A
descentralização é o processo de transferência de competências que são
exercidas pelo estado central, que inclui o estado, para entidades sub-nacionais,
nomeadamente as autarquias. O conceito de descentralização envolve inúmeros
aspetos, nomeadamente financeiros, políticos e administrativos.
Portugal
é dos países mais centralizados da OCDE. Estima-se que apenas 13% da despesa
das administrações públicas é gerida pelas entidades sub-nacionais. Dito de outra
forma, Portugal apresenta um grau de descentralização de aproximadamente 13%.
No entanto, o cenário começou a
inverter-se em agosto do ano transato com a aprovação da lei-quadro da
transferência de competências para a autarquias, graças aos votos favoráveis de
PS e PSD. De acordo com a mesma, a transferência de competências torna-se
obrigatória em 2021 e são 23 as áreas cujas decisões passam a ser tomadas pelos
municípios e freguesias, destacando-se a saúde, educação, habitação, justiça,
ação social, cultura ou património. Neste ano letivo, há 73 autarquias que já
vão assumir novas competências na área da educação no âmbito da
descentralização, recebendo no total 257 milhões de euros para fazer face às
despesas de 280 escolas que eram anteriormente suportadas pelo Ministério da Educação,
como as refeições escolares, obras, investimentos, funcionários, água,
eletricidade, entre outras.
A
principal vantagem inerente à descentralização é que as autarquias, pelo fator
de proximidade ao cidadão, estarão mais capacitadas para satisfazer as
necessidades locais, sendo o tempo de resposta menor também. Além disto,
conseguem ser mais eficientes, uma vez que conseguem ajustar a provisão dos
bens e serviços às preferências e necessidades dos cidadãos. Em suma, a
descentralização, a meu ver, pode permitir uma melhor afetação dos recursos
económicos, promovendo ao mesmo tempo a participação e a democracia local dos
cidadãos na concretização dos seus interesses. A própria competição entre
governos locais promove, de certa forma, a eficiência.
Uma
das grandes controvérsias em torno deste tema é o dinheiro que vai ser
transferido do estado central para as autarquias. Como foi notícia há poucos
meses, mais de um quarto dos municípios, 79 dos 278, colocaram-se total ou
parcialmente fora das novas competências. Para que o processo de
descentralização realmente funcione, é preciso que as câmaras tenham acesso aos
respetivos meios e sejam responsáveis pela gestão. Não pode haver
descentralização sem responsabilização. As autarquias têm de ter incentivos. Não
basta apenas descentralizar tarefas; têm de ter um papel ativo na forma como a
receita é gerada. Se apenas forem responsáveis pela gestão da despesa, terão
todos os incentivos em aumentá-la e não em diminui-la. Também não é possível um
município aceitar competências sem conhecer o financiamento atribuído a cada
área, que foi precisamente o que aconteceu. Igualmente, é necessário que todo o
processo seja gradual, dando ao poder local o tempo de adaptação necessário.
Com
a descentralização, o facto de todo o poder deixar de estar todo confinado à
capital pode permitir atenuar as desigualdades territoriais existentes no nosso
país, melhorar a qualidade dos serviços locais, permitir a criação de novos
postos de trabalho e promover a igualdade de oportunidades. A grande
concentração de poder do estado em Lisboa é um verdadeiro entrave ao
desenvolvimento económico do nosso país. Regra geral, países mais
descentralizados são também mais desenvolvidos e mais equilibrados do ponto de
vista das finanças públicas e é lamentável coexistirem cenários económicos tão
diferentes em Portugal.
Ao
conseguirmos ser mais eficientes e, como resultado, mais produtivos, podemos
melhorar as condições salariais de alguns trabalhadores, uma vez que os
salários no longo prazo são determinados pela produtividade e, assim, corrigir
o panorama atual, caraterizado por um salário médio quase igual ao salário
mínimo.
Pedro Torcato da Cruz Meira
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
Sem comentários:
Enviar um comentário