Segundo
o “World Economic Outlook” publicado pelo Fundo Monetário Internacional em julho
de 2019, as previsões do crescimento do PIB global são de 3,2% neste ano e 3,5%
em 2020. De facto, estas projeções são inferiores às apresentadas em abril.
A
revisão negativa das estimativas reflete “surpresas negativas para o
crescimento em mercados emergentes e economias em desenvolvimento que compensam
surpresas positivas em algumas economias avançadas”. Referem ainda que o “dinamismo
na economia global está a ser pressionado pela incerteza política prolongada”,
nomeadamente, as tensões comerciais entre a China e os Estados Unidos da
América e o Brexit.
Calcula-se
que as tarifas impostas entre os EUA e a China provoquem uma redução do PIB
global em 2020 de 0,5%.
Para
perceber o verdadeiro nível de incerteza, em 2018, Hites Ahir, Nicholas Bloom e
Davide Furceri desenvolveram o “World Uncertainty Index” (WUI). Este índice é
calculado pela frequência da palavra “incerteza” e variantes nos relatórios da Economist Intelligence Unit de cada
país. Estes relatórios examinam e discutem as principais tendências económicas,
financeiras e políticas do país.
O
objetivo principal da criação do índice era captar o nível de incerteza e as preocupações
relativas ao desenvolvimento económico e político de curto e longo prazos. Durante
este processo criaram, ainda, um outro índice, o “World Trade Uncertainty
Index”, que mede o número de vezes que a palavra “incerteza” aparece próxima de
uma palavra relacionada com comércio nos mesmos relatórios.
Os
índices estão disponíveis, por trimestre, entre 1996 e 2019. Índices mais
elevados indicam um grau de incerteza superior. Através da análise dos dados disponibilizados
pelos autores são percetíveis vários fenómenos.
Em
primeiro lugar, é de notar que o WUI tem refletido uma trajetória crescente de
incerteza, com picos marcados em momentos de tensão mundial, tais como o referendo
sobre o Brexit, em 2016, e as eleições presidenciais americanas, em 2017. Também
se verifica que o índice iniciou um crescimento acentuado a partir de 2010.
Outro
facto interessante é que a incerteza é contra-cíclica, ou seja, a incerteza
média é superior em períodos de recessão. Para além desta relação, segundo os
autores, o nível de incerteza “está associado positivamente à incerteza das
políticas económicas e à volatilidade do mercado de ações“.
Quanto à
incerteza no comércio, através do Índice de Incerteza no Comércio Mundial (WTU
Index), é de notar uma tendência crescente a partir de 2016, com especial
destaque para a China, Canadá, França e EUA.
Todos estes
dados levam-me a algumas interpretações. De facto, a incerteza surge quando os
agentes económicos se apercebem do seu conhecimento limitado sobre o presente e
o futuro, fazendo com que modifiquem os seus comportamentos. Parece-me,
portanto, indubitável que a incerteza das relações comerciais, particularmente
entre os Estados Unidos da América e a China, tem um impacto negativo na
confiança dos agentes económicos e, consequentemente, na economia global.
A meu ver, uma das principais consequências
da incerteza é a redução do investimento, com o adiamento dos projetos, tal
como acontece com a criação de emprego. É dificil reverter tanto as decisões de
investimento como as de contratação de funcionários, já que impõem custos
elevados. As empresas preferem aguardar até ao “momento certo” e garantir que
tomam as decisões mais rendíveis. Por outro lado, pode existir uma consequência
direta nos consumidores que vão reduzir o consumo, principalmente de bens
duráveis, de forma a aumentar a poupança, na incerteza do futuro.
Conclui-se, assim, que a incerteza é
um fenómeno crescente, com impactes económicos relevantes e é tão facilmente
generalizada que afeta os agentes económicos de todo o mundo. Na minha opinião,
deveria haver um esforço global para que deixássemos este clima de incerteza
para trás, uma vez que todos seriamos beneficiados.
Nádia Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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