Será que a produção de
moeda é a resposta às crises económicas e financeiras? De forma simplista, a
maioria das pessoas responderia afirmativamente à questão. Contudo, se
pensarmos qual será o efeito de longo prazo desta, tal não seja verdade.
Um dos casos mais
mediáticos é a Venezuela, que está numa situação de hiperinflação. Mas como
chegou a este ponto? A Venezuela é dos países produtores de petróleo que tem as
maiores reservas, sendo esta a fonte mais importante de receita externa do
país. Durante anos, o negócio petrolífero foi bem-sucedido, tendo Hugo Chávez
injetado a receita do petróleo em programas de bem-estar social. Porém, em 2013,
ocorreu a morte de Chávez, sendo o seu sucessor Nicolás Maduro.
Em 2014, o preço do petróleo
caiu abruptamente, o que levou a uma queda sucessiva das receitas que, aliada a
uma desaceleração da produção, agravou ainda mais a situação económica
venezuelana. Por outro lado, o desenvolvimento industrial e agrícola do país
nunca foi alvo de preocupação por parte do governo, incluindo o desenvolvimento
da indústria do petróleo. Ocorreu a nacionalização de algumas indústrias
(cimento e aço), o que, por sua vez, levou empresas do setor privado a
substituir a sua produção por importações mais baratas. Inclusive, o governo
adotou políticas de controlo de preços, permitindo controlar a inflação artificialmente.
A conjugação das medidas
anteriores, aliada ao controlo cambial, levou a uma crescente dependência das
importações. Sendo que de modo a manter o financiamento dos programas sociais,
inicialmente pagos com o dinheiro das receitas da indústria petrolífera, o
Estado viu a sua dívida aumentar.
Em agosto de 2018, Donald
Trump, presidente dos EUA, decidiu impor sanções ao país, proibindo transações
com títulos de dívida venezuelana. Como a maior parte dos países tem relações
financeiras com os EUA, esta sanção imposta dificultou a possibilidade de
realizar novos empréstimos e também que o país conseguisse vender ativos e
renegociar a sua dívida.
Como referido
anteriormente, ao tentar supervalorizar o bolívar (moeda venezuelana), ocorreu
uma distorção do valor real da moeda, ocorrendo hiperinflação, ou seja, tornou necessário
muita quantidade de moeda para pagar produtos simples, como pão ou papel
higiénico.
Fonte:
sabado.pt
Em paralelo à crise
económica, ocorreu e decorre uma crise política. No início de 2014, decorreram
imensas ondas de violência e protestos contra o governo de Maduro, sendo que no
ano seguinte o governo perdeu o controlo do Parlamento. Em 23 de janeiro deste
ano, a crise intensificou-se com a auto-proclamação do oposicionista, Juan
Guaidó, como presidente interino da Venezuela, acontecimento muito apoiado por
Trump.
Todo este cenário
destrutivo levou à fuga dos cidadãos venezuelanos, criando uma das maiores
crises migratórias da região. Segundo dados da ONU, esta crise levou à fuga de
mais de 2,3 milhões de pessoas. Contudo, o governo declarou o fecho de certas
fronteiras, dificultando a entrada de ajuda humanitária no país, de modo a
combater a escassez de alimentos e medicamentos.
A nível internacional, em fevereiro do corrente ano, 19 países, incluindo Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino, numa declaração conjunta, com o objetivo de convocar eleições presidenciais democráticas.
A nível internacional, em fevereiro do corrente ano, 19 países, incluindo Portugal, reconheceram Guaidó como presidente interino, numa declaração conjunta, com o objetivo de convocar eleições presidenciais democráticas.
De modo a “facilitar as
transações comerciais”, a partir do dia 13 de junho foram criadas três novas
notas: 10.000, 20.000 e 50.000 bolívares (1,43, 2,87 e 7,19 euros,
respetivamente). Contudo, é de salientar que a nota de 50.000 bolívares é
superior ao salário mínimo mensal (40.000 bolívares).
O fim da crise
venezuelana ainda está longe de terminar, contudo, na minha opinião, um diálogo
com respeito mútuo com vista a uma negociação e concessões seria uma solução
possível, apesar de ser morosa e bastante complexa.
Isabel
Miranda
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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