sexta-feira, 11 de outubro de 2019

Desafios da automação

À medida que a tecnologia avança, o mercado de trabalho se transforma. Com a automação de funções realizadas por trabalhadores vindo de forma ainda não familiar, surge a preocupação de como seremos afetados pelo surgir de novas máquinas, assim como a preocupação de como irá funcionar o mercado de trabalho do futuro.
É claro, o processo de automação de atividades humanas não é algo novo, porém nessa era da informação na qual vivemos a maneira como ela se dá parece ser diferente. Dessa vez, não são apenas os trabalhos manuais de baixa renda que estão sob “ameaça” da automação, mas também aqueles que se encontram no nível de média renda, como posições de funcionários de escritório. Há relatórios que sugerem que quase 50% dos empregos nos Estados Unidos estão sob o risco da automação, enquanto no Reino Unido esse número está em 35%. Mas nos países em desenvolvimento o valor sobe para dois terços dos trabalhos.
Na história, vimos casos quando a automação tomou muitos trabalhos de baixa renda, porém muitos trabalhos de renda mais alta foram criados em resposta. As máquinas que substituíam os trabalhadores precisavam ser projetadas, e depois necessitavam de manutenção. Porém, com o foco em eficiência e inferiores custos vistos na era da informação, menos trabalhos estão sendo criados do que seria necessário para manter um equilíbrio.
Uma coisa precisa ser esclarecida: a automação não significa exatamente a extinção da função do trabalhador. Muitas vezes, o que realmente acontece é que uma máquina irá complementar os trabalhadores, tirando a necessidade de eles fazerem um trabalho repetitivo, o qual a máquina realiza de forma muito mais eficiente. Isso permite aos empregados focarem-se nas partes mais proveitosas do trabalho, não apenas onde eles são mais produtivos, mas também onde eles se sentem mais realizados ao trabalhar.
Com isso, as capacidades humanas que não podem ser espelhadas por robôs com a tecnologia atual são a caraterística principal dos trabalhos que não estão sob grande ameaça da automação, derivando daí também as exigências esperadas dos trabalhadores futuros que irão conviver com inteligências artificiais e um novo ambiente no mercado de trabalho. Competências sociais, interpessoais e criatividade serão as maiores demandas para os trabalhadores.
Mas as mudanças vêm rapidamente no século XXI, de tal forma que o mercado de trabalho previsto nesse mundo de máquinas pode chegar mais cedo do que os trabalhadores estarão preparados para que tal aconteça. Então surgem as questões de como lidar com os trabalhadores que de fato não conseguirem escapar da automação. Por exemplo, motoristas de camião que não têm um alto nível de educação, para onde irão se os camiões passarem a serem dirigidos automaticamente? Sob quem cairá a responsabilidade de tratar dos trabalhadores que ficarem sem lugar devido as mudanças muito rápidas? Existem múltiplas alternativas a serem consideradas para seguir em frente.
Primeiramente, seria responsabilidade das empresas prover aos trabalhadores que terão suas funções extintas um treinamento para se inserir de volta ao mercado? Mesmo que isso fosse feito, não se pode acreditar que seria completamente efetivo, especialmente considerando trabalhadores com funções manuais com baixa educação, ainda mais nos países em desenvolvimento, onde eles estão sob maior risco.
Considerando ainda a educação, o sistema atual também precisa de mudanças para adequar as novas e futuras gerações ao cenário que elas enfrentarão, preparando os estudantes com as competências que serão requeridas no mercado. Isso reflete o fato que, para adaptar ao futuro que chega a passos largos, nossa visão da sociedade, assim como a relação estudo/trabalho terá de mudar.
A visão atual que separa o trabalho do estudo não será a mais apropriada, pois a dinâmica imposta pelo mundo no qual a informação viaja rapidamente e a tecnologia evolui constantemente exige constante melhora. Não será possível, no futuro, manter a visão de que aqueles que trabalham não precisam mais estudar.
Com um sistema no qual a demanda por trabalho diminui, com funções extintas e/ou reduzidas, e sem um número suficiente de funções novas sendo criadas, deve-se esperar uma queda na renda da população. Para sustentar isso, uma hipótese discutida é a renda básica universal, assim como taxações dos próprios robôs que substituirão os trabalhadores. Essas hipóteses vêm da expectativa de que, mesmo com as mudanças anteriores ocorrendo, ainda haverá falta de empregos para a população.
Com a chegada do futuro, muitos desafios se apresentam, porém muitas oportunidades também. Afinal, o progresso tecnológico é inevitável, e seus efeitos são vistos de forma benéfica pela humanidade. Não há uma resposta definitiva para o que deve ser enfrentado, porém a necessidade de preparar a sociedade para enfrentar esses problemas está cada vez mais perto.

Pedro Antônio Rocha Giuffrida


[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]

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