Desde do dia 4 de
junho de 2016 que o Brexit passou a ser um dos temas mais atuais e polémicos. Os
dias posteriores foram um autêntico caos, existiam pedidos para um segundo
referendo, como se tratasse de um jogo de futebol em que todos se culpavam uns
aos outros: os jovens acusavam os mais velhos, as pessoas com mais habilitações
culpavam as pessoas com menos habilitações e por aí adiante.
Assim, quem votou
na decisão de “Sair da União Europeia” e, acima de tudo, “O que levou as
pessoas a tomarem essa decisão”, passaram a ser as questões centrais.
Ao analisarmos os
resultados da votação do referendo, percebemos que o voto se dividiu por idade,
habilitações, classe social e situação geográfica. Logo, através dos resultados
estatísticos, percebemos que os jovens pouco votaram, no entanto os que votaram
desejavam permanecer na União Europeia (UE). No entanto, do outro lado da moeda
estava a população mais velha, que desejava sair da mesma.
Ao passarmos para
uma análise a nível geográfico percebemos que Londres e a Escócia foram os
zonas onde a população mais “lutou” para permanecer na UE, enquanto que noutras
zonas existiu uma ambivalência bastante notória. Para além disto, os dados
permitem ainda concluir que as pessoas com maior nível de formação, votaram de
forma mais notável contra o Brexit, comparativamente às pessoas com menos
habilitações. Todavia, os estudos também demonstraram que as regiões que mais
votaram a favor da saída da União Europeia são aquelas que mais dependem
economicamente da mesma, o que nos faz refletir sobre os motivos efetivos que
levaram essas populações a votarem dessa forma.
Ao observarmos os
motivos dos “Leavers” (população que deseja sair da UE) percebemos que algumas
pessoas tomaram essa decisão devido ao descontentamento com a política da
altura, ou seja, foi um voto de contestação ao sentirem que ninguém os
representava e que não existia um partido que falasse por eles, tal como
aconteceu no Brasil aquando da eleição de Jair Bolsonaro e nos EUA com Donald
Trump.
O nome do atual
presidente americano voltou a surgir, curiosamente, como uma referência quando
se começou a perceber as ilegalidades que foram cometidas durante a campanha do
referendo, devido a algumas semelhanças entre as campanhas. Através da análise
da “campanha Leave”, percebemos que foram usadas ferramentas de ódio e medo,
maioritariamente via online.
Foram diversas as
ilegalidades cometidas durante a campanha do Brexit, sendo que uma delas esteve
relacionada com o plafond da
campanha. O Reino Unido tem leis sobre a quantia máxima permitida para uma
campanha e dias antes da votação a “campanha Leave” excedeu o plafond legal em cerca de 750 mil libras.
Com este dinheiro ilegal criou notícias falsas, nomeadamente sobre a Turquia e
a imigração, que foram propagadas apenas a um grupo restrito da população
considerado influenciável. Contudo, uma das maiores ilegalidades foi cometida
através de uma empresa chamada Cambridge
Analytica. Esta empresa possuía o perfil político de cerca de 87 milhões de
pessoas, recolhido ilegalmente no Facebook,
o que permitia perceber os seus medos individuais para as atingir com anúncios
falaciosos nesta rede social.
Deste modo, é possível pensarmos que esta fraude foi
apenas “dinheiro mal gasto” e que foram apenas uns “anúncios online”, porém esta foi a maior fraude
eleitoral nos últimos 100 anos na Grã-Bretanha, numa eleição única para a
nação, que foi decidida por apenas um por cento dos votos. E se há algo que a
eleição para o referendo veio comprovar foi que a democracia liberal foi
viciada, mais concretamente que o Facebook
deixou viciar, uma vez que não é democrático espalhar mentiras financiadas por
dinheiro ilegal, cuja origem é desconhecida.
Em jeito de conclusão, penso que a democracia é um dos
bens mais preciosos que possuímos e que, por vezes, a tomamos como garantida e
inevitável. Considero que é nosso dever lutar pela mesma e que parte dessa luta
passa por não deixar que empresas com influência global possam ser controladas,
ou não punidas. A eleição do Brexit, cujo resultado eleitoral afeta o mundo e
não apenas um país, demonstrou que já não se trata de apenas “esquerda” ou
“direita”, “sair” ou “ficar”, mas sim de termos eleições livres e acima de tudo
justas. Trata-se de a decisão final ser do povo e não de quem mais contornou as
regras. Trata-se da forma como lidamos com a situação: se não fazemos nada e
continuamos a brincar com os nossos telemóveis, ou se lutamos pelos nossos
direitos e exigimos mudanças.
Ana
Catarina Silva
[artigo de opinião
produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do
3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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