Nos tempos em que vivemos, a ideia
de crise é algo que tem preocupado cada vez mais qualquer pessoa em qualquer
lado do mundo, não necessariamente a ideia de crise económica, que já há muitos
anos é anunciada pelas gerações mais antigas, mas principalmente uma crise
humano-social que cada vez mais afeta-nos no dia-a-dia, ou seja, sinteticamente
a mentalidade e a opinião das pessoas.
Atualmente, devido à importância
das tecnologias e dos sistemas de informação, qualquer um de nós conhece ou
pode conhecer a realidade de qualquer ponto do mundo. Nesta visão, podemos
constatar que Portugal apresenta todo um potencial social, cultural,
geográfico, entre muitos outros, que nos torna num local de destino muito
cobiçado. A agitação social, política, o clima de insegurança vivido em todo o
mundo, permite que o mercado do turismo em Portugal seja assim um dos maiores
geradores de riqueza.
Neste artigo, vou concentrar-me no impacto
da religião na economia, que vai além do turismo religioso e do impulso
consumista originado por eventos de culto.
As peregrinações e cerimónias em Fátima
mostram-nos que significativo fluxo de pessoas dinamizam na região diversas
áreas da economia, desde o comércio de artigos religiosos, hotelaria,
restauração entre outros. Dentro dos artigos religiosos, tem especial destaque
o da cera, porque através deste ato de comércio os crentes expressam a sua fé e
o seu estado de espírito em algo específico.
No caso concreto de Fátima, e de acordo
com dados divulgados, este negócio da cera movimenta cerca de 30 toneladas, só
na semana do dia 13 de maio. Os caminhos de Santiago também são
bastante procurados pelos peregrinos e começam a ter um grande impacto
económico no dinamismo de certas áreas, principalmente mais rurais, fazendo-se
clientes do comércio e da restauração.
A atividade turística
tem aumentado nos últimos anos na região do norte. No ano passado, foram mais
de 5,2 milhões de hóspedes e nos primeiros cinco meses de 2019 a região
registou 2,02 milhões de pessoas nas unidades hoteleiras, o que representa mais
161 mil do que no período homólogo de 2018. A nomeação do Santuário do Bom
Jesus a Património Mundial da UNESCO ajudou e vai continuar a potenciar tudo
isto.
Os peregrinos que vão
a Fátima e que muitas vezes percorrem as nossas estradas nacionais, no último
ano, foram sete milhões de pessoas, uma afluência reveladora da dimensão do
fenómeno. Uma aposta feita no turismo é o investimento feito na plataforma online “Os Caminhos da Fé”, dedicada ao
turismo religioso, lançada por Portugal, que disponibiliza os recursos de
Portugal, um país aberto, de diálogo e intercultural,
e que posiciona Portugal internacionalmente como destino de
fruição espiritual e cultural.
Ainda como sinal do
vigor e importância da religião, temos na Arquidiocese de Braga projetada a
construção de um grande santuário eucarístico em honra à Beata Alexandrina de
Balasar. Este projeto, que será executado em Balasar, garante uma nova dinâmica
na zona da sua edificação, tendo já forçado a autarquia local a suspender o
PDM. Dada a importância acima descrita e de acordo com dados recolhidos, atualmente, o turismo religioso representa
entre os 10% e os 15% do total do turismo nacional.
Para além do impacto do turismo religioso
na economia, também podemos e devemos estudar o efeito dos valores religiosos
no comportamento socioeconómico dos indivíduos, uma vez que a religião
socializa as pessoas dentro de um padrão de valores éticos, morais e cívicos,
que ao serem cumpridos proporcionariam uma sociedade mais harmoniosa. Vários
exemplos se podem equacionar, como a capacidade de perdoar, os níveis de
confiança nos outros, os níveis de altruísmo, a honestidade, a justiça e o
sentido de oportunidade. Estas dimensões sociais têm efeitos económicos, por
exemplo, nos níveis de corrupção, evasão fiscal, trabalho voluntário, nas
doações a instituições, na produtividade no trabalho como resposta a um aumento
salarial, na disponibilidade que cada ser tem para com o seu semelhante, na
equidade. Segundo dados publicados, países cristãos têm em média um PIB per capita superior a países islâmicos.
Concluo com um exemplo que demonstra o valor da religião e do culto: as
mais recentes apostas na
Arábia Saudita nas grandes peregrinações a Meca, que rendem milhões de dólares
ao país, diante da queda dos preços do petróleo desde meados de 2014 pelo
colapso dos preços do barril. Essas peregrinações são já consideradas o ouro
branco da Arábia Saudita.
André Oliveira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia
Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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