Num
mundo em constante mudança, novos desafios e obstáculos são colocados todos os
dias. A competitividade económica e industrial entre municípios é cada vez mais
feroz, pelo que é necessário estes adequarem as suas políticas às necessidades
do quotidiano.
A
cidade de Guimarães, além da história que a carateriza, é também, do ponto de
vista industrial, uma cidade com tradição. A indústria têxtil e a indústria do
calçado são as duas componentes que mais contribuem para a economia vimaranense.
No entanto, este forte contributo deve-se, em grande parte, às caraterísticas
da sub-região Cávado e Ave ao longo dos anos e não de uma aposta direcionada do
município. O norte do país é, por si só, uma macrorregião maioritariamente
industrial.
Quando
queremos comparar o desempenho de Guimarães em termos económicos, é preciso
enquadrar num contexto e equiparar os seus resultados com as cidades com que
compete, nomeadamente as cidades de Braga e Vila Nova de Famalicão. Segundo
dados do PORDATA, em 2018, Famalicão atingiu a marca dos 2.074 milhões de euros
de exportações, ficando à frente de Braga e Guimarães (1.490 milhões de euros). Neste mesmo ano, Famalicão foi o município com a melhor balança
comercial do país e, com isso, o que mais contribui para a saúde da economia
nacional, entre os 308 concelhos de Portugal. Isto deve-se essencialmente ao
investimento que é feito por empresas de renome em Famalicão. Vejamos o exemplo
da fabricante alemã de pneus Continental, que anunciou, em 2019, um
investimento de 100 milhões de euros para produzir pneus para veículos de
movimentação de terras e para aplicações portuárias. Este investimento irá
permitir criar mais de 100 postos de trabalho. Além disso, este sucesso
económico do município deve-se ao contributo da câmara municipal, que tem apostado
incessantemente na atração de grandes empresas e com isso na captação de investimento.
Em
2013, o município de Famalicão inaugurou o Famalicão Made IN, com o intuito de promover, valorizar e afirmar o
desenvolvimento económico do concelho. Até 2017, Famalicão Made IN criou 87 empresas, das quais 67 são negócios e 22 são
empresas que se instalaram no concelho.
A
Câmara de Guimarães criou também, em 2018, um projeto semelhante designado Set.Up Guimarães procurando igualmente
potenciar a economia do concelho. Contudo, uma das dificuldades de Guimarães em
atrair investimento e empresas com renome nacional e internacional prende-se, especialmente,
com os acessos às zonas industriais do concelho. Este é um problema de anos,
reconhecido pelo município, mas que tarda em ser resolvido. Em 2017, havia sido
aprovado, segundo a Câmara Municipal, um projeto do Governo Português que iria
permitir resolver a problemática da principal saída da autoestrada. Passaram-se
dois anos e nada feito.
Em
2008 foi inaugurado o Parque de Ciência e Tecnologia Avepark, localizado a 8km
do centro da cidade e com um custo de cerca de 10 milhões de euros, procurando
aproveitar o posicionamento estratégico nas áreas geográficas do Ave e
confinantes. Nesta data, era projetado o Avepark acolher 200 empresas e criar
quatro mil empregos qualificados num prazo de 10 anos. Estamos em 2019 e apenas
estão sediadas 15 instituições, como a Farfetch, IPCA, TecPark, entre outras.
Estes números dececionantes, são a prova inequivoca de que os acessos são um
obstáculo à atração de empresas e, consequentemente, ao desenvolvimento
económico de Guimarães.
Ademais,
um dos polos da Universidade do Minho está localizado em Guimarães. Tendo em
conta este facto, seria de todo o interesse a cidade captar este talento
universitário para empresas de cariz tecnológico, mas dada a ausência de
empresas deste ramo, o município não consegue “agarrar” os jovens. Reter o
talento destes é importante para aquilo que é o progresso e o desenvolvimento
económico, social e cultural de Guimarães.
Ainda
no decorrer deste ano, Famalicão instalou no seu território um dos oito
supercomputadores europeus que dão à indústria e a investigadores o acesso a
novas ferramentas para projetos em áreas como a medicina e a inteligência
artificial. Em resultado dessa ação, estabeleceu uma pareceria com Universidade
do Minho para que, em conjunto, possam cooperar em futuros projetos de
investigação. Desta forma, Guimarães poderia ter auferido deste supercomputador
e estabelecer cooperação com o polo da Universidade do Minho situado no seu
território.
Em
suma, é evidente que Guimarães, não obstante continuar com indicadores
económicos positivos, ainda que em 2018 as exportações tivessem aumentado
(6,2%) menos do que as importações (19,4%), em relação aos seus mais diretos competidores
tem ficado para trás. A indústria vimaranense é uma indústria muito tradicional
e pouco virada para as tecnologias, enquanto que outros concelhos, como
Famalicão, têm-se adaptado ao contexto industrial e económico do país e do mundo,
apostando na tecnologia e investigação. Quando olhamos para um futuro próximo,
Guimarães poderá ter dificuldade em manter estes dados económicos dada a
competitividade nacional e mundial.
Amadeu Júnio Castro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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