Estamos em 2019 e como Jacinto
Ferreira (1987) escrevia no seu livro Poder Local e Corpos Intermédios: “Também
após o 25 de Abril, se tem falado exuberantemente em descentralização, mas tal
como em 1911, é tudo palavreado, inteiramente inoperante”.
Em época de eleições
legislativas é habitual ouvir os decisores políticos mencionarem termos como a
regionalização, o combate à desertificação, a interioridade, entre outros, como
bandeira política. Desengane-se quem ainda acredita que este é um tema sério,
exequível e que não pretende mais do que aumentar as nomeações de tachos e
cargos políticos através da promoção de iniciativas que em nada fomentam o
desenvolvimento local.
Na mais recente
legislatura foi possível assistir à aplicação de uma Lei que prevê a
transferência de competências para as autarquias e entidades intermunicipais,
defendida por muitos como um passo para a descentralização. Discordo e defendo
que a descentralização não pode ser a entrega ou a concessão de poder a
entidades públicas por parte do poder central.
Descentralizar deverá ser
o reconhecimento dos atributos locais. O Estado, ao invés de implementar o
regionalismo, esta função cabe ao poder local. Deve ter a função de estimular e
facilitar o desenvolvimento local, na promoção de iniciativas e igualdade de
oportunidades. E é aqui que o Estado falha.
Muito se ouve falar do
Estado Social, desse sistema político onde se procura dar a todos os cidadãos,
do litoral ao interior, um digno padrão de nível de vida. O Estado falha na
função fundamental de assegurar a igualdade de oportunidades aos cidadãos, pelo
menos aos do interior, que mesmo depois de verem identificadas 164 medidas de
apoio ao desenvolvimento do território no “Programa Nacional para a Coesão
Territorial”, continuam a assistir a que o Estado, o poder central, olhe para a
realidade do país como se de uma só se tratasse.
A exemplo:
·
A região de Bragança ficou uma vez mais
excluída do Plano Nacional de Investimentos 2030;
·
Ao concelho mais desertificado do interior
são impostos exatamente os mesmo requisitos para abertura de uma turma de
secundário que ao concelho de Lisboa. Claro está que, dada a desertificação,
existem muitos concelhos sem a possibilidade de oferecerem aos seus cidadãos este
serviço. A solução parte por não estudar ou por ter de abandonar a sua região
em busca de um futuro igual ao de tantos outros;
·
Assistimos a que apenas uma parte do país
usufrua de um passe social único, quando a outra parte do mesmo país possui apenas
um único serviço de transportes.
Segundo o Boletim
Informativo de Fundos da União Europeia, de 31 de dezembro de 2018, Portugal é
o segundo país que mais beneficia dos Fundos Comunitários, fundos esses capazes
de potencializar o crescimento e minimizar as assimetrias, fundos que se
destinam às regiões menos desenvolvidas, às regiões de baixa densidade
populacional, e que se vêm desviados para as áreas metropolitanas de Lisboa e
Porto.
Os fundos de coesão que
poderiam ou deveriam ser destinados, por exemplo, à fixação de jovens
agricultores e ao incremento do investimento privado, são investidos nas linhas
ferroviárias das já referidas áreas metropolitanas. Enquanto que a região de
Lisboa apresenta um PIB per capita comparável
com os países mais ricos da Europa, o norte e centro do país apresentam um PIB per capita comparável aos países mais
pobres.
Segundo dados da OCDE,
Portugal é um dos países mais centralistas. Na União Europeia, apenas o
Luxemburgo, a Irlanda e a Grécia são mais centralistas do que nós. Este
indicador baseia-se na percentagem de despesa pública que cada país realiza a
nível regional ou local.
Despesas públicas da administração local e regional em
% do total (2015)
As políticas económicas e
sociais aplicam-se de igual modo em todo o país. Apesar das diferenças crónicas
das diversas regiões, quer ao nível de infraestruturas quer ao nível do custo
de vida, o país continua a ser tratado como um só. Contudo, seria até injusto
acusarmos apenas o Estado da situação em que as regiões do interior se
encontram.
O desenvolvimento destas
regiões implica, além de políticas novas, agentes políticos novos capazes de
implementarem estratégias para a potencialização do crescimento económico. A
melhoria no desenvolvimento económico do interior beneficiará o desenvolvimento
do restante país.
João
Pessoa Trigo
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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