Segundo a
Comissão dos Direitos Sociais, Económicos e Culturais das Nações Unidas, a pobreza
pode ser definida como uma “condição humana caraterizada pela privação
sustentada ou crónica de recursos, capacidades, escolhas, segurança e poder
necessários para o gozo de um adequado padrão de vida e outros direitos civis,
culturais, económicos, políticos e sociais”, ou seja, de uma forma mais simples,
poderíamos dizer que a pobreza é a privação das condições básicas para termos
acesso a uma vida digna.
No seio
da União Europeia (UE), a pobreza é normalmente medida em função dos limiares
de pobreza monetária relativa, o que implica calcular os rendimentos médios
equivalentes dos agregados familiares de um determinado país. A linha da
pobreza é, pois, estabelecida e corresponderá a uma percentagem desse
rendimento médio. Na UE, considera-se que uma pessoa se encontra “em risco de
pobreza” quando os seus rendimentos são inferiores a 60% do rendimento médio
por agregado familiar do respetivo país.
No dia 17 do mês de outubro,
celebrou-se o Dia Internacional para Erradicação da Pobreza e há motivos
para celebrar. O Inquérito às Condições de Vida e Rendimento, realizado em 2018,
sobre rendimentos do ano anterior, indica que 17,3% da população estava em
risco de pobreza, em 2017. Pelos cálculos do Instituto Nacional de Estatística
(INE), era pobre quem auferia um rendimento anual inferior a 5607 euros (467
euros por mês). A taxa de 17,3% representa o nível mais baixo desde 2003, ano
em que o Instituto Nacional de Estatística começou a tratar este indicador,
anunciando na altura uma taxa de 20,4%. Desde então, os valores foram descendo,
paulatinamente, no sentido de uma convergência com a União Europeia. Em 2008,
Portugal exibia uma taxa de 17,9%, no entanto, com a crise,
a taxa voltou a subir – chegando a alcançar os 19,5%, em 2013.
É de destacar que, a amenizar este número recorde, encontram-se as
prestações sociais, como pensões, subsídio de desemprego e rendimento social de
inserção. Se estas não existissem a proporção de pessoas em risco de pobreza
seria de 45%. É de salientar, também, que a maior taxa de risco de pobreza
antes de transferências sociais por grupo etário se verifica na população com
65 anos ou mais. Em 2017, a taxa fixava-se nos
89,7% neste grupo, mostrando a sua dependência das transferências sociais. De
notar que, mesmo após as transferências sociais, 17,7% da população com 65 anos
ou mais vivia numa situação de pobreza naquele ano. Mas são as crianças e os
jovens até aos 18 anos que continuam a ser, efetivamente, o grupo populacional
mais afetado pela pobreza, nomeadamente pela pobreza monetária, ou seja, que
vivem em agregados familiares cujo rendimento ‘per capita’ é inferior a 60% da
mediana do rendimento nacional ‘per capita’, apresentando uma taxa de risco de
pobreza de cerca de 19% após transferências sociais.
Comparativamente aos 28 países da UE, Portugal está pior do que a média dos
seus parceiros comunitários, com apenas dez países a apresentar piores
resultados. Considerando os três elementos que definem o risco de pobreza, o
Eurostat indica que 16,9% da população da UE estava em perigo mesmo sendo
beneficiária de subsídios sociais (17,3% em Portugal), 5,8% estava em risco de
privação material severa (6,0% em Portugal) e 9,0% vivia em agregados
familiares com baixa intensidade de trabalho (7,2% em Portugal).
É certo que a trajetória recente é bastante positiva, devendo-se em
grande medida à recuperação económica do país, à queda do desemprego e ao
crescimento económico. Deve-se, igualmente, a uma preocupação acrescida das
políticas públicas com as questões sociais, bem como a preocupação de priorizar
o crescimento dos rendimentos das famílias de menores rendimentos. No entanto, estes novos indicadores não podem relativizar
a ideia de que Portugal continua a ser um dos países com maior pobreza e com
maiores níveis de desigualdade na Europa. É quase impossível não ficar
arrepiado com a realidade de um país onde duas
em cada dez pessoas são pobres e, se não fossem os apoios públicos
para combater a pobreza, quatro em cada dez estariam em situação de
pobreza.
Mas a questão que se põem é se a pobreza é uma inevitabilidade? Na minha
opinião, o nosso mundo atingiu níveis de desenvolvimento científico e
tecnológico capazes de garantir um combate eficaz à pobreza e às desigualdades.
Falta, no entanto, o mais importante: garantir uma economia capaz de responder
às necessidades das pessoas e políticas públicas que tenham coragem de fazer a
redistribuição de riqueza necessária. As políticas públicas e a sociedade no
seu conjunto ainda têm um longo caminho a percorrer para construir uma
sociedade mais coesa, socialmente mais justa, com menos pobreza e desigualdade.
Sara Vieira Ribeiro
[artigo de opinião produzido no âmbito da unidade curricular “Economia Portuguesa e Europeia” do 3º ano do curso de Economia (1º ciclo) da EEG/UMinho]
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