Atualmente,
a utilização de cartões bancários é uma das formas de pagamento mais utilizadas
no mundo. Nesse seguimento, as instituições financeiras criaram vários tipos de
cartões para facilitar a vida aos seus clientes e um deles foi, precisamente, o
cartão de crédito. Um cartão de crédito permite que o seu titular faça compras
sem a necessidade de ter o dinheiro na conta.
Este
método de pagamento veio facilitar as compras às pessoas pois, mesmo não tendo
o dinheiro, podem fazer aquela compra que tanto querem ou simplesmente um
impulso de última hora, ou seja, “Não deixe para amanhã o que pode comprar
hoje!”. De facto, as instituições bancárias promovem este tipo de consumo que,
no fundo, é nada mais nada menos que a criação de dinheiro irreal. É, por isso,
um adiamento do pagamento pelo usufruto de uma compra mais cedo. Realmente,
esta ilusão de que é só comprar e pago mais tarde é de facto um risco para
muitas pessoas, pois é preciso saber-se as condições do cartão e se efetivamente
se consegue pagar aquele montante em falta. Por outro lado, tem muitas
vantagens e um cartão deste tipo, usado com consciência, pode ser um grande
aliado.
O
Banco de Portugal publicou recentemente a Sinopse de Atividade de Supervisão
Comportamental referente ao 1º semestre deste ano e apurou que foram abertos
743287 novos contratos de crédito aos consumidores, o que representa uma
diminuição de 3,3% face a 2018. Destes novos contratos, foram iniciados 318304
processos PIERSI (procedimento extrajudicial de regularização de situações de
incumprimento), envolvendo 268425 contratos de crédito, o que resulta numa
dívida de 614,7 milhões de euros. Estes números indicam um aumento de 6,7%
relativamente ao semestre anterior.
A
maioria dos contratos de crédito aos consumidores foram os créditos revolving (cerca de 77%), as dívidas de
cartões de crédito (58,3%), o crédito pessoal (16,9%) e o crédito automóvel
(6,2%). Quanto à resolução das situações de incumprimento, foram regularizados
44,8% dos processos, acima do semestre anterior (41,4%). As soluções
encontradas para regularização dos mesmos são, preferencialmente, a
renegociação do contrato, o refinanciamento da dívida e a consolidação do
crédito.
Esta
tendência de aumento de crédito reflete uma conjuntura económica mais favorável
e um índice de uma recuperação e de uma confiança nos bancos por parte dos
portugueses. As taxas de juro baixas também têm ajudado a que as pessoas
recorram a este tipo de créditos, nomeadamente, créditos pessoais (férias,
saúde, educação, compra de equipamentos, entre outros) e ainda a cartões de
crédito.
A
constante propaganda a que as pessoas estão sujeitas relativa aos créditos concedidos
pelos bancos ou outras instituições e a sua fácil acessibilidade são fatores
importantes para o aumento dos pedidos de crédito. Hoje em dia, não precisamos
de ter o dinheiro para comprar o quer que seja, apenas precisamos de um empréstimo
para adquirir o que queremos e mais tarde pagamos, de várias formas,
nomeadamente de forma faseada. Em tempos de crise, a desconfiança nos bancos e
o receio do futuro fez com que houvesse cautela tanto nos pedidos como na sua
concessão, no entanto um dos motivos da crise foi precisamente esse, os
créditos e seus incumprimentos.
Neste
seguimento, a questão que se impõe é: “Este aumento dos créditos não será um
indicativo que as instituições têm de abrandar no que toca à sua concessão?” Pois,
nos últimos anos temos vindo a assistir a uma recuperação da economia, a números
que são orgulhosamente exclamados pelo governo que revelam, efetivamente, que a
economia cresce a um bom ritmo. Por
isso, as pessoas sentem-se mais confortáveis com as suas posições económicas e
de uma forma ou outra voltam a repetir alguns “hábitos” pré-crise, em vez de se
acautelarem e de se resguardarem para que situações de incumprimento não
aconteçam. Importa não entrar em consumismos exagerados nem recorrentes, pois
podem ter bastantes implicações.
Ana
Catarina Silva Freitas
[artigo
de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e
Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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