, como as de cimento e aço, e retirou propriedades rurais. Desta forma, a produção nacional foi substituída pela importação, deixando a nação cada vez mais dependente do mercado externo. Ora, com o agravamento da crise na Venezuela, faltou dinheiro para importar. Assim, a população passou a enfrentar sérios problemas de abastecimento e as consequências foram o racionamento de itens essenciais e o aumento de preços dos produtos, comprometendo ainda mais a qualidade de vida dos venezuelanos.

Além disso, verifica-se também o fenómeno de hiperinflação - definido como uma inflação fora de controlo. No caso da Venezuela, esse fenómeno é tão acentuado que já são comuns as impressionantes imagens de grandes quantidades de Bolívares que são necessários para se comprar produtos básicos, como farinha ou papel higiénico. A inflação em 2014 chegou aos 68,5%. Até 2015, a inflação teria atingido os 180,9% e, até 2016, teve um aumento de 800%. Com isto, e associado ao reduzido salário mínimo atual, deu-se uma perda de 90,80% no poder de compra dos venezuelanos, os quais vivem, neste momento, com apenas cerca de 3 dólares por mês.

Por último, a capacidade do país para defender a sua moeda e honrar a dívida diminui rapidamente. Assim, as causas dessa descida dramática das reservas são o crescimento desordenado da despesa pública, ausência de planificação, falta de precaução na administração dos fundos da República, endividamento excessivo e alto défice orçamental.

Concluindo, tendo em conta os factos e numa perspetiva pessoal, a Venezuela reúne todas as condições para uma catástrofe que, para lá dos efeitos internos, ameaça produzir uma onda de choque em grande parte da América do Sul. Um laço fatídico liga o “iminente colapso económico” ao monopólio do poder do governo “chavista” de Nicolás Maduro, que bloqueia todas as tentativas de transição e acelera a corrida para a catástrofe.

 

Ana Mafalda Ribeiro Magalhães

[artigo de opinião desenvolvido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho] 

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