Poupar
é a palavra de ordem de muitas famílias, mas nem todas têm a capacidade ou
agilidade financeira para o fazer.
Ao
longo dos anos, a taxa de poupança dos portugueses tem diminuído. Em 1995, as
pessoas poupavam 14,8% daquilo que ganhavam e, em 2018, este valor é de apenas,
aproximadamente, 6,9%. Situando Portugal na conjuntura europeia, somos o 18º
país que poupa mais, sendo que à nossa frente encontram-se países como o Reino
Unido, Luxemburgo, Alemanha, Países Baixos, entre outros. Contudo, existem
países que poupam ainda menos que Portugal, tal como a Lituânia, a Grécia, a
Roménia. Os romenos são aqueles que menos poupam dentro da União Europeia,
chegando a apresentar taxas negativas na casa dos 9%.
Em
2017, a taxa de poupança das famílias portuguesas foi de 4,7% do rendimento
disponível, a mais baixa desde 1995. O Banco de Portugal aponta alguns fatores
que poderão justificar os baixos níveis de poupança, como a redução da
desigualdade na distribuição do rendimento, o acesso mais fácil ao crédito e o
aumento do consumo.
Apesar
do rendimento das famílias ter aumentado, as pessoas acabam por não poupar
tanto dado que preferem usar o dinheiro na aquisição de bens e serviços. O
consumo das famílias aumentou bastante nos últimos 23 anos, com apenas uma ligeira
redução verificada em 2009, por causa da crise, mas em alguns anos já foi
possível voltar aos valores de consumo vivenciados antes da crise financeira.
O
consumo tem aumentado, isso é um facto, mas creio que seja importante perceber
em que tipo de categorias se deu esse aumento. O gráfico apresentado permite
analisar esta questão. A categoria “Alimentação, bebidas e tabaco” aumentou de
3.889,5€ em 1995 para 6.477,3€ em 2017, ou seja, as pessoas conseguiram aumentar
o consumo nesta categoria em 66,5%. Para além disso, uma categoria que pode
contribuir para analisar se o bem-estar dos portugueses aumentou é “Hotéis e
restaurantes”. Esta categoria sofreu uma variação de 126% entre 1995 e 2017,
sendo que o valor verificado em 2017 foi de 4.228,1€, comprovando que o estilo
de vida dos portugueses melhorou dado que conseguem dispensar mais dinheiro
para lazer e bens de luxo.
O
European Payment Consumer Report 2018
relata que nos últimos anos a percentagem de europeus que acha que é aceitável
comprar bens como televisões e computadores fazendo um crédito ou com dinheiro
emprestado tem aumentado. Os europeus parecem não se importar em viver acima
das suas possibilidades, porque 16% da população considera aceitável realizar
um crédito ou usar dinheiro emprestado para fazer uma viagem, sendo que esta
percentagem tem vindo a aumentar nos últimos anos.
Ainda
no European Payment Consumer Report,
em relação a Portugal, à pergunta “Porque é que não pagaram as contas a tempo?”,
38% dos inquiridos responderam que não tinham dinheiro para o fazer, sendo de
realçar que este valor diminuiu face ao ano anterior. Contudo, facilita a
perceção do porquê dos portugueses não pouparem, dado que parecem gastar mais dinheiro
do que o que recebem.
Os dados apresentados parecem reforçar
um dos pontos mencionados pelo Banco Portugal como justificação para a redução
da taxa de poupança, o fácil acesso ao crédito tem permitido a muitos
portugueses, os mesmos que responderam que sim às questões anteriores, viver acima
das suas possibilidades, realizando créditos e gastando o dinheiro que não é
seu.
Os
portugueses não parecem estar muito preocupados com a poupança ou com futuro. Estão
mais interessados em aproveitar o presente e em consumir hoje. Um estilo de
vida melhor e o consumo de bens de lazer tem sido prioridade na vida dos lusitanos,
vivendo, se necessário, de créditos bancários. Esta foi a mentalidade que se
instalou em Portugal: viver com mais do que o que se tem. Resta, por fim, perceber
se isto veio para ficar e até quando vai ser sustentável.
Rita Mesquita
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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