quinta-feira, 10 de outubro de 2019

A influência do turismo religioso e da religião na economia

Nos tempos em que vivemos, a ideia de crise é algo que tem preocupado cada vez mais qualquer pessoa em qualquer lado do mundo, não necessariamente a ideia de crise económica, que já há muitos anos é anunciada pelas gerações mais antigas, mas principalmente uma crise humano-social que cada vez mais afeta-nos no dia-a-dia, ou seja, sinteticamente a mentalidade e a opinião das pessoas.
Atualmente, devido à importância das tecnologias e dos sistemas de informação, qualquer um de nós conhece ou pode conhecer a realidade de qualquer ponto do mundo. Nesta visão, podemos constatar que Portugal apresenta todo um potencial social, cultural, geográfico, entre muitos outros, que nos torna num local de destino muito cobiçado. A agitação social, política, o clima de insegurança vivido em todo o mundo, permite que o mercado do turismo em Portugal seja assim um dos maiores geradores de riqueza.
Neste artigo, vou concentrar-me no impacto da religião na economia, que vai além do turismo religioso e do impulso consumista originado por eventos de culto.
As peregrinações e cerimónias em Fátima mostram-nos que significativo fluxo de pessoas dinamizam na região diversas áreas da economia, desde o comércio de artigos religiosos, hotelaria, restauração entre outros. Dentro dos artigos religiosos, tem especial destaque o da cera, porque através deste ato de comércio os crentes expressam a sua fé e o seu estado de espírito em algo específico.
No caso concreto de Fátima, e de acordo com dados divulgados, este negócio da cera movimenta cerca de 30 toneladas, só na semana do dia 13 de maio. Os caminhos de Santiago também são bastante procurados pelos peregrinos e começam a ter um grande impacto económico no dinamismo de certas áreas, principalmente mais rurais, fazendo-se clientes do comércio e da restauração.
A atividade turística tem aumentado nos últimos anos na região do norte. No ano passado, foram mais de 5,2 milhões de hóspedes e nos primeiros cinco meses de 2019 a região registou 2,02 milhões de pessoas nas unidades hoteleiras, o que representa mais 161 mil do que no período homólogo de 2018. A nomeação do Santuário do Bom Jesus a Património Mundial da UNESCO ajudou e vai continuar a potenciar tudo isto.
Os peregrinos que vão a Fátima e que muitas vezes percorrem as nossas estradas nacionais, no último ano, foram sete milhões de pessoas, uma afluência reveladora da dimensão do fenómeno. Uma aposta feita no turismo é o investimento feito na plataforma online “Os Caminhos da Fé”, dedicada ao turismo religioso, lançada por Portugal, que disponibiliza os recursos de Portugal, um país aberto, de diálogo e intercultural, e que posiciona Portugal internacionalmente como destino de fruição espiritual e cultural.
Ainda como sinal do vigor e importância da religião, temos na Arquidiocese de Braga projetada a construção de um grande santuário eucarístico em honra à Beata Alexandrina de Balasar. Este projeto, que será executado em Balasar, garante uma nova dinâmica na zona da sua edificação, tendo já forçado a autarquia local a suspender o PDM. Dada a importância acima descrita e de acordo com dados recolhidos, atualmente, o turismo religioso representa entre os 10% e os 15% do total do turismo nacional. 
Para além do impacto do turismo religioso na economia, também podemos e devemos estudar o efeito dos valores religiosos no comportamento socioeconómico dos indivíduos, uma vez que a religião socializa as pessoas dentro de um padrão de valores éticos, morais e cívicos, que ao serem cumpridos proporcionariam uma sociedade mais harmoniosa. Vários exemplos se podem equacionar, como a capacidade de perdoar, os níveis de confiança nos outros, os níveis de altruísmo, a honestidade, a justiça e o sentido de oportunidade. Estas dimensões sociais têm efeitos económicos, por exemplo, nos níveis de corrupção, evasão fiscal, trabalho voluntário, nas doações a instituições, na produtividade no trabalho como resposta a um aumento salarial, na disponibilidade que cada ser tem para com o seu semelhante, na equidade. Segundo dados publicados, países cristãos têm em média um PIB per capita superior a países islâmicos.
Concluo com um exemplo que demonstra o valor da religião e do culto: as mais recentes apostas na Arábia Saudita nas grandes peregrinações a Meca, que rendem milhões de dólares ao país, diante da queda dos preços do petróleo desde meados de 2014 pelo colapso dos preços do barril. Essas peregrinações são já consideradas o ouro branco da Arábia Saudita.

André Oliveira


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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